sexta-feira, 10 de julho de 2015

Maravilhosidades na FLIP 2015


Semana passada, eu estava na FLIP (Festa Literária Internacional de Paraty). Foi a primeira vez que fui e, cara, que dias maravilhosos. No meu mundo ideal, todo dia seria FLIP.

Vou compartilhar aqui essa experiência.

(Preparem-se para um post enorme)

Cheguei lá na quarta. Primeira coisa que me fez dar pulinhos foi ver que a Livraria da Travessa estava vendendo livros ao lado da tenda principal. Como estudante de editoração que sou, já quis logo ver todos os livros e edições. Não rolou.

A quinta começou com uma mesa na Casa da Cultura com o Luiz Ruffato e o João Anzanello Carrascoza com o tema "A origem das histórias". Confesso que fui mais pelo tema do que pelos dois escritores.

Já tinha ouvido falar do Luiz Ruffato por causa de Eles eram muitos cavalos, que tem a temática de São Paulo e tals, mas nada além de "ah, cara legal". Mas, gente, ele é muito legal. Pensa naquela pessoa que só falando já parece literatura. Ele contando as histórias da infância, eu conseguia ver a cena na minha frente. Ele também é muito engraçado.


(Sim, estou ilustrando post com tweets meus. Pra alguma coisa eles têm que servir)

O Carrascoza eu não sabia quem era até ele mostrar seu livro Caderno de um ausente. Aí foi "aaah, ele é o autor desse livro". A propósito, é um livro com um projeto editorial bem interessante.

Carrascoza mostrou dois vídeos de uma coletânea de microcontos que vai lançar com o Itaú Cultural. Cada microconto tem menos de 140 caracteres (uma referência ao twitter). Achei tão legal que vou deixar os dois vídeos aqui.



Depois fui assistir uma mesa sobre a lei do preço fixo do livro. Chego lá e vários caras importantes do mercado editorial. Pra ter noção, os palestrantes eram os presidentes do SNEL (Sindicato Nacional dos Editores de Livro), da CBL (Câmara Brasileira do Livro), da IPA (International Publisher Association) e do BIEF (Escritório Internacional da Edição Francesa).

Eu não sabia quem eram os palestrantes, então tive um momento "noooooossa".

Aí o cara fala com a maior naturalidade: "Tô vendo várias pessoas do mercado editorial aqui. Pedro Herz da Livraria Cultura". E eu pessoa que ainda está na faculdade de editoração super "isso é tão legal!".

Depois era hora de ver minha primeira mesa da programação principal da FLIP. Era "A poesia em 2015". Sendo mais uma vez sincera, eu não conhecia os dois poetas convidados: Matilde Campilho e Mariano Marovatto. Mas fui assistir porque curto poesia.

Gente, como a Matilde Campilho é uma pessoa maravilhosa. Pensa numa pessoa que, quando fala, já parece uma poesia.


Ela foi aplaudida várias vezes no meio da fala.

Vou deixar aqui um vídeo dela declamando Roma amor (um dos poemas de seu livro Jóquei) na mesa.

Antes tem o Mariano lendo poemas de seu livro Casa. Se não quiser ver tudo, pula logo pra Matilde.


O que achei legal também é que Jóquei foi o livro mais vendido da FLIP. Legal por dois motivos:

1) por ser um livro de poesia;
2) por ser um livro escrito por uma mulher.

Teve G1 fazendo notícia escrota.


Mas também teve povo do twitter respondendo.




Uma frase da Matilde que eu gostei muito foi quando ela disse que tá tudo arrebentado seja no mundo, seja na vida das pessoas. A poesia não conserta isso, mas salva o minuto.

À noite teve um sarau com a Elisa Lucinda em uma capela. Tinha 80 senhas pro sentado e 30 pro em pé. As primeiras 80 esgotaram em menos de 10 minutos. Eu fiquei uma hora na fila pra conseguir uma das outras 30.

Foi tanta gente querendo assistir que, no final, decidiram fazer duas sessões.

Eu ainda tive sorte porque consegui um espacinho em um banco. E aconteceu a coisa mais aleatória da vida. Sentei do lado de uma moça da Inglaterra e, conversando, ela pegou o panfleto do evento e mostrou o nome dela. A moça é uma poetisa que veio pra FLIP fazer uma performance poética.

Acho que nunca mais sento do lado e troco ideia com uma poetisa inglesa convidada pra se apresentar na FLIP.

Lucinda se apresentou com um poeta inglês: Lemn Sissay.

Vou deixar um vídeo curto dele declamando caso alguém queira ver.


Elisa Lucinda escreve poesia, canta e é atriz. Quase nada.

Na bienal do ano passado, ela declamou uma poesia sobre uma geladeira. Tipo, a mulher é tão incrível que pode fazer uma poema sobre uma geladeira e todo mundo curtir.


Também vou deixar ela um vídeo dela declamando uma de suas poesias mais conhecidas: Aviso da lua que menstrua.


Isso tudo foi a quinta.


A sexta começou com uma mesa da programação principal: São Paulo! Comoção de minha vida. Era uma mesa pra falar da relação do Mário de Andrade (homenageado dessa edição) com a cidade de São Paulo.

Teve uma pergunta da plateia sobre "o que Mário de Andrade diria sobre os livros de colorir?". Só queria dizer: galera, segurem essa obsessão com os livros de colorir. Deixa o povo lá feliz colorindo.

O que me irritou nessa mesa foi como os caras passaram tempão falando de Oswald de Andrade, Paulo Prado, Carlos Drummond de Andrade e ignoraram Anita Malfatti e Tarsila do Amaral. Quando citaram a Anita foi só pra dizer como Oswald, Mário e Paulo a defenderam das críticas do Monteiro Lobato.

Aí eles foram falar sobre o Ciccillo Matarazzo. Porque ele fez o MAM (Museu de Arte Moderna), o TBC (Teatro Brasileiro de Comédia), a Vera Cruz e criou a Bienal de Arte. Só esqueceram do fato de que ele não fez isso sozinho. Yolanda Penteado tava lá. Quando citaram ela, foi uma coisa "ah, verdade, teve uma ajudazinha dela".

Pensa como eu saí irritada dessa mesa.

Mas logo depois, estava andando pela rua quando vi a Jout Jout. Fui lá fangirlizar e consegui uma foto!


Ela é tão legal!

E o namorado dela é real. Já posso dizer que vi Caio.

(Pra quem não sabe do que eu to falando, pode acessar o canal dela aqui)

Agora preciso fazer um parêntesis para contar uma história.


Parêntesis:

Esse ano a FLIP trouxe o escritor queniano Ngugi Wa Thiong'o. Eu estudei sobre esse homem na faculdade e preciso compartilhar com vocês.

O trecho a seguir é do livro Comunicação e identidade (Luís Mauro Sá Martino):

"Ngugi Wa Thiong'o é um dos mais importantes escritores africanos. Além da literatura, dedica-se a um trabalho de reflexão sobre as condições da língua e da cultura da África a partir de um ponto de vista pós-colonial, e procura compreender em quais condições é possível produzir uma escrita e uma cultura original depois de séculos de domínio estrangeiro. E, em Descolonizing the mind, faz uma análise dos esfeitos do colonialismo sobre a cultura, a mente e o sistema de pensamento das ex-colônias.
O livro, escrito originalmente em inglês, representa o adeus de Wa Thiong'o a esse idioma: a partir daí, só escreveria em sua língua natal, gikuyu, idioma originário do Quênia. Acadêmico reconhecido internacionalmente, com cátedra em escolas europeias e universidades norte-americanas, a decisão de Wa Thiong'o surpreendeu seus colegas e provocou reações contraditórias, da perplexidade à hostilidade declarada. No entanto, como explica no livro, a decisão foi a consequência lógica de sua convicções políticas: qual o sentido de escrever em inglês, língua outorgada pelo colonizador, quando sua língua materna e maneira original de expressão era o gikuyu?"
Por essa decisão de só escrever em gikuyu, Ngugui chegou a ser preso. Além de sua obra passar a ter uma circulação mais restrita. Mas continuou com suas convicções.

Não sei vocês, mas eu achei esse escritor incrível.

Fim do parêntesis.


A mesa "Escrever ao sul", da qual Ngugui participaria, era a que eu mais queria ver na FLIP. Mas os ingressos esgotaram em menos de 24h.

Cheguei antes do horário da mesa e entrei no que eles chamam de fila do último minuto. Caso sobre algum lugar dentro da tenda, você pode conseguir um ingresso.

Quando aconteceu a coisa mais aleatória da vida. Uma moça apareceu, perguntou se eu queria ingresso e me deu os dela DE GRAÇA.


Moça, se um dia ler isso, obrigada por ser tão maravilhosa.

Vou deixar vídeo do Ngugi falando na mesa "Escrever ao sul" sobre seu livro Um grão de trigo.

Antes dele, tem o Richard Flanagan falando sobre O caminho estreito para os confins do Norte.


Isso foi a sexta.


Sábado fui ver uma mesa com David Hare. Continuando a sinceridade, descobri quem ele era apenas na fila pra entrar na tenda.

Para quem não sabe, David Hare é um reconhecido dratamurgo inglês. Ele escreveu o roteiro dos filmes As horas e O leitor.

Fica aqui um trecho da mesa com ele.


Mais tarde, fui pra Casa Rocco para o debate "Ocupação do espaço literário: autores e personagens fora do padrão". Por apenas um motivo: Aline Valek, uma escritora de quem sou fã confessa, estaria lá.

No final, consegui tietar a Aline e tirar uma foto com ela <3


Se hoje eu sou feminista, parte devo aos textos dessa moça.

Aline tem uma newsletter que pode ser assinada de graça aqui. Eu sempre recomendo.

Sobre sua experiência na FLIP e a representação feminina na literatura, Aline escreveu aqui.

No final do dia, consegui ingresso pra outra mesa que eu queria muito ir, mas tinha esgotado em menos de 24h. A mesa "Desperdiçando verso", com a Karina Buhr e o Arnaldo Antunes (que eu achei que fosse o Guilherme Arantes).

Os micão que a pessoa paga

Mas eu estava lá por causa da Karina mesmo, então, dane-se Arnaldo.

Foi uma das mesas mais legais.

Karina canta, escreve, toca e desenha. Tipo, humilha.

Depois da mesa, teve sessão de autógrafo com eles. Fiquei umas duas horas na fila pra Karina assinar meu exemplar de Desperdiçando rima. Não me arrependo.

Ela é super simpática e achou meu nome bonito (pelo menos é o que diz a dedicatória).

Os micão de escrever o nome errado

E fazia um desenho pra cada pessoa junto com a dedicatória.


Trecho da mesa "Desperdiçando verso" aqui embaixo.


Isso foi o sábado.


No domingo, meu dia começou com coisa aleatória. Conversando com um senhor, ele perguntou se eu queria um exemplar do livro dele. E assim eu ganhei um exemplar de A representação do escritor em O Resto é Silêncio de Erico Verissimo.

Assisti uma mesa sobre literatura policial com a Sophie Hannah e o Leonardo Padura. Depois, entrei na fila pra eles assinarem meus livros.

Quando chegou minha vez, falei pro Padura que ele era muito fofinho. Ele me olhou com cara de ??? e só respondeu "Gracias". Sim, não tenho nenhum comentário literário mó legal pra fazer pro cara.

Pra Sophie, falei "Miga, cê é destruidora". Ela "Thank you".

Depois desse momento interagir com autores, fiquei uma hora e meia do lado do camarim esperando o Ngugi Wa Thiong'o aparecer para a última mesa e pedir pra ele assinar meu livro.

Falei que tinha estudado sobre ele, que tinha mó admiração e o negócio todo. Ele respondeu com "Thank you". Quase BFFs a gente.

Ainda tirei uma foto dele com duas meninas que estavam trabalhando no evento.

E o mais importante: consegui a assinatura.

Prova de que eu consegui

Pra encerrar, assisti a tradicional mesa "Livro de cabeceira", que encerra a FLIP todos os anos. Nela, cada autor lê um trecho de um livro que levaria pra uma ilha deserta.

Achei legal que o Richard Flanagan (autor australiano) leu um conto do Guimarães Rosa: A terceira margem do rio.

Também achei simbólico a Ayelet Waldman ler um trecho de Um teto todo seu, da Virginia Woolf, em uma FLIP que foi criticada por trazer poucas autoras mulheres. 





Sem falar que em 13 edições a FLIP só homenageou uma mulher: Clarice Lispector.

Por isso, urrei um pouco quando Ayelet começou a ler.

E isso foi o domingo.


Saldo de livros da FLIP


1) Sonhos em tempo de guerra, de Ngugi Wa Thiong'o
3) Jóquei, de Matilde Campilho
4) Hibisco roxo, de Chimamanda Ngozi Adichie
5) A vítima perfeita, de Sophie Hannah
6) O rabo da serpente, de Leonardo Padura
7) Agora aqui ninguém precisa de si, de Arnaldo Antunes
8) Desperdiçando rima, de Karina Buhr
9) Um grão de trigo, de Ngugi Wa Thiong'o


Resumindo: foi muito legal. Melhor coisa do ano até agora.

sexta-feira, 3 de julho de 2015

TAG: Livros & blá blá blá

Essa sexta estou na FLIP pirando com tantos autores maravilhosos em um lugar só e tietando muito. Por isso, fiz o post da semana com bastante antecedência e precisava de algo meio prático pra falar sobre. Decidi responder uma TAG que vi no Momentum Saga.

TAG é um tipo de post no qual você descobre minha opinião sobre várias coisas que não mudam nada na sua vida.

Vamos lá.

10) Se você tivesse o poder, qual personagem de qual livro mudaria, ressuscitaria ou faria desaparecer?

Faria desaparecer o Ricardo de Travessuras da menina má porque não teria perdido tempo da minha vida lendo a história patética dele pra um prova da faculdade.

Ressuscitaria a Ana Clara de As meninas e mudaria ela pra uma pessoa melhor que reconhece como a Lorena é uma amiga maravilhosa.

9) Se você tivesse que dividir sua alma em 7 livros, quais seriam?

Ciranda de pedra, de Lygia Fagundes Telles
Poderosa, de Sergio Klein 
A redoma de vidro, de Sylvia Plath
O pequeno príncipe, de Antoine de Saint-Exupery
Sentimento do mundo, de Carlos Drummond de Andrade
Seconds, de Bryan Lee O'Malley

8) Você já participou ou conhece algum grupo de leitura?

Já participei:
-clube de leitura do Etapa na época que eu estudava lá;
-clube de leitura da biblioteca Monteiro Lobato.

Participo atualmente:
-Clube de leitura #leiamulheres da Blooks Livraria do shopping Frei Caneca. Inclusive, recomendo. Próximo livro é Por lugares incríveis. O encontro vai acontecer dia 28 de julho e contará com a presença das meninas da revista Capitolina.


Conheço e quero participar:
-clube de leitura da biblioteca Mário de Andrade;
-clube de leitura da Casa das Rosas.

7) Você já sofreu algum tipo de bullying literário por causa de alguma obra que você gosta?

Jogos Vorazes. Já ouvi "ai mas é livro de criança, não é literatura".

Sobre Sidney Sheldon já ouvi "ai mas é best seller, não tem profundidade".

6) De qual festa ou comemoração que aconteceu nos livros que leu gostaria de ter participado?

O banquete de A festa de Babette. Só de ler a descrição da comida eu já fiquei "me convida!".

E ver aquela galera bêbada cantando e fazendo discurso improvisado seria engraçado.

5) Você considera algum livro da sua coleção um troféu? (Foi difícil conseguir ou foi uma conquista, um presente de alguém muito querido... etc.)

Vários, na verdade. Eu tenho muito apego às edições.

No momento, o que eu tenho mais carinho na minha estante é Ariel, da Sylvia Plath. Eu queria a edição revista e atualizada da Verus. Essa edição traz os poemas organizados da maneira que Plath deixou (as outras edições foram alteradas por seu ex-marido), traz manuscritos originais de alguns poemas, inclusive com correções que a autora fez, e é bilíngue.

Deu trabalho pra conseguir porque em todas as livrarias que eu ia o livro já estava esgotado. No final, consegui pela Amazon e tudo acabou feliz.

4) Qual livro você leu e gostaria de ler novamente?

Ciranda de pedra porque é meu livro favorito. Tá na lista de livros pra reler, mas sempre me enrolo com leituras novas.

3) Qual o seu maior medo no universo literário?

Talvez que livros importantes deixem de ser (re)publicados por não venderem tanto. 

2) Você gostaria que seus diários (ou suas memórias - para quem nunca escreveu um diário) fossem transcritos em um livro e publicados?

Não. Quando eu releio meu diários, a sensação é "Como eu sou ridícula, vou queimar tudo isso". Não  quero mais gente compartilhando essa sensação comigo.

1) Você já leu algum livro que mudou sua maneira de ver o mundo?

Acho que todas as distopias que li me fizeram enxergar o mundo de maneira diferente. Como 1984, Admirável mundo novo, A revolução dos bichos e Fahrenheit 451.


É isso.

Se você leu até aqui, obrigada por não ter desistido. Agora você sabe coisas inúteis a meu respeito.

sexta-feira, 26 de junho de 2015

Livro 15: Lugar de mulher - de Ana Paula Barbi, Clara Averbuck e Mari Messias


Sinopse:
"Chega de sites de mulher com dicas de como secar a barriga, como se vestir pra agradar homem, como decorar sua casa com itens caríssimos, como ser poderosa em 12 lições. Chega de 'moda' que não cabe na maioria de nós enfiada goela abaixo. Chega de regras determinando como uma mulher deve ser, se portar, falar, existir.

O Lugar de Mulher, site criado em 2014 por Ana Paula Barbi, Clara Averbuck e Mari Messias, percebeu o que muitos sites femininos ainda não perceberam: mulher não se interessa só por roupa, cabelo, maquiagem, filhos e enlouquecer seu homem em 16 passos.

Feminismo, cultura pop, corpo, sexo, política, auto-estima, consumo e muito mais você encontrará nesta linda coletânea comemorativa com textos publicados ao longo do primeiro ano de existência do site.


Porque lugar de mulher é onde ela quiser".



Minha opinião:
O Lugar de Mulher é, segundo as fundadoras, um site feminino com um filtro feminista. Ali elas falam de diversos assuntos que interessam a nós, mulheres, mas isso nem de longe é como agradar o gato ou emagrecer tantos quilos. Elas falam sobre roupas, mas também falam da importância do feminismo e de nos posicionarmos. Elas escrevem textos quebrando essa ideia de feminilidade que aprendemos desde crianças ou a ideia de que as outras mulheres são azinimiga. Os textos falam que, não, nós não precisamos agradar ninguém, sobre sororidade, sobre "mitos" relacionados a ser mulher e outras coisas maravilhosas.

Além das três fundadoras do site (e autoras do livro), o Lugar de Mulher também conta com textos de colaboradoras, como a escritora Aline Valek e a blogueira Djamila Ribeiro.

O site completou um ano no dia 28/04 e, pra comemorar a data, as três criadoras decidiram lançar um livro com os melhores textos desse um ano.

"Ai, mas eu vou pagar R$5,99 em um livro feito de textos que estão disponíveis gratuitamente na internet?"

Você pode pensar isso de algumas formas.

1) Como uma contribuição para um site que espalha amor e feminismo pela internet sem cobrar nada.

2) Como você não tem tempo de ler todos os textos publicados até hoje, pense que está pagando por uma curadoria dos melhores textos.

3) Porque é legal.

Pra dar uma amostra, vou deixar aqui o link de três textos (um de cada uma das autoras) que eu gosto e que estão no livro.

A dieta definitiva que você precisa fazer para ser feliz com seu corpo (Ana Paula Barbi)

A melhor amiga da colega é a colega (Clara Averbuck)

Diga não ao Homenzinho de Merda (Mari Messias)


Eu sou leitora do site, então acho que nem preciso falar se gostei do livro ou não.

O livro está disponível pela Amazon (aqui) e pode ser lido pelo app Kindle (tem versão pra celular e pra computador).

sexta-feira, 19 de junho de 2015

Sobre Lava e Divertida Mente



(Aviso: esse texto pode conter spoilers sobre o filme Divertida Mente e o curta Lava! Se você não quer saber o que acontece no filme ou no curta, não leia!)

Lava

Sempre antes de um filme da Pixar, há um curta. O curta da vez é Lava, que conta a história de um vulcão que quer encontrar seu verdadeiro amor e canta uma musiquinha fofa.



Não encontrei em português, mas ele basicamente canta (em tradução livre):

"Eu tenho um sonho que eu espero que se realize. Você aqui comigo, eu aqui com você. Eu desejo que a terra, o mar, o céu lá em cima me mandem alguém para amar".

Muito tempo passa e o vulcão, sem encontrar seu amor, para de soltar lava. Mas embaixo do mar tem uma vulcão que sempre escuta ele cantar. Quando ele canta pela última vez, a lava dela aquece e ela emerge pra superfície.

O vulcão vê ali a pessoa que tanto queria, mas não consegue cantar mais porque sua lava secou. Então a vulcão começa a cantar e o reacende.

Final da história: os dois juntos cantando.

Fofinho, vai.

Meu lado romântico idealizador (mals) curtiu.

Divertida Mente

O filme conta a história de Riley sob o ponto de vista dos sentimentos que a controlam dentro de sua mente: Alegria, Tristeza, Medo, Nojinho e Raiva.


Alegria lidera as outras emoções na sala de comando da mente e quer que Riley tenha uma vida completamente feliz. Isso faz com que tente manter Tristeza o mais longe possível.

Tudo começa a dar errado quando Alegria e Tristeza são expelidas para fora da sala de comando com as lembranças-base de Riley, ou seja, lembranças que contêm as principais características da menina.

Assim, Riley entra em um estado sem alegria nem tristeza (as outras três emoções não são capazes de manter o equilíbrio) e sem as características que são sua base. Visualmente, essas características são representadas por ilhas. As ilhas perdem o movimento e se tornam cinzentas, até que desabam.

Essa é a maneira que o filme aborda (para crianças) um tema extremamente complexo: a depressão.

Muita gente acha que depressão é um estado de tristeza profunda. Não, é um estado de vazio, no qual a pessoa não sente nem mesmo tristeza. Riley fica assim: vazia.

Durante a jornada para retornar à sala de comando, Alegria percebe que Tristeza é extremamente importante na vida de Riley. Tanto que quando elas conseguem voltar à sala, as duas juntas restabelecem o equilíbrio emocional da menina. 

Aqui entra uma lição bacana: a importância da tristeza. Vivemos em um contexto de felicidade compulsória, da busca por estar sempre feliz. Mas às vezes estar triste e chorar é tão importante quanto. E isso fica evidente na cena em que Riley chora com os pais colocando para fora suas frustrações. Só após isso, ela consegue se sentir feliz novamente.

Achei muito legal abordarem esses dois temas em um filme infantil e de maneira tão lúdica.

Eu esperava vários estereótipos de gênero, mas felizmente (tirando a cena da cozinha e a do garoto que deixa o copo cair) não acontece aqui. Tanto que Riley joga hóquei e mostra que lugar de mulher também é nos esportes. 

O filme conta com personagens encantadores. Tipo Nojinho e o seu jeito "eu sou a diva que vocês querem copiar".

Além disso, as explicações de como são produzidos os sonhos e de por que jingles ficam repetindo sem parar na cabeça são impagáveis.

Divertida Mente foi, com certeza, uma das melhores animações que eu já vi. Assistam.


quinta-feira, 4 de junho de 2015

Vamos falar sobre assexualidade?



Eu vejo muita gente (muita mesmo) que ou desconhece a existência da assexualidade ou entendeu o conceito errado. Visando desmistificar e/ou esclarecer do que se trata ser assexual, decidi fazer esse post. Para não correr o risco de falar besteiras, recorri a textos e vídeos feitos por pessoas assexuais que podem ser vistos nos tópicos "Vídeos" e "Links relacionados".

Não existe uma definição oficial e completa ainda sobre o que seria assexualidade. Segundo o site Comunidade Assexual A2:

"Assexualidade é uma das formas de manifestação da sexualidade humana baseada na falta de atração sexual por pessoas. Essa é uma das definições mais bem aceitas da assexualidade, entretanto, ela não abrange todas as pessoas que adotam este rótulo. Podemos dizer que esse conceito ainda está em construção e que ainda não há uma delimitação exata para toda a sua abrangência".

Ainda segundo o site:

"Assexual é a pessoa que não tem interesse na prática sexual com outra pessoa. Diferente do celibato, que é uma escolha, e do desejo sexual hipoativo, que é uma patologia, a assexualidade está atrelada à falta de interesse em relações sexuais, fato que não impede a formação de laços afetivos e românticos por assexuais com terceiros".


Alguns mitos

Primeiramente, não é uma doença. 

Segundamente, não é falta de fazer sexo ou de encontrar o parceiro ideal que vai transar tão bem que você vai começar a gostar de sexo.

Agora repita até entender.

Para ver a imagem ampliada, clique aqui

Esse tipo de fala só serve como preconceito e como forma de constranger as pessoas assexuais a respeito da própria assexualidade.


Assexual  X  Assexuado

Muitas pessoas utilizam o termo assexuado para se referir às pessoas assexuais. Esse termo é equivocado. Assexuado é aquele que não tem sexo definido ou o ser que se reproduze por bipartição. Nada a ver com os assexuais.

Assexual é a pessoa que não tem interesse em praticar sexo com outrem, como já vimos no início do post.

Basta pensar que não falamos em heterossexuado, homossexuado, bissexuado e pansexuado, mas em heterossexual, homossexual, bissexual e pansexual.

Então bora usar os termos certos?   


Subclassificações de assexualidade

(As informações presentes neste tópico foram retiradas desse artigo)

Dentro da assexualidade, existem subclassificações.

Aqui vou tratar apenas das subclassificações oficiais da AVEN - Asexual Visibility and Education Network (Rede de Educação e Visibilidade Assexual).

1) Assexual romântico: é aquele que, mesmo não se interessando pela prática sexual, pode possuir interesse romântico em outras pessoas. Pode ser heterorromântico, homorromântico, birromântico ou panromântico.

2) Assexual arromântico: aqui se enquadra o indivíduo que não sente interesse por relações românticas ou não se sente atraído romanticamente.

3) Lithromântico: esse indivíduo pode se apaixonar (como o romântico), mas não se interessa por relacionamento amorosos (como o arromântico). Aqui o sentimento fica na esfera platônica e idealizada, não se concretizando.

4) Demissexual e Gray-a 
Segundo o artigo que linkei no início do tópico: "existe confusão no entendimento entre a demissexualidade e o gray-a, pois, nesse caso, ambas as subclassificações abrangem os assexuais da área cinza, ou seja, aqueles que podem sentir atração sexual, mas que não chegam a ser sexuais como os heterossexuais, homossexuais, bissexuais e pansexuais. O demissexual é aquele que só consegue sentir atração sexual por alguém se tiver grande sentimento romântico por essa pessoa, já o gray-a pode sentir atração sexual em momentos e situações extremamente específicas, sem que essa especificidade esteja necessariamente relacionada à atração romântica".

(Existem outras subclassificações. Mas como já dito antes, falei apenas das consideradas oficialmente pela AVEN. Se quiser ver as outras, Google ta aí pra isso)

Símbolos

Para ver a imagem ampliada, clique aqui

Alguns símbolos que representam a assexualidade são: bandeira da assexualidade, o triângulo da AVEN, ás, bolo, entre outros. Está tão bem explicado nessa imagem que coloquei acima que nem vou explicar aqui. Então para de preguiça e clica ali pra ampliar a imagem.


Tentei abranger o máximo de tópicos nesse post. Se tiver mais dúvidas sobre o assunto, recomendo o FAQ da Comunidade Assexual A2 que você pode acessar clicando aqui.

Também vou deixar alguns links legais abaixo.


Vídeos

O Canal das Bee gravou um vídeo bem legal sobre assexualidade com a dona do blog Sobre o Cinza, Nathália Caldeira, que é demissexual.




Para quem entende inglês ou lê espanhol, tem o documentário (A)sexual:




Links relacionados:






Site da AVEN (em inglês)

sexta-feira, 29 de maio de 2015

Guest Post: A revolução negra e feminina da televisão norte-americana de Shonda Rhimes


Pisaremos em um terreno pertencente ao reino mainstream, e hoje vamos falar sobre uma titã da televisão norte-americana: a produtora, roteirista, executiva e mãe, Shonda Rhimes.

Negra e oriunda de Chicago, Shonda é uma mulher incisiva que iniciou sua carreira promissora trabalhando no blockbuster “O Diário da Princesa” e que acabou se tornando a primeira mulher negra a produzir uma das 10 séries mais populares nos Estados Unidos. Bacharel em Literatura Inglesa, Rhimes viu a oportunidade de levar sua mente brilhante para a rede de televisão norte-americana ABC em 2004 e iniciou a produção de Grey’s Anatomy, série de sucesso atualmente na sua décima primeira temporada. Usando seu espaço para discutir questões sérias e atuais, como a homossexualidade, a transexualidade, as questões raciais e especialmente o papel da mulher em diversas áreas, ela atingiu um público imenso e representava pela primeira vez um público negligenciado aos expectadores do horário nobre.


Entre quedas de aviões e tiroteios, Shonda Rhimes iniciou ali, com seu drama médico em 2004, uma revolução que marcaria para sempre a televisão americana. Aos poucos a produtora ganhava mais espaço, até que pôde produzir outras séries. Depois do sucesso de Private Practice (spin-off de Grey’s Anatomy, estrelado por Kate Walsh), Shonda deu um passo além, e começou a produção de Scandal, que se tornou em 2011 um divisor de águas.


Scandal, uma série sobre uma gestora de crises ex-funcionária da administração Grant baseada na lendária Judy Smith, se tornou a primeira série transmitida em horário nobre desde 1974 (quando Teresa Graves protagonizou “Get Christie Love!”) a ter uma protagonista afrodescendente. A atuação genial de Kerry Washington também a rendeu a indicação ao Emmy de Atriz Principal, algo que não acontecia a uma mulher negra desde 1995, quando a veterana Cicely Tyson (também convidada de How To Get Away With Murder, de Shonda) foi indicada por Sweet Justice.

Com um impacto tão grande, a série foi uma das grandes cartadas de Shonda e da Shondaland (sua própria companhia) para revolucionar e mudar o rosto da televisão norte-americana, que agora não era mais tão etnicamente homogêneo. Com o terreno preparado em 2004 por Grey’s Anatomy  - que trazia Sandra Oh e Chandra Wilson, não necessariamente como protagonistas, mas como complementos humanos, complexos e que representavam, de certa forma, a diversidade da população estadunidense – e o impacto de Scandal que trouxe à tona a discussão racial (mais recentemente a série lidou com o assassinato racista e covarde de um adolescente negro em Baltimore), era a hora de lançar How To Get Away With Murder, protagonizada pela indicada ao Oscar, Viola Davis, também negra.


A figura da mulher negra, sempre representada com a velha “black attitude”, alá Rochelle, agora ganhava as faces de mulheres poderosas e independentes. Mulheres que não precisavam de homens para existir. Mulheres que, independente do seu tom de pele ou da sua sexualidade, poderiam dominar o mundo. Até então isso era inédito, e agradou a população afro-americana que ansiava por ser representada em situações humanas e reais na televisão.

Atrizes negras de qualidade não são uma exceção, mas até hoje, só Halle Berry ganhou um Oscar de Melhor Atriz (principal), e só outras três foram indicadas (Gauborey Sidibe, Viola Davis e Quvenzhane Wallis), e só duas mulheres negras foram indicadas ao Emmy em toda a história do prêmio. Isso evidencia ainda mais a necessidade do trabalho inclusivo e quebrador de barreiras protagonizado pela Shondaland. Trabalho esse que não se restringe apenas às protagonistas.

Halle Berry ganhou, em 2002, o Oscar de Melhor Atriz por A Última Ceia

Uma diretora que trabalha recorrentemente com Shonda (em Scandal, especialmente) é Ava DuVernay, a (primeira mulher negra) ganhadora do prêmio Sundance de Melhor Diretora. Um de seus comentários mais frequentes é que Scandal é uma série protagonizada, produzida, dirigida e escrita por mulheres negras.

Essa parcela da população norte-americana ansiava por personagens que a representasse dignamente no horário nobre, como defendeu a autora Joan Morgan (“When Chickenheads Come Home To Roost”, um livro sobre mulheres negras e o feminismo). Eles não precisam necessariamente em séries “só para negros”. Segundo ela: “Não é que queiramos séries 'negras', mas precisamos ver séries onde mulheres negras e outras mulheres possam ser representadas menos como mulheres ou como negras, mas como quem elas são”.

Representatividade, sentir que a sua classe, ou a sua história, o seu povo, ou o até mesmo o seu grupo são bem representados. No caso da Shondaland, essa palavra já faz parte da fórmula de sucesso para as séries desde que Grey’s Anatomy contratou Sandra Oh (Christina Yang), Isaiah Washington (Preston Burke), James Pickens Jr (Richard Webber) e Chandra Wilson (Miranda Bailey) para preencher a lacuna da diversidade étnica ou fez com que Sara Ramirez (Callie Torres) e Jessica Capshaw (Arizona Robbins) se apaixonassem e se tornassem um dos casais homoafetivos mais amados da televisão norte-americana. Também tratou de diversos personagens homossexuais/transgêneros/transexuais durante suas 11 temporadas para lidar com a representatividade quase falha da comunidade LGBT que até hoje é pontilhada por estereótipos esdrúxulos destinados eternamente a plots de comédia.

Na questão LGBT, além de tratar dos seus personagens como principalmente humanos (não só pessoas restritas a sua sexualidade/identidade de gênero), Shonda os inclui em espaços diversificados. De médicas a soldados do exército americano (em referências claríssimas a política do Don’t Ask, Don’t Tell, derrubada em 2011) passando pelo monstruoso chefe do gabinete do presidente dos Estados Unidos e um estudante de direito e suas práticas não muito ortodoxas. Mas não é só a Shondaland que tem lutado pelo direito a humanidade que os personagens LGBTs (não só norte-americanos) são privados. Orange Is The New Black atua muito bem na humanização de personagens lésbicas e da transexual Sophia Burset (Laverne Cox), a primeira mulher transexual a fazer parte desse tipo de série, e uma das 100 mulheres mais influentes segundo a Forbes (2014).

Sophia Burset, interpretada por Laverne Cox

A revolução televisiva que Shonda Rhimes - a “mulher negra irada” que cria personagens problemáticas, segundo o conservador NY Times – iniciou em 2004 parece cruzar o atlântico aos poucos e atinge a Europa, mas parece incapaz de atravessar a estreita América Central e chegar a terras tupiniquins, que parecem retroceder dia após dia e que só permitiram que uma mulher negra fosse protagonista de alguma novela em horário nobre no recente ano de 2009, com a excelente Thais Araújo. Apesar de tudo, a força de mulheres como Shonda Rhimes força cada vez mais a sociedade a aceitar e incluir aqueles que ela já se acostumou a excluir com personagens como Olivia Pope, que segura a república norte-americana em suas mãos.

Thais Araujo interpretou Helena, primeira protagonista negra de uma novela da Globo no horário nobre, na novela Viver a Vida

Dada a largada, resta a Viola Davis, Kerry Washington, Laverne Cox, Ava DuVernay, a própria Shonda e todas(os/x) aqueles que “procuram seu lugar ao sol” continuarem a lutar e empurrar a visão eurocentrista e começarem a ser vistos não como “A NEGRA”, “O GAY”, “A TRANS”, mas como pessoas, que independente das suas identidades de gênero ou da sua sexualidade, ainda são pessoas e tem histórias a serem contadas, mentes para serem desenvolvidas e corações a serem tocados.

Vida longa a Shonda Rhimes! E que Meredith Grey não encontre mais alguma filha de Ellis Grey por aí.




Sobre o autor:
Thor Oliveira. Futuro relações públicas, terror dos novinhos, taurino atípico, amante de séries/drags. Sem paciência para quem está começando. Uma mistura insuportável de Fran Drescher com Jinkx Monsoon que jura que vai mudar o mundo, mas vai sim.

sexta-feira, 22 de maio de 2015

8 personagens femininas que eu curto

A representação ficcional das mulheres ainda tem que melhorar muito. Mas felizmente sempre aparecem algumas personagens femininas maravilhosas para quebrar estereótipo ou mostrar que mulheres são seres humanos e não simples objetos decorativos. Decidi listar algumas personagens que eu curto e considero maravilhosas de alguma forma. Vamos lá.

Virgínia foi interpretada por Tammy di Calafiori na adaptação (ruim) de 2006 de Ciranda de pedra

1) Virgínia
Ciranda de pedra, escrito por Lygia Fagundes Telles (amo/sou), é meu livro favorito do momento. Virgínia é a protagonista desse livro que a acompanha desde a infância até a idade adulta. Em diversas passagens, Virgínia me representa muito. As incertezas de crescer, a dificuldade de encontrar um espaço na ciranda, a paixonite platônica, a sensação de mudar e continuar sendo a mesma.

O que eu gosto em Virgínia é a maneira como ela é humana. Há momentos que o leitor sente pena e simpatia por ela. Em outros, pensa "que ser humano horrível". Não somos todos assim? Algumas vezes bons, outras não.

É uma personagem sem maniqueísmo, nem boa nem ruim, apenas tentando sobreviver a esse caos chamado vida. Se em um momento sobreviver significa manipular, ela vai manipular. E nós descobrimos ao longo do livro que até o mais santo dos personagens faz a mesma coisa, porque somos todos humanos.

(A partir daqui, spoilers!)
Depois de fazer umas merdas, Virgínia percebe que não precisa de um lugar naquela ciranda e se encontra. Percebe também que não precisa do amor de Conrado, sua paixonite de toda vida, para ser completa. A conclusão dela é a de que só precisa de si mesma. Como não amar um livro que a protagonista conclui isso?

Não significa que no final ela resolve todos seus problemas. Afinal, viver é lidar com nossas próprias questões. Ela parte para ter novas perguntas para se responder uma vez que encontrara as respostas sobre a ciranda.

Vou deixar aqui minha passagem favorita (sem spoilers):

"Chegara a pensar que Otávia estava certa, devia ser fácil desfazer-se também das sucessivas Virgínias nas quais se desdobrara desde a infância, desfazer-se da menininha, principalmente da menininha de unhas roídas, andando na ponta dos pés. Agarrar-se só ao presente, nua de lembranças como se acabasse de nascer. Via agora que jamais poderia se libertar das suas antigas faces, impossível negá-las porque tinha qualquer coisa de comum que permanecia no fundo de cada uma delas, qualquer coisas que era como uma misteriosa unidade ligando umas às outras, sucessivamente, até chegar à face atual".







2) Makoto Kino (Sailor Júpiter)
Sailor Moon como um todo é ouro puro. Tem (muita) sororidade e meninas salvando o mundo. Mas vou focar em uma personagem

Makoto Kino, chamada na versão brasileira de Lita, é minha sailor favorita. Ela é mais alta do que a maioria das meninas da sua idade, curte cozinhar e tem mil paixonites platônicas (incluindo Haruka) ao longo da história. Agora pensa na mini Lídia que era mais alta até que os garotos da sala, achava cozinhar mó legal e, super romântica, tinha mil paixonites platônicas na escola vendo essa personagem. Foi puro amor.


Além disso, Makoto é muito boa em esportes e sabe lutar caratê. O legal dessa personagem é isso: ela curte coisas domésticas como cozinhar e cuidar de uma casa, mas também ama esportes e lutar. Uma menina pode gostar das duas coisas, nada é excludente. Sem falar que ela com certeza é a sailor que mais entendeu o significado de sororidade.







3) Matilda
Quem nunca viu Matilda na Sessão da Tarde que atire a primeira pedra. Se você é do grupo que pode atirar a pedra, sai agora desse blog e vai assistir. Ainda dá tempo de salvar sua infância.

Matilda é essa garotinha fofa que adora ler e descobre ter um super poder: mover as coisas com o pensamento.



Ela tem uma família doida e estuda em uma escola com uma diretora mais doida ainda. Entretanto, tem a professora legal que a ajuda e que deixou uma mensagem para várias crianças com famílias problemáticas:

"Você nasceu em uma família que nem sempre curte você. Mas um dia, as coisas serão diferentes"

Matilda encontra conforto nos livros e foi uma personagem que me inspirou a ler cada vez mais.

"Esses livros deram a Matilda uma esperançosa e reconfortante mensagem: você não está sozinha"

Também gastei um tempo considerável de infância na frente de uma colher tentando fazer com que ela se mexesse pelo poder da mente.


Um filme para crianças sobre lidar com família problemática e a importância da leitura. Como não amar?

(Sério, quem não assistiu pode ir agora)






4) Katie
Quem nunca fez uma merda que gostaria de poder consertar? Katie, a protagonista da HQ Seconds, tem essa oportunidade após encontrar cogumelos mágicos em sua casa. Ela apenas precisa escrever o que gostaria de mudar, comer um cogumelo e ir dormir. No dia seguinte, está tudo mudado.

Entretanto, na tentativa de consertar seus erros, ela acaba piorando a situação. E cada vez que a situação piora, ela tenta consertar de novo com os cogumelos e piora mais ainda, formando uma enorme bola de neve. Mas o uso dos cogumelos tem consequências sérias que não vou contar quais são.

Katie de certa forma representa todas nós naquele momento no qual fazemos uma burrada tão grande que acabamos no chão do quarto olhando pro teto e pensando "Aff fui trouxa".





5) Cosima
Eu estou irremediavelmente viciada em Orphan Black e até pretendo escrever sobre a série depois.

Minha clone favorita é Cosima. Ela é uma cientista super inteligente. Em uma sociedade como a nossa em que as mulheres são desencorajadas a seguir carreiras científicas e enfrentam muito preconceito quando decidem seguir por essa área, é um bálsamo ver uma personagem cientista manjadora. 

Ela também quebra vários estereótipos e tem algumas das melhores falas.

Tipo quando querem implantar células-tronco de outra personagem em Cosima para ela ficar curada, mas isso ia gerar altas tretas. Cosima bate o pé e fala "É o meu corpo!", o resumo de meu corpo, minhas regras. 

"Esse é o meu laboratório, meu corpo. Eu sou a ciência. Sai daqui!"

Ou quando outra personagem pergunta se ela é gay e ela responde com "Minha sexualidade não é a coisa mais interessante sobre mim", 

"Minha sexualidade não é a coisa mais interessante sobre mim"

Uma dica de vida: assista Orphan Black.






6) Ifemelu
Ifemelu é a protagonista do livro Americanah, da diva Chimamanda Ngozi Adichie. É difícil traçar uma história para esse livro. Acompanhamos Ifemelu em vários momentos de sua vida: a adolescência na Nigéria, os anos nos Estados Unidos e a volta para seu país de origem.

O legal de Ifemelu é o quanto ela é humana. Uma personagem que faz várias merdas como qualquer uma de nós faria. Mesmo quando ela já é uma blogueira famosa, tem uns momentos "não faço ideia do que estou fazendooo". E que coisa mais humana do que ser considerada alguém que manja de um assunto e não se sentir tão manjadora? Ainda assim, ela vai lá, faz várias palestras e samba na cara da hipocrisia racial americana em seu blog.

Outra dica de vida: leia Americanah (escrevi melhor sobre o livro aqui).






7) Mulan
Praticamente todas as princesas Disney marcaram minha infância. Ariel, Bela e Pocahontas sempre terão um lugar especial no coração ainda que haja problemas em suas histórias. Hoje, porém, vou destacar Mulan.

Por que Mulan é diva?

Ela quebra o estereótipo de boa moça que vai arrumar um marido e ser feliz cuidando dele e dos filhos, mostra que pode ser tão boa quanto qualquer soldado homem, tem altas ideias estratégicas (como vestir os amigos de mulher para entrar no palácio ou usar o leque pra desarmar o huno que não lembro o nome) e salva a China.

O filme zoa o ideal de masculinidade também.


Além disso, tem o Mushu.

"Desonra pra tu! Desonra pra tua vaca!"

Mulan é um ótimo exemplo para as meninas de você pode ser incrível e pode não seguir o que os outros esperam de você.





Sally foi interpretada por Liza Minelli na versão cinematográfica de Cabaret

8) Sally Bowles
Uma mulher dona do próprio corpo, que possui personalidade e opiniões fortes e faz o que bem entende é muitas vezes tachada de louca histérica. Pode ser a reação que muitos têm ao ver Sally: "Aff que louca". A questão é que ela ta pouco se lixando que pensem isso e vai continuar sendo do jeito que é.


Sabe aquele ideal de mulher de verdade doce, recatada, imaculada? Sally sapateia em cima e diz "não preciso disso, meu amor". Todas somos de verdade, só pra ficar claro.

Então pra fechar esse post, vou deixar Sally cantando Cabaret. Aproveitem.