sexta-feira, 27 de março de 2015

Bota-fora Cosac Naify e outras coisas aleatórias relacionadas a livros

Semana passada, eu fui ao bota-fora da Cosac Naify (editora que eu amo/sou). Eu me perdi, não consegui almoçar, peguei uma hora de fila para entrar e mais uma de duas horas e pouco para pagar. Conclusão: cheguei 12:40 e só saí 17:20. A última vez que eu tinha comido, eram oito da manhã, então, estava quase caindo morta no chão. Andei vinte minutos carregando mil livros até chegar ao metrô (pelo menos, não me perdi dessa vez). Só pisei em casa 18:10. Tinha trabalho da faculdade para entregar no dia seguinte e nem tinha começado a fazer. Acabei 2:30 da manhã.

Tudo isso porque sou compulsiva por comprar livros. Digo comprar por que ainda não li metade da minha estante e continuo comprando.

Como eu tive um dia de merda para conseguir esses livros (até valeu, pois livros da Cosac de 89 por 10 reais), decidi falar sobre eles.

Eu comprei:


1) David Copperfield, de Charles Dickens;
2) Andy Warhol, de José C. Danto;
3) Foras da lei..., de vários caras;
4) Antologia, de Adília Lopes;
5) A autobiografia de Alice B. Toklas, de Gertrude Stein;
6) Autobiografia de todo mundo, de Gertrude Stein;
7) Léxico familiar, de Natalia Ginzburg;
8) Caro Michele, de Natalia Ginzburg;
9) Peter e Wendy, de J.M. Barrie;
10) Coração apertado, de Maria NDiaye;
11) O perseguidor, de Julio Cortázar;
12) Decameron, de Boccaccio.

Primeiro, gostaria de compartilhar minha frustração de ter livros da Coleção Mulheres Modernistas na estante nesse momento que estou entupida de leituras da faculdades. Queria passar meus dias com Gertrude Stein, mas estou presa a Mario Vargas Llosa e Bauman. Também me frustra o fato dessa coleção ser tão cara, o que significa que vou demorar uma vida para completar. Isso se for possível completar. O amante, por exemplo, já está esgotado.

Coração apertado, de Marie Ndiaye, é um dos que estou mais curiosa para ler. Vi desde gente querendo queimar o livro porque odiou até gente que simplesmente amou.

A sobrecapa de Peter e Wendy vira uma luminária. Achei demais.



Por fim, estou arrependida de não ter levado a Antologia da literatura fantástica

Entretanto, a Cosac está anunciando um bota-fora online. O que significa que eu posso corrigir esse erro e devo ter mais momentos de alegria pagando 10 reais em livros maravilhosos.


Parte aleatória 2:
(dá pra ver que sou muito criativa na hora de dividir o post)

Semana que vem, pretendo escrever sobre o e-book Meu corpo não é seu, do Think Olga.

Como sou uma pessoa super focada, estou lendo ao mesmo tempo para o meu projeto de leitura:
1) Mrs. Dalloway, de Virginia Woolf;
2) Ariel, de Sylvia Plath
3) Diga meu nome e eu viverei, de Lady Sybylla; 
4) Objetos cortantes, de Gillian Flynn;
5) As boas mulheres da China, de Xinran;
6) Mulheres Negras Contam sua História, de várias autoras. 
     [pdf disponível p/ download gratuito aqui]

Fiz até uma meta de leitura no skoob para tentar não me perder em tantas leituras simultâneas. A sensação final de tudo isso é: nunca vou conseguir ler todos os livros que quero.


Parte aleatória 3:

Essa semana, Aline Valek  em sua newsletter (cuja assinatura é gratuita e eu sempre recomendo) propôs aos assinantes que têm um blog responder perguntas de uma espécie de corrente. Eu acho correntes toscas, mas essa foi proposta por uma escritora da qual sou fã e envolve livros. Então vamos lá:

1) Um livro que te surpreendeu em 2014?

um útero é do tamanho de um punho, de Angélica Freitas. Já escrevi sobre ele aqui.


2) Um livro que te decepcionou em 2014?

Clube da luta, de Chuck Palahniuk. Podem me julgar, mas achei o livro apenas legal e não TUDO AQUILO que me falavam. Talvez tenha criado expectativas demais.


3) A melhor adaptação que você viu em 2014?

Acho que a única adaptação, em 2014, que vi o filme e li o livro foi Jogos Vorazes. Curti bastante, Os filmes estão sendo fiéis à essência da trilogia.


4) Um livro que não conseguiu terminar em 2014?

O tempo e o vento, de Erico Verissimo. Estou lendo desde 2013 esse, mas é muito extenso e acabam entrando outros livros na frente.

5) Quantos livros você conseguiu ler em 2014?

Sem contar os da faculdade, 20 livros.


6) Um livro que está ansiosa pelo lançamento em 2015?

Olha, acho que nenhum.


7) Um ou mais desafios que se dispôs a participar em 2015?

-Ler somente livros escritos por mulheres;
-Manter meu blog atualizado toda sexta-feira.


8) A adaptação mais esperada por você em 2015?

Ainda esperando o lançamento de Meio sol amarelo no Brasil por motivos de Chimamanda e Chiwetel. Vai que esse ano rola.


9) Uma leitura que pretende retomar em 2015?

Verão no aquário, de Lygia Fagundes Telles. Ela é minha autora favorita e me sinto mal por ainda não ter retomado esse.


10) Três livros da sua meta para 2015?
-Objetos cortantes, de Gillian Flynn;
-As boas mulheres da China, de Xinran;
-Ariel, de Sylvia Plath.


Não tenho para quem repassar a corrente. Então se você gostou das perguntas, responde lá no face e me marca se quiser.

sexta-feira, 20 de março de 2015

Livro 6: Persépolis, de Marjane Satrapi




Sinopse (tirei do site da Companhia das Letras):
"Marjane Satrapi tinha apenas dez anos quando se viu obrigada a usar o véu islâmico, numa sala de aula só de meninas. Nascida numa família moderna e politizada, em 1979 ela assistiu ao início da revolução que lançou o Irã nas trevas do regime xiita - apenas mais um capítulo nos muitos séculos de opressão do povo persa.
Vinte e cinco anos depois, com os olhos da menina que foi e a consciência política à flor da pele da adulta em que se transformou, Marjane emocionou leitores de todo o mundo com essa autobiografia em quadrinhos, que só na França vendeu mais de 400 mil exemplares.
Em Persépolis, o pop encontra o épico, o oriente toca o ocidente, o humor se infiltra no drama - e o Irã parece muito mais próximo do que poderíamos suspeitar".

Sobre a autora (também do site da Companhia):
"Nasceu em Rasht, no Irã, em 1969, e atualmente vive em Paris. Estudou no liceu francês de Teerã, onde passou a infância. Bisneta de um imperador do país, teve uma educação que combinou a tradição da cultura persa com valores ocidentais e de esquerda. Aos catorze anos, partiu para o exílio na Áustria, e depois retornou ao Irã a fim de estudar belas-artes. Estabelecida na França como autora e escritora, Marjane ainda voltou à narrativa de memórias no livro Frango com ameixas, baseado em relatos de seu avô. Em 2007, Persépolis foi transformado num longa-metragem de animação, que estreou no festival de Cannes".

Cena do filme homônimo


Minha opinião:

No início, Persépolis me fez pensar em outras duas obras: O diário de Anne Frank e O diário de Zlata. As três são autobiografias de meninas passando por situações críticas. Anne Frank enfrentou o Holocausto; Zlata, a guerra na ex-Iugoslávia. Entretanto, o relato das duas não passa da infância (o que no caso da Anne Frank é triste, pois ela não continuou o diário porque foi mandada para um campo de concentração e morreu). Persépolis, por outro lado, acompanha Marjane Satrapi da infância à vida adulta.

Essa introdução é apenas um pensamento aleatório que tive ao ler a HQ. Não farei nenhuma conexão inovadora entre as três obras.

Imagino você, leitor, constatando que esse texto é inútil e voltando para o site anterior. Pense que já existem coisas úteis demais no mundo e que pode ser legal ler pensamentos aleatórios que não pretendem ter nenhuma utilidade. Mas se for imprescindível que essa introdução tenha algum motivo para existir, pense que são mais duas indicações de livros escritos por mulheres, ainda que eu não vá fazer um post sobre eles.

O pano de fundo de Persépolis é complexo. O Irã estava sob o governo do xá. Em 1979, ocorre a Revolução Iraniana. O país afundou em um regime islâmico extremamente opressor. Pouco depois, uma guerra sangrenta contra o Iraque teve início.

No meio de tudo isso, está a protagonista (que é também a autora do livro, Marjane Satrapi). Ela passa por coisas terríveis, como ver seu tio favorito ser preso e executado. Além disso, ela precisa lidar com a intensa fiscalização dos guardiões sobre seu modo de agir e vestir.

O que mais me interessou nessa HQ foi a maneira como Marjane consegue contar essa história passada em um tempo tão difícil de maneira muito sensível e até divertida em algumas partes. É possível se distanciar do estereótipo vendido pelo ocidente do Oriente Médio e enxergar como os iranianos sofreram com a guerra, tiveram a esperança de um regime pós-Revolução melhor desfeita e resistiram à sua maneira ao que não concordavam no novo regime.

Persépolis é único e encantador. Eu recomendo fortemente (mesmo) a leitura.


Ah, e tem o filme também:



Resenhas legais:
Resenha: Persépolis, do blog Resumo da ópera


domingo, 15 de março de 2015

Malhação e o "crime passional"



Essa semana eu vi, enquanto esperava a novela das seis começar, uma sequência em Malhação que me incomodou bastante.

Por algum motivo (eu não acompanho a novela, portanto não sei qual), Karina e Pedro brigaram. Como ela não queria nem falar com ele, o moço decidiu o que? Sequestrar Karina. Solução super saudável.

Até os gifs mostram como ele é uma pessoa romântica e equilibrada

Junto com os amigos, ele invadiu a academia na qual ela treina. Os amigos amarraram Karina e prenderam-na em um saco.


Karina acaba presa em um saco pelo namorado porque não quer falar com ele! Ninguém vê o quanto isso é problemático?!

Pedro se tranca com Karina (ainda amarrada) em um banheiro para provar o quanto a ama (?!). Ela só quer bater nele e fugir dali.

Depois desse tratamento tão legal e amoroso, nem entendo porque ela quer fugir
No final, Karina consegue se soltar e ir embora.

Toda essa sequência foi tão bizarra e misógina que nem sei por onde começar. Vou começar colocando algumas cenas (com o título original do site da Globo) aqui e comentando.

Não tenho como colocar os vídeos aqui, então, vou linkar nos títulos. Talvez fique um pouco confuso entender meus comentários sem ver respectivo vídeo.


1) "Karina ameça Pedro e Nando cai em cima da menina"

O problema já começa no título. Que tal "Pedro invade academia e sequestra Karina?".

Aqui alguém poderia argumentar "ai, mas ela bateu nele". Ele invadiu a academia onde ela estava treinando. Era pra Karina fazer o que? Sorrir enquanto diz: "Você poderia, por favor, não invadir a academia?".

Enfim, Pedro entra no lugar e recebe uns tapas até o Nando cair em cima da Karina, que é tratada quase como um animal perigoso sob o apelido de "esquentadinha". Porque mulher tem que ser meiga. Se souber lutar e não for dócil, já é um animal ensandecido que alguém (vulgo, um cara) precisa domar.

Notem a parte que Karina diz: "Sol, até você. Sol, me ajuda, cara"
Ela tá pedindo socorro. Não é engraçado!

(vou colocar direto as falas dos personagens, pois preguiça)

Pedro: "Olha só, 'esquentadinha', uma hora você vai entender que eu fiz tudo isso por amor. Aí a gente vai contar essa história pros nossos netinhos e eles vão morrer de rir"
Porque sequestro é a maior piada, gente. Segurem essa frase bizarra que eu vou voltar nisso depois.

Sol: "Então não tem jeito. Vamos ter que fazer que nem o Capitão Nascimento. Bota ela no saco!"
Super romântico o fato de que vão aplicar tratamento BOPE na menina em nome do amor.


Karina grita desesperada e é amordaçada. Um dos amigos faz o que? Filma enquanto diz: "Isso, isso. Geme pra câmera. Vai, geme". Ela ta gemendo porque ta tentando gritar, seu escroto! Filmar um sequestro e mandar a vítima gemer mais pra câmera é nojento. Mais nojo ainda que a Globo esteja vendendo isso como uma ceninha engraçada de uma "loucura de amor". Vomitando aqui.

Amigo aleatório: "Eu sou um gênio incompreendido".
Não, você é um bosta mesmo.

Eles levam Karina, ensacada, para o carro.

Pedro: "Não é nada disso que vocês tão pensando"
Apenas um sequestro, mas é tudo por amor, viu?

"É uma gata selvagem que a gente vai levar pro zoológico"
Já disse que ela é um animal perigoso que precisa ser domado pelo poder do amor. Só assim ela, talvez, possa ser tratada como um ser humano.

"A gente vai levar a Karina assim ensacada dentro de uma mala como se ela fosse um presunto?"
Era só pra sequestrar, seus trouxas. Colocar no porta-malas já é demais.

E para selar o amor, ele beija a testa da Karina. O fato dela visivelmente não querer, mas estar sem possibilidade de defesa (pois amarrada) é apenas um detalhe. O que é um abuso perto do amor?



Antes de ser trancada, Karina se debate e a galera fica brava. Afinal, como ela ousa reagir agressivamente a um sequestro?

Pedro: "Quem sabe assim ela não lembra dos bons momentos?"
E esquece que você a amarrou e amordaçou.

Amigos: "Você vai ficar trancado sozinho com ela?"
"Ela vai te matar!"
Realmente, ela é a pessoa mais perigosa dessa história, galera do "onde a gente desova a Karina?".

Pedro: "Eu vou tirando ela do saco e dando beijinhos até ela se acalmar"
Alguém avisa o Pedro que, segundo a lei, o ato de beijar alguém contra a vontade da mesma, ainda mais quando ela está amarrada e não pode se defender, se chama estupro. Aproveita e dá uma surra nele por mim.

Amigo: "A gente é sequestrador, mas é educado"
Agora tá tudo certo então.

Sol: "Deus, proteja meu amiguinho maluco romântico"
Deixa eu melhorar essa frase: "Deus, fulmine esse misógino doentio".



Pedro: "Você tá linda"
Aposto que se ela não tivesse amordaçada, responderia que você é um bosta.
"Agora eu vou tirar a meia da sua boca"
Porque ele é sequestrador, mas é educado.

"A gente já pode pular pra parte que a gente fica bem e faz as pazes".
Eu preferia que fosse pra parte que ela se solta, te dá uma surra e você é preso por sequestrar e manter alguém em cárcere privado. Ah, verdade, essa parte não existe porque no mundo de Malhação isso é romântico.

Karina: "Eu acho melhor a gente pular pra parte que eu voo em você e te encho da pancada"
Somos duas.

Pedro: "E se eu disser que te amo?"
Opa, isso justifica tudo.

Ela grita e é amordaçada de novo. Dá pra ver quão saudável é o amor do Pedro.



Síndrome de Estocolmo manda beijos.

Moral dessa cena: Karina ama tanto Pedro que até entende ter sido sequestrada. Meninas, se um cara sequestrar vocês, tentem ver o lado dele.



Pedro: "Foi por amor, 'esquentadinha'"
Segurem essa frase também.


Eu pretendia comentar mais coisas das cenas, mas a ideia dessa sequência é bizarra demais. Tô podendo lidar com isso não. E esse post já tá ficando longo demais.

Vamos pegar três frases do Pedro:
1) "Olha só, 'esquentadinha', uma hora você vai entender que eu fiz tudo isso por amor. Aí a gente vai contar essa história pros nossos netinhos e eles vão morrer de rir"

2) "E se eu disser que te amo?"

3) "Foi por amor, 'esquentadinha'"

O que elas têm em comum?

Nelas, Pedro usa o amor para justificar seus atos. É aquela história de crime passional (termo que eu detesto). Mas dicona: isso não é amor.

O que mais me preocupa é uma novela voltada ao público adolescente naturalizar, tratando como algo engraçado, esse tipo de comportamento. Uma novela reforçar para meninos que tudo bem eles cometerem um crime se for por amor. Como se mulheres já não fossem agredidas o suficiente por não corresponderem ao amor de um cara. 

Não é ok um sequestro ou qualquer outro crime, seja lá qual for a justificativa, nem filmar ou rir disso.

Sem essa de foi por amor. Não justifica nada.

Quantas mulheres são vítimas de ~crimes passionais~ diariamente? E o quanto isso já não está tão naturalizado na nossa sociedade que as pessoas tentam isentar os criminosos, dizendo "ah, coitado, ele ficou louco de amor".

Título de matéria do Correio Braziliense: magina que ele é culpado por ter causado a morte dos quatro filhos. Foi levado a isso, coitado.

É um tremendo desserviço Malhação contribuir para que adolescentes vejam crimes contra mulheres (e não passionais porque não é amor) de forma naturalizada e, pior, romanceada.

sexta-feira, 13 de março de 2015

Livro 5: O sonho da Sultana, de Roquia Sakhawat Hussain


"Há mais de um século, uma mulher se permitiu imaginar um mundo diferente. Nesta obra que inaugurou o subgênero de Ficção Científica feminista. e é pela primeira vez traduzida para o português, a autora Roquia Sakhawat Hussain levanta questões relacionadas aos papéis de gênero em sua sociedade e mostra a importância do direito das mulheres à educação".

Sobre a autora (do Momentum Saga):
"Roquia foi uma ativista dos direitos das mulheres, escritora, ensaísta, poeta e professora. Nacida em 9 de dezembro de 1880 no que hoje é o distrito de Rangpur, em Bangladesh, foi uma das mulheres mais notáveis de seu tempo. Nascida em uma família abastada e instruída, foi desde cedo incentivada a estudar e a escrever, em especial por seu marido, com quem se casou aos 16 anos. Escrevendo em bengali, o idioma comum e das camadas mais baixas da população, Roquia conseguiu levar palavras como emancipação e direitos para mulheres muçulmanas oprimidas pelos maridos, pela família e pela religião.
Ela criticava abertamente a distorção causada no Islã. Para ela, se as mulheres tivessem o direito de seguir a profissão que quisessem e se tivessem liberdade, elas exaltariam a verdadeira palavra de Alá. Roquia entendia que a opressão era fruto da divisão desigual do trabalho e de um Islã corrompido por provincialismos e conservadorismo excessivo da sociedade patriarcal. Fundou uma associação para mulheres muçulmanas e também uma escola para meninas, em Kolkata (antiga Calcutá), que funciona até hoje. Na Universidade de Daca, em Bangladesh, existe uma estátua em sua homenagem e a data de seu aniversário e morte é celebrado como o Dia de Roquia".  

Minha opinião:
Eu já tentei escrever sobre O Sonho da Sultana umas trinta vezes. Em todas, acabei apagando tudo. Por um motivo: esse conto é uma Ficção Científica e eu não sei quase nada sobre esse gênero. Então não espere grandes comentários sobre as tecnologias presentes na história.

A proposta de Roquia é inverter os papeis de gênero de forma a questioná-los (o oposto de coisas como Se eu fosse você). 

Parêntesis aleatório: 
Eu lembrei daquele curta Majorité Opprimée (Maioria oprimida):

(TW: estupro)


Voltando ao conto:
Roquia escreveu O Sonho da Sultana em 1905. Incrível (e triste) como esse texto continua atual. Mais de cem anos depois, mulheres islâmicas ainda vivem sob a purdah e encontram dificuldades para ter acesso à educação (só lembrar dos casos recentes de Malala Yousafzai e das estudantes nigerianas sequestradas pelo Boko Haram). Se em 2015 uma menina é baleada por acreditar que mulheres têm direito a estudar, imagina a ousadia que representava em 1905 esse conto. Nele, as mulheres não só podem estudar como venceram uma guerra com suas invenções. Elas aprenderam a manipular a energia solar de forma a utilizá-la até em carros voadores. E outras tantas coisas sensacionais.

A história também dialoga com nós, mulheres ocidentais, na medida em que ainda somos sutilmente desencorajadas a seguir carreiras científicas. Nesse conto, as mulheres cientistas salvam o país.

O sonho da Sultana pode ser baixado gratuitamente no site do Universo Desconstruído. Também está disponível uma versão impressa no site do Clube de Autores.


Eu sempre costumo ler resenhas de outras pessoas quando termino uma leitura. Decidi que vou compartilhar as que eu achar interessantes. Por isso, estou abrindo um nova seção nos posts.

Resenhas legais:
[Aline Valek foi uma das responsáveis pelo projeto de traduzir o conto pela primeira vez para o português e pela capa do ebook]

[essa segunda resenha é legal porque a autora trata de aspectos mais técnicos do livro, como o fato das abundantes chuvas na região de Bangladesh terem influenciado o conto]

sexta-feira, 6 de março de 2015

Dia internacional da mulher: rosas? Não, obrigada.

imagem das Blogueiras Feministas

Domingo (08) é Dia Internacional da Mulher e a última coisa que eu sinto vontade é comemorar. Só hoje, eu já li sobre uma mulher que foi espancada na rua e detida por tentar se defender. Hoje também, na antevéspera da data, o professor de teoria da opinião pública do meu curso parou a aula para contar piadas misóginas. Ontem, ouvi uma amiga (cara, logo uma amiga) fazendo piada sobre estupro.

Mulheres continuam sendo agredidas e mortas por parceiros diariamente. Um homenzinho de merda relata como cometeu um estupro e é aplaudido em um programa de TV. Jornalistas e blogueiras são ameaçadas por se expressarem. Uma marca usa vazamento de imagens íntimas para se promover. E tantas outras merdas que eu precisaria de um post inteiro ou mais para enumerar.

Não, não é um dia de comemorar. É um dia de luta, É dia de gritar "chega!". Porque não vamos nos calar enquanto formos mortas, agredidas, violentadas, objetificadas e desumanizadas apenas por sermos mulheres.

Eu não quero uma rosa. Não quero um cartão dizendo que eu embelezo o mundo porque eu não sou um adorno:

Imagem do Pensamento Feminista

Não quero mensagens fantasiadas de elogios , mas que só servem para reforçar o estereótipo de gênero. Nem aquelas frases de "Parabéns, mulher, por serem fortes" que no fundo querem dizer "Parabéns, mulheres, por aguentarem toda a merda machista que jogamos em vocês. Mas vamos continuar jogando, viu?".

Por isso, ainda precisamos do feminismo

Eu quero respeito. Quero que parem de julgar mulheres pelo modo como se vestem ou agem. Quero que parem de usar esse julgamento como desculpa para agressão. Quero que a cultura do estupro acabe e mulheres não sejam mais culpabilizadas quando na verdade são vítimas. Quero ser admirada pelo meu intelecto e não pela minha aparência. E quero que minha aparência não seja mais importante para os outros do que meu intelecto.

Eu quero ver mulheres não tendo suas opções limitadas pelo gênero. Quero que elas possam seguir a carreira e a vida que escolheram sem sofrer preconceitos. Quero maior representatividade feminina, seja no congresso, na indústria cinematográfica ou em outros lugares.

Quero que mulheres sejam tratadas e respeitadas como seres humanos.

"Quando crescer, vou ser feminista. Mas espero que já não seja necessário"
Tirinha: Liniers