sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Se ele quisesse

“Nossa se você quisesse, conseguiria estuprar uma menina”, disse minha amiga para ele.
Ele estava em cima dela, prendendo-a. Ambos sobre uma cama.
Tudo começara inocentemente. Eu e minha amiga decidimos fazer uma visita ao meu vizinho, o supracitado ele, que era nosso amigo. Nós três fomos assistir televisão no quarto dele, deitados na cama.
Já era madrugada quando os dois começaram a brincar: ele prendia, ela tentava se soltar. Eu adormeci do outro lado da cama, entediada.
Acordava alguma vezes. Os dois continuavam na mesma brincadeira, rindo. E voltava a dormir.
Quando acordei decidida a ir embora, não havia mais risadas da parte dela. Minha amiga tentava se soltar de verdade enquanto ele ria mais ao ver seu desespero. Nesse contexto, ela disse a frase do início. O vizinho apenas soltou quando eu disse que nós duas precisávamos ir embora, não sem um pouco de resistência.
Naquela época (devia ter apenas doze anos), não liguei muito para o que tinha acontecido. Tinha sido só uma noite uma noite entediante na casa de um amigo, na qual eu passei a maior parte do tempo dormindo ou desejando ir fazer isso na minha casa.
Hoje, eu sei que teria reagido diferente. Aquela cena era a síntese do que eu encontraria sendo mulher. Bastava ele querer. E a vontade dele sobressairia em praticamente tudo.
Também sei que essa amiga até hoje não percebeu e riria se eu dissesse o que penso para ela. É exatamente por isso que sinto que devo dizer, até que parem de rir e ouçam: não foi uma brincadeira inocente. Minha amiga quis parar. A partir do momento que o vizinho não parou (e ainda riu disso!), se tornou agressão. Uma “agressãozinha” vestida de brincadeira, dessas que a gente recebe a conta-gotas até aprender a rir quando encontra ou vive uma. A mesma que me ensinou a rir porque ele quis.

Agora eu estou aqui dizendo: foi agressão. Dizendo na esperança de que isso deixe de ser tratado como algo banal e risível. Não é.

Nenhum comentário:

Postar um comentário