“Nossa se você quisesse, conseguiria estuprar uma
menina”, disse minha amiga para ele.
Ele estava em cima dela, prendendo-a. Ambos sobre
uma cama.
Tudo começara inocentemente. Eu
e minha amiga decidimos fazer uma visita ao meu vizinho, o supracitado ele, que
era nosso amigo. Nós três fomos assistir televisão no quarto dele, deitados na
cama.
Já era madrugada quando os dois
começaram a brincar: ele prendia, ela tentava se soltar. Eu adormeci do outro
lado da cama, entediada.
Acordava alguma vezes. Os dois
continuavam na mesma brincadeira, rindo. E voltava a dormir.
Quando acordei decidida a ir
embora, não havia mais risadas da parte dela. Minha amiga tentava se soltar de
verdade enquanto ele ria mais ao ver seu desespero. Nesse contexto, ela disse a
frase do início. O vizinho apenas soltou quando eu disse que nós duas
precisávamos ir embora, não sem um pouco de resistência.
Naquela época (devia ter apenas
doze anos), não liguei muito para o que tinha acontecido. Tinha sido só uma
noite uma noite entediante na casa de um amigo, na qual eu passei a maior parte
do tempo dormindo ou desejando ir fazer isso na minha casa.
Hoje, eu sei que teria reagido
diferente. Aquela cena era a síntese do que eu encontraria sendo mulher.
Bastava ele querer. E a vontade dele sobressairia em praticamente tudo.
Também sei que essa amiga até
hoje não percebeu e riria se eu dissesse o que penso para ela. É exatamente por
isso que sinto que devo dizer, até que parem de rir e ouçam: não foi uma
brincadeira inocente. Minha amiga quis parar. A partir do momento que o vizinho
não parou (e ainda riu disso!), se tornou agressão. Uma “agressãozinha” vestida
de brincadeira, dessas que a gente recebe a conta-gotas até aprender a rir
quando encontra ou vive uma. A mesma que me ensinou a rir porque ele quis.
Agora eu estou aqui dizendo:
foi agressão. Dizendo na esperança de que isso deixe de ser tratado como algo
banal e risível. Não é.
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