Blog destinado aos meus textos e poesias. Cada texto ou poema aqui escrito nasceu em um dia desimportante e compõe um pouco do segmento de reta que sou.
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sábado, 26 de dezembro de 2015
Projeto de leitura 2015 - o final
No começo do ano, eu fiz um post falando sobre meu projeto de ler apenas mulheres em 2015 e escrever sobre os livros lidos aqui. Eu estou bem feliz de perceber que consegui seguir meu projeto sem abandonar e ainda cumpri meu acordo comigo mesma de falar sobre os livros aqui.
Como esse é o último final de semana do ano, encerro aqui o projeto. Conheci várias autoras novas maravilhosas e redescobri como é legal ler HQs. Valeu muito.
Não vou fazer nenhum projeto de leitura pro ano que vem, mas pretendo continuar lendo livros escritos por mulheres e falando sobre eles aqui. Temos que ler mais mulheres sempre.
Vou deixar aqui embaixo a lista dos livros que eu li com as respectivas resenhas linkadas nos títulos. Não consegui falar sobre todos, já peço desculpas.
Para quem quiser ler mais autoras mulheres em 2016, recomendo essa lista (aqui) que o Lugar de Mulher fez indicando 52 autoras para ler no próximo ano.
Livros lidos:
-Eu quero ser eu, de Clara Averbuck
-A redoma de vidro, de Sylvia Plath
-Rilke shake, de Angélica Freitas
-Americanah, de Chimamanda Ngozi Adichie
-O sonho da sultana, de Roquia Sakhawata Hussain
-Persépolis, de Marjane Satrapi
-Objetos cortantes, de Gillian Flynn
-Meu corpo não é seu, de Think Olga
-Diga meu nome e eu viverei, de Lady Sybylla
-Almanaque D'elas, de várias autoras
-Mulheres negras contam sua história, de várias autoras
-Os anões, de Veronica Stigger
-Sete vidas, de Heloisa Seixas
-Auri, a anfitriã, de Aline Moura e Bárbara Almeida
-Lugar de mulher, de Ana Paula Barbi, Clara Averbuck e Mari Messias
-A mão esquerda da escuridão, de Ursula K. Le Guin
-Guadalupe, de Angélica Freitas
-Por lugares incríveis, de Jennifer Niven
-A amiga genial, de Elena Ferrante
-Tenho dois papais, de Bela Bordeaux
-Gota de sangue a olho nu, de Cacau Ideguchi
-Anna Bolenna - o livro, de Bianca
-Carvalhos, de AnaLu Medeiros
-Azul é a cor mais quente, de Julie Maroh
-Sailor moon (coleção), de Naoko Takeuchi
-Zaralha, de Letícia Novaes
-Bordados, de Marjane Satrapi
-Delta de vênus, de Anais Nin
-A festa de Babette, de Karen Blixen
-O amante, de Marguerite Duras
-Clara: uma gotinha d'água, de Luciana Cordeiro de Souza
sexta-feira, 30 de outubro de 2015
Livro 23: Carvalhos, de AnaLu Medeiros
Sinopse:
"Idealizada em 2006, a tirinha de Carvalhos só começou a ser
regularmente produzida a partir de 2013, quando a autora desenvolveu o site
Tiraninha e criou coragem de mostrar sua produção para o mundo. Carvalhos é o
sexto título do selo de quadrinhos MBP e compila as tiras de uma família
marrenta, composta pelo casal Zé e Liz, e seus dois filhos, Maria Alice e Otto".
Sobre a autora (retirado do livro):
"AnaLu Medeiros nasceu em Natal e é graduada em Arquitetura e Urbanismo pela UFRN. Autora de Ana e o Sapo (2013), reúne suas artes no INK ana Studio, onde é tatuadora e faz quadrinhos nas horas vagas. Ou é quadrinista e faz ilustrações nas horas vagas. Ou é ilustradora e canta nas horas vagas. Ou..."
Minha opinião:
Carvalhos é um livro composto por uma série de tiras que mostram um pouco dessa família tão familiar (desculpa, eu já pedi desculpa). A sensação que eu tive ao ler esse livro foi a de "quem nunca?". Quem nunca teve na família ou conheceu um Zé, uma Liz, uma Má ou um Otto que atire a primeira pedra.
![]() |
daqui |
AnaLu Medeiros fala sobre relações familiares e temas atuais de uma forma ácida e irônica. Daquele jeito que você ri, mas por dentro tá "pô, é verdade".
Gostei bastante.
Carvalhos foi um livro produzido por meio de uma campanha de financiamento coletivo e fecha essa série de posts sobre livros produzidos dessa forma e escritos por mulheres.
sexta-feira, 23 de outubro de 2015
Livro 22: Zaralha, de Letícia Novaes
Sinopse:
"Zaralha – abri minha pasta apresenta com muito humor uma
série de poemas de Letícia Novaes, em conjunto com um material riquíssimo de
sua infância, o que reforça ainda mais a essência lúdica da obra. De
fotografias fofas e hilárias do álbum de família a versos inéditos, passando
por trabalhinhos de escola, brincadeiras de bar e desenhos criados no
Paintbrush, o livro revela com lirismo e irreverência a personalidade
apaixonante de sua autora, além de retratar de forma espetacular como era ser
criança nos anos 1980.
Com orelha assinada por Bruna Beber e um projeto gráfico
caprichado – que traz de volta a memória da pastinha escolar – a publicação foi
financiada por mais de 400 fãs e admiradores do trabalho de Letícia, no
terceiro crowdfunding bem-sucedido da Guarda-Chuva".
Sobre a autora:
"Letícia Novaes nasceu dia 5 de janeiro de 1982. É escritora e atriz, além de cantora e compositora da banda Letuce. Zaralha é seu primeiro livro".
Minha opinião:
Zaralha é uma bagunça organizada. Como realmente abrir a pasta da autora e se deparar com lembranças, pensamentos, textos de forma aleatória com sentido. Esse livro tem de tudo um pouco.
Tem poesia. Umas muito inusitadas, como forca:
"ideia de uma boa palavra para forca.
também recomendo MONSTRO
(as 4 consoantes juntas piram
qualquer um),
AGULHA, FLUXO E XERIFE."
Nunca tinha pensando nisso, 4 consoantes juntas piram qualquer um num jogo de forca.
Tem horóscopo macabro.
Tem um capítulo à parte com lembranças da escola.
Tem fotos.
Tem legenda para fotos antigas de mulheres que desconhecemos.
Resumindo, tem de tudo um pouco nesse livro.
Isso o torna tão fascinante. Não é uma coisa só. É uma bagunça, mas organizada.
Zaralha foi um livro produzido pela editora Guarda-Chuva por meio de uma campanha de financiamento coletivo.
sexta-feira, 16 de outubro de 2015
Livro 21: Anna Bolenna - o livro, de Anna Bolenna
Sinopse:
"Sem temas específicos, os quadrinhos são baseados em
situações cotidianas, nas coisas que observo, sinto e vivencio. Transfiro essas
emoções para os meus desenhos e muitas pessoas acabam se identificando com as
situações vividas pela Anna Bolenna. Dessa forma percebem que não estão
sozinhas neste vasto mundo e que temos muito mais em comum do que imaginamos.
Todos nós compartilhamos das mesmas alegrias e dificuldades".
Sobre a autora:
"Amanda Gabriela Souza Reis, mais conhecida como Bianca ou Anna Bolenna, nasceu em 1992, na cidade de Belo Horizonte. É técnica em Design Gráfico e, atualmente, estuda Artes Visuais na UFMG. Publica quadrinhos quase que diariamente na página 'Anna Bolenna, a perturbada da corte' e semanalmente no jornal Super Notícia".
Minha opinião:
Amanda, ou Bianca ou Anna Bolenna, publica suas tirinhas na internet desde 2013. Se você usa o facebook, altas chances de já ter visto alguma delas. Esse ano, a autora decidiu compilar algumas em um livro por meio de uma campanha de financiamento coletivo. Assim nasceu Anna Bolenna - o livro.
As tirinhas não possuem um tema definido. São mais pensamentos da autora exprimidos em forma de poesia e de desenhos abstratos. Entretanto, muitas delas geram uma identificação no leitor do tipo "é isso que eu sinto/penso/vivo".
Poderia falar mil coisas sobre como as tirinhas são legais. No lugar disso, vou deixar algumas aqui para vocês sentirem (todas podem ser encontradas na página da Anna Bolenna):
sexta-feira, 9 de outubro de 2015
Livro 20: Gota de Sangue a Olho Nu, de Cacau Ideguchi
Sinopse:
"Gota de Sangue a Olho Nu é um projeto experimental repleto de abstração que dá margem à imaginação e interpretação.
Contemplando os pontos de vista de duas pessoas distintas a respeito uma da outra, o livro vai se desenrolando através dos pensamentos e sensações contrastantes e únicos delas".
Sobre a autora:
"Cacau Ideguchi é jornalista cultural, escritora, nascida em 1987, canceriana com ascendente em áries. Acredita apenas no vento contra".
Minha opinião:
Cacau Ideguchi descreve seu livro como um projeto experimental que dá margem a diversas interpretações. É exatamente isso que encontramos aqui.
Acompanhamos o desenvolvimento de um relacionamento por meio do ponto de vista das duas pessoas envolvidas e por desenhos que, por vezes, explicam o que não está dito. É um livro de detalhes, de perceber também o que não está ali.
As possibilidades de interpretação são várias por se tratar de uma obra aberta e um tanto abstrata. E até agora estou matutando sobre o título do livro e o seu significado.
Gota de Sangue a Olho Nu foi um livro produzido por meio de uma campanha de financiamento coletivo.
Curti a experiência.
Uma pequena propaganda:
Todo mês a Blooks Livraria do Shopping Frei Caneca promove o clube de leitura Leia Mulheres. Eu sempre vou e posso dizer que é muito legal. Além disso, um clube desses é uma iniciativa super bacana numa sociedade como a nossa em que a maioria dos autores publicados e reconhecidos são homens.
Esse mês (aproveitando que em outubro tem halloween), o livro escolhido foi Frankestein, de Mary Shelley. Esse livro é considerado o marco inaugural da Ficção Científica. E já vi muita gente falando "zuera que foi escrito por uma mulher". Então estou bem felizinha com a escolha.
Como sempre, fica o convite.
sexta-feira, 11 de setembro de 2015
Livro 19: A amiga genial, de Elena Ferrante
Sinopse:
"A Série Napolitana, formada por quatro romances, conta a história de
duas amigas ao longo de suas vidas. O primeiro, A amiga genial, é narrado por
Elena Greco e cobre da infância aos 16
anos. As meninas se conhecem em uma vizinhança pobre de Nápoles, na década de
1950. Elena, a menina mais inteligente da turma, tem sua vida transformada
quando a família do sapateiro Cerullo chega ao bairro e Raffaella, uma criança
magra, mal comportada e selvagem, se torna o centro das atenções. Essa menina,
tão diferente de Elena, exerce uma atração irresistível sobre ela.
As duas se unem, competem, brigam, fazem planos. Em um bairro marcado
pela violência, pelos gritos e agressões dos adultos e pelo medo constante, as
meninas sonham com um futuro melhor. Ir embora, conhecer o mundo, escrever
livros. Os estudos parecem a melhor opção para que as duas não terminem como
suas mães entristecidas pela pobreza, cansadas, cheias de filhos. No entanto,
quando as duas terminam a quinta série, a família Greco decide apoiar os estudos
de Elena, enquanto os Cerrulo não investem na educação de Raffaella. As duas
seguem caminhos diferentes.
Mais que um romance sobre a intensidade e complexa dinâmica da amizade
feminina, Ferrante aborda as mudanças na Itália no pós-guerra e as transformações
pelas quais as vidas das mulheres passaram durante a segunda metade do século
XX. Sua prosa clara e fluída evoca o sentimento de descoberta que povoa a
infância e cria uma tensão que captura o leitor".
Sobre a autora (tradução livre):
"Elena Ferrante nasceu em Nápoles. É autora de Os dias do abandono, Troubling love, e The lost daughter. Sua Série Napolitana inclui A amiga genial, The story of a new name, Those who leave and those who stay e The story of the lost child, quarto e último volume da série".
Uma pequena propaganda:
Li A amiga genial para o clube Leia Mulheres de agosto.
Como sempre, recomendo o clube. Não, não estão me pagando pra isso. É de coração e por livre e espontânea vontade que o faço.
As mulheres ainda possuem um espaço muito limitado dentro do mundo da literatura. Basta apenas você comparar quantos livros escritos por homens e quantos por mulheres foram publicados nos últimos anos. Ou pensar nos autores clássicos, quantos são homens e quantas são mulheres?
A importância de um clube como o Leia Mulheres é incentivar a leitura de autoras mulheres. Nesse mês, mais ainda por se tratar de Toni Morrison, uma autora negra.
Então deixo aqui, como sempre, a recomendação.
O livro desse mês é Jazz.
Minha opinião:
A amiga genial é um livro tão denso que encontro dificuldades para falar sobre ele.
O maior talento de Ferrante, na minha opinião, está na construção de personagens. Ela os cria de maneira tão verossímil que a sensação é a de que podemos cruzar com qualquer um deles na esquina. E olha que são muitos personagens.
Para provar isso, coloco aqui três páginas apenas com nomes de personagens:
A autora possui domínio sobre a história e orquestra fatos, personagens e cenários com harmonia.
O livro trata da infância e da adolescência das duas personagens principais. Ao acompanhar esse período, a narrativa trata de diversos assuntos, É o caso da desigualdade social nesse trecho em que Elena e seus amigos vão visitar um bairro rico:
"Foi como atravessar uma fronteira. Lembro-me de uma calçada lotada e de algo como uma humilhante diversidade. Não olhava os rapazes, mas as garotas, as senhoras: eram absolutamente diferentes de nós. Pareciam ter respirado outro ar, ter comido outro alimento, estar vestidas como em outro planeta, ter aprendido a andar sobre fios de vento. Eu estava boquiaberta. Tanto mais que, enquanto eu teria parado para olhar com calma as roupas, os sapatos, o tipo de óculos que usavam, se usavam, elas passavam e pareciam não me ver. Não viam nenhum de nós cinco. Éramos imperceptíveis. Ou desinteressantes. Aliás, se às vezes o olhar recaía sobre nós, logo os viravam para outro lado, como enfastiadas. Só se olhavam entre si.
Todos nós percebemos isso. Ninguém tocou no assunto, mas notamos que Rino e Pasquale, mais velhos, só tiveram naquelas ruas a confirmação de coisas que já sabiam, e isso os deixava de mau humor, taciturnos, espicaçados pela certeza de estarem fora de lugar, ao passo que nós, meninas, só o descobrimos naquele momento, e com sentimentos ambíguos. Sentimo-nos incomodadas e encantadas, feias, mas também impelidas a nos imaginar como nos tornaríamos se tivéssemos tido meios de nos reeducar e vestir e maquiar e enfeitar como se deve. Entretanto, para não estragar a noite, reagíamos com risadas e ironias" (páginas 187 e 188)
Elena tem a possibilidade de estudar em um liceu clássico e superar um pouco dessa desigualdade por meio do conhecimento. Entretanto, ela acaba se distanciando do mundo de seus amigos e não entende mais qual o seu lugar. Como fica evidente no trecho:
"Foi durante aquele percurso rumo à rua Orazio que comecei a me sentir claramente uma estranha, infeliz por meu próprio estranhamento. Eu tinha crescido com aqueles rapazes, considerava seu comportamento normal, a língua violenta deles era a minha. Mas seguia cotidianamente, já há seis anos, um percurso que eles ignoravam por completo, e que eu, ao contrário, trilhava de modo tão brilhante que chegava a ser a melhor. Com eles eu não podia usar nada daquilo que aprendia diariamente, tinha que me conter, de alguma maneira me autodegradar. O que eu era na escola, ali era obrigada a colocá-lo entre parêntesis ou a usá-lo à traição, para intimidá-los. Me perguntei o que estava fazendo naquele carro. Ali estavam meus amigos, certo, ali estava meu namorado, estávamos indo à festa de casamento de Lila. Mas justamente aquela festa ratificava que Lila, a única pessoa que eu sentia ainda necessária malgrado nossas vidas divergentes, não nos pertencia mais, e, com sua retirada, toda mediação entre mim e aqueles jovens, aquele carro correndo por aquelas ruas, se exaurira". (página 320)
Outras temas são tratados, como abuso sexual. Fica aqui o trigger warning.
Não sei o que falar, apenas sentir. Por isso, vou deixar aqui embaixo a resenha da Michelle Henriques sobre o livro. Leiam.
Outras resenhas:
A amiga genial, por Michelle Henriques
sexta-feira, 14 de agosto de 2015
Livro 18: Por lugares incríveis, de Jennifer Niven
Sinopse:
"Violet Markey tinha uma vida perfeita, mas todos os seus
planos deixam de fazer sentido quando ela e a irmã sofrem um acidente de carro
e apenas Violet sobrevive. Sentindo-se culpada pelo que aconteceu, a garota se
afasta de todos e tenta descobrir como seguir em frente. Theodore Finch é o
esquisito da escola, perseguido pelos valentões e obrigado a lidar com longos
períodos de depressão, o pai violento e a apatia do resto da família.
Enquanto Violet conta os dias para o fim das aulas, quando
poderá ir embora da cidadezinha onde mora, Finch pesquisa diferentes métodos de
suicídio e imagina se conseguiria levar algum deles adiante. Em uma dessas
tentativas, ele vai parar no alto da torre da escola e, para sua surpresa,
encontra Violet, também prestes a pular. Um ajuda o outro a sair dali, e essa
dupla improvável se une para fazer um trabalho de geografia: visitar os lugares
incríveis do estado onde moram. Nessas andanças, Finch encontra em Violet
alguém com quem finalmente pode ser ele mesmo, e a garota para de contar os
dias e passa a vivê-los".
"É autora de quatro romances para adultos -American Blonde, Becoming
Clementine,Velva Jean Learns to Fly e Velva Jean Learns
to Drive -, três livros de não ficção - The Ice Master, Ada
Blackjack e The Aqua Net Diaries- e um livro de memórias
sobre suas experiências no ensino médio. Apesar de ter sido criada em Indiana,
hoje vive com o noivo e três gatos em Los Angeles, seu lugar preferido para
andanças. Para mais informações, acesse , ou encontre-a no Facebook".
Minha opinião:
Li Por lugares incríveis para o clube leia mulheres de julho. Esse clube contou com a participação especial da Capitolina, revista adolescente com viés feminista que é puro amor.
Como sempre, vou recomendar o clube. Acontece todo mês na Blooks Livraria do shopping Frei Caneca. Para agosto, o livro selecionado foi A amiga genial, de Elena Ferrante. Próximo encontro acontece dia 25 de agosto (mais informações aqui)
Por lugares incríveis é um livro YA (young-adult), ou seja, destinado a pessoas entre 14 e 21 anos.
Eu gostei e desgostei do livro. Vou colocar aqui tanto os aspectos positivos quanto os negativos.
Cada capítulo é narrado do ponto de vista de um dos protagonistas. Para não deixar confuso, vou dizer sob qual ponto de vista estão os trechos.
Cada capítulo é narrado do ponto de vista de um dos protagonistas. Para não deixar confuso, vou dizer sob qual ponto de vista estão os trechos.
O que é legal:
(TW: depressão, suicídio, imagem forte)
Primeiro ponto que me chamou atenção durante a leitura foi a inclusão de trechos de escritores clássicos em um livro YA (olhaí eu tomando na cara do meu preconceito). Essa inserção é feita de maneira natural, ajudando a história a prosseguir. Não fica algo planfetário estilo enfia isso aê pra ver se os jovens se interessam em ler clássicos. Cada trecho tem um sentido para a trama.
Outra coisa bacana é que a maioria dos trechos são de Virginia Woolf. Um valorize as minas no meio do livro.
Segundo ponto que me chamou atenção foi a maneira realista com que a autora retratou os adolescentes (a maioria dos personagens tem 17 anos no livro), fugindo do formato Malhação ao qual estamos acostumados. Ela retratou adolescentes que bebem, fazem sexo, têm depressão. Não uma adolescência "limpinha" e maquiada.
Exemplo. O que Finch pensa quando está sofrendo bullying: "Quero bater a cabeça dele em um armário e enfiar a mão em sua garganta e puxar seu coração pela boca".
Terceiro ponto foi a presença de temas que não costumam ser tratados, ou que o são de maneira atenuada, em livros desse gênero, como depressão e suicídio.
Suicídio, principalmente, é um assunto muito tabu na sociedade. Uma pessoa do clube comentou que parece que só se pode falar de suicídio se for de uma forma ""glamourizada"" como nessa foto famosa:
No dia 1 de maio de 1947, a jovem Evelyn McHale, então com 23 anos, se jogou do 86º andar do Empire State Building e caiu em cima do teto de uma limusine. Um fotógrafo registrou a imagem acima do ocorrido.
Uma pesquisa rápida no google vai te mostrar textos chamando esse de "o mais belo suicídio". A pessoa do clube comentou que viu alguém postando a foto com a legenda "isso que é morrer de forma glamourosa".
Gente, parou de glamorizar suicídio, né?
(SPOILERS! INCLUSIVE DO FINAL DO LIVRO!)
O livro vai totalmente no oposto dessa romantização que o suicídio passa pra poder ser falado. Ele mostra a situação limite que leva alguém a optar pelo suicídio e o efeito devastador que a atitude tem nas pessoas que ficam.
No final, tem uma nota da autora falando sobre a quantidade de pessoas que se suicidam por ano e sobre a bipolaridade (doença do protagonista). Ela também fala como um diagnóstico e um tratamento adequado poderiam ter salvo a vida de Finch.
(FIM DOS SPOILERS!)
Depois de uma mensagem PROCURE AJUDA, o livro traz uma lista de lugares para os quais é possível ligar atrás de ajuda.
Achei muito legal essa iniciativa.
O que não é legal:
(TW: assédio)
Fiquei muito incomodada com a maneira como a relação dos protagonistas foi construída.
Logo no começo, Finch salva a vida de Violet. A história que corre no colégio é que ela o salvou. Ela perdeu a irmã há um ano em um acidente de carro e ainda não superou.
Violet paga um micão na aula e Finch decide pagar um micão maior pra ajudá-la. Ela sorri pra ele, agradecendo.
Aí pronto.
Finch fica "ai ela sorriu pra mim e foi verdadeiro, quero essa mina" e começa a cercar Violet. Rola um verdadeiro assédio.
Vou colocar alguns trechos aqui. Talvez tenham alguns spoilers mais fortes.
Finch dá um jeito de Violet não ter como recusar ser sua dupla no trabalho do colégio. No mesmo dia, ele faz um facebook e adiciona ela. Aí acontece essa cena (ponto de vista de Finch):
"De repente, uma mensagem aparece na caixa de entrada.
Violet: Você me encurralou. Na frente de todo mundo.
Eu: Você aceitaria ser minha dupla se eu não tivesse feito aquilo?"
Ótimo quando a gente respeita o fato da outra pessoa talvez não querer ser nossa dupla no trabalho, né?
Depois, rola outra conversa pelo facebook sobre o trabalho (ponto de vista de Violet):
"Finch: Se você não quiser conversar pelo facebook, posso ir aí.
Eu: Agora?
Finch: Bom, teoricamente, em cinco ou dez minutos. Tenho que me vestir primeiro, a não ser que você prefira que eu vá pelado, além do tempo que vou gastar no caminho.
Eu: Está tarde.
Finch: Isso é relativo (...). A gente só vai conversar. Nada mais que isso. Não estou dando em cima de você.
Finch: A não ser que você queira. Que eu dê em cima de você.
Eu: Não.
Finch: "Não", você não quer que eu vá, ou "não", você não quer que eu dê em cima de você?
Eu: Os dois. Todas as anteriores.
Finch: Tá bom. A gente pode conversar na escola. Talvez na aula de geografia, ou posso procurar você no almoço. Você em geral está com Amanda e Roamer, né?
Ai, meu Deus. Faz isso parar. Faz ele desistir.
Eu: Se você vier aqui hoje, promete parar com isso de uma vez por todas?"
A mina já tá pedindo a Deus pro menino desistir e sumir. Sintomático. Talvez, só talvez, ele esteja forçando a barra.
Finch ignora que Violet claramente ta odiando tudo isso e manda na conversa seguinte (ponto de vista da Violet):
"Finch: (...) Você ainda vai me querer quando eu tiver quatro metros e oitenta de altura?
Eu: Como vou querer você com quatro metros e oitenta de altura se nem te quero agora?"
Não satisfeito, Finch diz na mesma conversa:
"(...) mas aí ele escreve: Me encontre no Quarry.
Eu: Não posso
Finch: Não me deixe esperando. Pensando melhor, encontro você aí.
Eu: Não posso.
Nenhuma resposta.
Eu: Finch?"
Além dela já ter demonstrado que não está gostando da situação e dito que não quer ele, Finch ainda ignora o "não" de Violet e vai até a casa dela (ponto de vista de Finch):
"Jogo pedras na janela, mas ela não desce. Penso em tocar a campainha, mas isso só acordaria seus pais. Tento esperar, mas a cortina não mexe e a porta não abre e está frio pra cacete, então entro no Tranqueira e vou pra casa"
Quando achamos que não pode ficar mais bizarro, chega a manhã seguinte (ponto de vista de Violet):
"Manhã seguinte. Minha casa. Saio pela porta e encontro Finch deitado no gramado, olhos fechados, botas pretas cruzadas na altura do tornozelo. A bicicleta está encostada ao seu lado, metade na rua e metade fora.
Chuto a sola de uma bota.
-Você ficou aqui fora a noite toda?
Ele abre os olhos.
-Então você sabia que eu estava aqui. É difícil saber se estamos sendo ignorados quando estamos, devo ressaltar, no frio congelante do ártico. - Ele levanta, coloca a mochila no ombro, pega a bicicleta".
Ela não te ignorou, amigo. Se alguém ignorou alguma coisa aqui, foi você quando ela disse não.
A partir daqui, eu parei de anotar esses trechos. Sim, tem muito mais coisa problemática.
Mas o pior de todos pra mim foi esse. Finch está com os dois melhores amigos e eles estão falando sobre violet (ponto de vista de Finch):
"De repente, não quero que Bren e Charlie falem sobre Violet , porque quero que ela seja só minha. Como no Natal em que eu tinha 8 anos e ganhei minha primeira guitarra, que batizei de Intocável, porque ninguém além de mim podia encostar nela"
O cara compara a mina a um objeto. Objetificação escancarada manda beijos.
Fora isso, ele a vê como uma posse que ninguém, além dele, pode encostar. Alguém avisa a Violet que ela ta entrando em um relacionamento abusivo.
Pelo menos, tem uma parte em que Finch quer de todo jeito que Violet entre no carro dele. Ela vira e fala:
"Você tem que parar de tentar convencer as pessoas a fazer o que elas não querem. Você é simplesmente invasivo"
Infelizmente, ela entra no carro contra sua vontade.
Resumindo:
Por lugares incríveis poderia ser um livro ótimo que desmistifica depressão para jovens e adolescentes, além de incentivá-los a procurar ajuda. Mas a romantização de assédio e a maneira abusiva com a qual é construído o relacionamento dos protagonistas estraga tudo.
(FIM DOS SPOILERS!)
Depois de uma mensagem PROCURE AJUDA, o livro traz uma lista de lugares para os quais é possível ligar atrás de ajuda.
Achei muito legal essa iniciativa.
O que não é legal:
(TW: assédio)
Fiquei muito incomodada com a maneira como a relação dos protagonistas foi construída.
Logo no começo, Finch salva a vida de Violet. A história que corre no colégio é que ela o salvou. Ela perdeu a irmã há um ano em um acidente de carro e ainda não superou.
Violet paga um micão na aula e Finch decide pagar um micão maior pra ajudá-la. Ela sorri pra ele, agradecendo.
Aí pronto.
Finch fica "ai ela sorriu pra mim e foi verdadeiro, quero essa mina" e começa a cercar Violet. Rola um verdadeiro assédio.
Vou colocar alguns trechos aqui. Talvez tenham alguns spoilers mais fortes.
Finch dá um jeito de Violet não ter como recusar ser sua dupla no trabalho do colégio. No mesmo dia, ele faz um facebook e adiciona ela. Aí acontece essa cena (ponto de vista de Finch):
"De repente, uma mensagem aparece na caixa de entrada.
Violet: Você me encurralou. Na frente de todo mundo.
Eu: Você aceitaria ser minha dupla se eu não tivesse feito aquilo?"
Ótimo quando a gente respeita o fato da outra pessoa talvez não querer ser nossa dupla no trabalho, né?
Depois, rola outra conversa pelo facebook sobre o trabalho (ponto de vista de Violet):
"Finch: Se você não quiser conversar pelo facebook, posso ir aí.
Eu: Agora?
Finch: Bom, teoricamente, em cinco ou dez minutos. Tenho que me vestir primeiro, a não ser que você prefira que eu vá pelado, além do tempo que vou gastar no caminho.
Eu: Está tarde.
Finch: Isso é relativo (...). A gente só vai conversar. Nada mais que isso. Não estou dando em cima de você.
Finch: A não ser que você queira. Que eu dê em cima de você.
Eu: Não.
Finch: "Não", você não quer que eu vá, ou "não", você não quer que eu dê em cima de você?
Eu: Os dois. Todas as anteriores.
Finch: Tá bom. A gente pode conversar na escola. Talvez na aula de geografia, ou posso procurar você no almoço. Você em geral está com Amanda e Roamer, né?
Ai, meu Deus. Faz isso parar. Faz ele desistir.
Eu: Se você vier aqui hoje, promete parar com isso de uma vez por todas?"
A mina já tá pedindo a Deus pro menino desistir e sumir. Sintomático. Talvez, só talvez, ele esteja forçando a barra.
Finch ignora que Violet claramente ta odiando tudo isso e manda na conversa seguinte (ponto de vista da Violet):
"Finch: (...) Você ainda vai me querer quando eu tiver quatro metros e oitenta de altura?
Eu: Como vou querer você com quatro metros e oitenta de altura se nem te quero agora?"
Não satisfeito, Finch diz na mesma conversa:
"(...) mas aí ele escreve: Me encontre no Quarry.
Eu: Não posso
Finch: Não me deixe esperando. Pensando melhor, encontro você aí.
Eu: Não posso.
Nenhuma resposta.
Eu: Finch?"
Além dela já ter demonstrado que não está gostando da situação e dito que não quer ele, Finch ainda ignora o "não" de Violet e vai até a casa dela (ponto de vista de Finch):
"Jogo pedras na janela, mas ela não desce. Penso em tocar a campainha, mas isso só acordaria seus pais. Tento esperar, mas a cortina não mexe e a porta não abre e está frio pra cacete, então entro no Tranqueira e vou pra casa"
Quando achamos que não pode ficar mais bizarro, chega a manhã seguinte (ponto de vista de Violet):
"Manhã seguinte. Minha casa. Saio pela porta e encontro Finch deitado no gramado, olhos fechados, botas pretas cruzadas na altura do tornozelo. A bicicleta está encostada ao seu lado, metade na rua e metade fora.
Chuto a sola de uma bota.
-Você ficou aqui fora a noite toda?
Ele abre os olhos.
-Então você sabia que eu estava aqui. É difícil saber se estamos sendo ignorados quando estamos, devo ressaltar, no frio congelante do ártico. - Ele levanta, coloca a mochila no ombro, pega a bicicleta".
Ela não te ignorou, amigo. Se alguém ignorou alguma coisa aqui, foi você quando ela disse não.
A partir daqui, eu parei de anotar esses trechos. Sim, tem muito mais coisa problemática.
Mas o pior de todos pra mim foi esse. Finch está com os dois melhores amigos e eles estão falando sobre violet (ponto de vista de Finch):
"De repente, não quero que Bren e Charlie falem sobre Violet , porque quero que ela seja só minha. Como no Natal em que eu tinha 8 anos e ganhei minha primeira guitarra, que batizei de Intocável, porque ninguém além de mim podia encostar nela"
O cara compara a mina a um objeto. Objetificação escancarada manda beijos.
Fora isso, ele a vê como uma posse que ninguém, além dele, pode encostar. Alguém avisa a Violet que ela ta entrando em um relacionamento abusivo.
Pelo menos, tem uma parte em que Finch quer de todo jeito que Violet entre no carro dele. Ela vira e fala:
"Você tem que parar de tentar convencer as pessoas a fazer o que elas não querem. Você é simplesmente invasivo"
Infelizmente, ela entra no carro contra sua vontade.
Resumindo:
Por lugares incríveis poderia ser um livro ótimo que desmistifica depressão para jovens e adolescentes, além de incentivá-los a procurar ajuda. Mas a romantização de assédio e a maneira abusiva com a qual é construído o relacionamento dos protagonistas estraga tudo.
quarta-feira, 12 de agosto de 2015
Livro 17: Guadalupe, de Angélica Freitas
Sinopse:
"Às vésperas de completar trinta anos, tudo o que Guadalupe
quer é esquecer seu trabalho no sebo de Minerva, seu tio travesti. É ela quem
pilota um furgão velho pela Cidade do México, apanhando coleções de livros que
Minerva arremata por poucos pesos de famílias enlutadas. O símbolo da Minerva
Libros é uma coruja, mas bem podia ser um abutre, um abutre com lantejoulas.
Em seu aniversário, Guadalupe só quer sair para beber e dançar com amigos. Mas um telefonema muda seus planos. No meio do pior engarrafamento do ano - ela aproveita engarrafamentos para ler os clássicos -, fica sabendo que a avó, Elvira, uma velhinha intrépida, morreu ao chocar sua scooter com uma banca de tacos sobre duas rodas.
Como Guadalupe tem o furgão, ela é a única que pode cumprir o último desejo da avó: um enterro com banda de música em Oaxaca, onde nasceu. Guadalupe embarca com Minerva e sua inseparável poodle, mais o caixão, rumo à cidade. No caminho, contrariando a opinião de Guadalupe, Minerva dá carona a um exótico rapaz, que se diz guatemalteco, e os problemas começam.
Neste road movie regado a mitologia asteca e cogumelos mágicos, a poeta Angélica Freitas e o quadrinista Odyr narram a divertida - e por vezes assustadora - história dessa viagem. Uma aventura inusitada ao coração do México, onde um embate contra as forças do mal é tudo menos o que parece ser."
"Nasceu em 1973, em Pelotas, no Rio Grande do Sul. Publicou,
entre outros, o premiado volume de poesias Rilke shake, além do
recente Um útero é do tamanho de um punho, ambos pela Cosac Naify.
Suas obras já foram traduzidas na Argentina, Espanha, México, Estados Unidos,
Alemanha e França."
Minha opinião:
(ALERTA DE SPOILERS!)
Guadalupe é uma HQ simples, tanto no traço quanto no texto, e de rápida leitura.
Angélica Freitas utiliza a mitologia asteca e cria a divindade Xyzótlan, a qual quer roubar a alma de sua falecida vó.
A trama principal da HQ é Guadalupe e Minerva levando Elvira para ser sepultada em Oaxaca enquanto um servo de Xyzótlan tenta roubar a alma da defunta. É uma trama bem simples sem grandes surpresas.
A força da obra está em sua originalidade. Como cogumelos mágicos alucinógenos que transformam Minerva em Muxe Maravilha. Ou a invocação do Village People para salvar o dia.
Uma coisa que eu curti foi o final da personagem. No lugar de encontrar um príncipe, ela encontra a si mesma.
É uma leitura para ser feita sem muita pretensão.
Ainda assim, eu esperava mais de uma obra de Angélica Freitas.
sexta-feira, 26 de junho de 2015
Livro 15: Lugar de mulher - de Ana Paula Barbi, Clara Averbuck e Mari Messias
Sinopse:
"Chega de sites de mulher com dicas de como secar a barriga, como se vestir pra agradar homem, como decorar sua casa com itens caríssimos, como ser poderosa em 12 lições. Chega de 'moda' que não cabe na maioria de nós enfiada goela abaixo. Chega de regras determinando como uma mulher deve ser, se portar, falar, existir.
O Lugar de Mulher, site criado em 2014 por Ana Paula Barbi,
Clara Averbuck e Mari Messias, percebeu o que muitos sites femininos ainda não
perceberam: mulher não se interessa só por roupa, cabelo, maquiagem, filhos e
enlouquecer seu homem em 16 passos.
Feminismo, cultura pop, corpo, sexo, política, auto-estima,
consumo e muito mais você encontrará nesta linda coletânea comemorativa com
textos publicados ao longo do primeiro ano de existência do site.
Porque lugar de mulher é onde ela quiser".
Minha opinião:
O Lugar de Mulher é, segundo as fundadoras, um site feminino com um filtro feminista. Ali elas falam de diversos assuntos que interessam a nós, mulheres, mas isso nem de longe é como agradar o gato ou emagrecer tantos quilos. Elas falam sobre roupas, mas também falam da importância do feminismo e de nos posicionarmos. Elas escrevem textos quebrando essa ideia de feminilidade que aprendemos desde crianças ou a ideia de que as outras mulheres são azinimiga. Os textos falam que, não, nós não precisamos agradar ninguém, sobre sororidade, sobre "mitos" relacionados a ser mulher e outras coisas maravilhosas.
Além das três fundadoras do site (e autoras do livro), o Lugar de Mulher também conta com textos de colaboradoras, como a escritora Aline Valek e a blogueira Djamila Ribeiro.
O site completou um ano no dia 28/04 e, pra comemorar a data, as três criadoras decidiram lançar um livro com os melhores textos desse um ano.
"Ai, mas eu vou pagar R$5,99 em um livro feito de textos que estão disponíveis gratuitamente na internet?"
Você pode pensar isso de algumas formas.
1) Como uma contribuição para um site que espalha amor e feminismo pela internet sem cobrar nada.
2) Como você não tem tempo de ler todos os textos publicados até hoje, pense que está pagando por uma curadoria dos melhores textos.
3) Porque é legal.
Pra dar uma amostra, vou deixar aqui o link de três textos (um de cada uma das autoras) que eu gosto e que estão no livro.
A dieta definitiva que você precisa fazer para ser feliz com seu corpo (Ana Paula Barbi)
A melhor amiga da colega é a colega (Clara Averbuck)
Diga não ao Homenzinho de Merda (Mari Messias)
Eu sou leitora do site, então acho que nem preciso falar se gostei do livro ou não.
O livro está disponível pela Amazon (aqui) e pode ser lido pelo app Kindle (tem versão pra celular e pra computador).
Além das três fundadoras do site (e autoras do livro), o Lugar de Mulher também conta com textos de colaboradoras, como a escritora Aline Valek e a blogueira Djamila Ribeiro.
O site completou um ano no dia 28/04 e, pra comemorar a data, as três criadoras decidiram lançar um livro com os melhores textos desse um ano.
"Ai, mas eu vou pagar R$5,99 em um livro feito de textos que estão disponíveis gratuitamente na internet?"
Você pode pensar isso de algumas formas.
1) Como uma contribuição para um site que espalha amor e feminismo pela internet sem cobrar nada.
2) Como você não tem tempo de ler todos os textos publicados até hoje, pense que está pagando por uma curadoria dos melhores textos.
3) Porque é legal.
Pra dar uma amostra, vou deixar aqui o link de três textos (um de cada uma das autoras) que eu gosto e que estão no livro.
A dieta definitiva que você precisa fazer para ser feliz com seu corpo (Ana Paula Barbi)
A melhor amiga da colega é a colega (Clara Averbuck)
Diga não ao Homenzinho de Merda (Mari Messias)
Eu sou leitora do site, então acho que nem preciso falar se gostei do livro ou não.
O livro está disponível pela Amazon (aqui) e pode ser lido pelo app Kindle (tem versão pra celular e pra computador).
sexta-feira, 15 de maio de 2015
Livro 14: Auri, a anfitriã - de Aline Moura e Bárbara Almeida
Se você nem percebeu, só continuar lendo como se nada tivesse acontecido)
Sinopse:
"Se eu fosse a dona desta casa, convidaria a entrar e tomar
um café. A conversa, certamente, pode ser longa. Contudo, não tenho autoridade
para tal convite. Isso está fora do meu alcance. Sou tão refém do sistema que
tudo rege quanto às mulheres que em mim vivem. Eu, a própria prisão. E elas,
minhas hóspedes. Prazer! Chamo-me Auri. Gosto quando dizem que eu sou a
anfitriã. Estou aqui para convidá-lo a ler uma história. Na verdade, um cruzamento
ininterrupto de histórias. Elas não são minhas, mas de minhas protegidas.
Esqueça a má fama construída por meus antepassados. Quero que conheça meu
labirinto através do que tenho a contar. Venho oferecer as memórias revividas
por Maribel, Jéssica, Cinara e Patrícia, mulheres que, ao desvendarem os
enigmas do passado, foram intensamente tocadas pelo cárcere. Entre, mas não
sente. Vamos passear pelas vidas das pessoas que dão sentido a minha
existência".
Sobre as autoras:
"A cearense Aline Moura é jornalista e escritora. Começou seus primeiros escritos literários ainda na adolescência, mas foi através do Jornalismo que encontrou seu desenvolvimento como escritora. Em 2010, licenciou-se em Letras pela Universidade Estadual do Ceará. Nos anos posteriores, trabalhou em comunicação governamental e jornalismo impresso. Em 2013, bacharelou-se em Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo, pela Universidade Federal do Ceará, defendendo como Trabalho de Conclusão de Curso o livro-reportagem 'Auri, a anfitriã'.
Bárbara Almeida é jornalista, brasileira, cearense, graduada pela Universidade Federal do Ceará. Descobriu-se repórter ante o fascínio por conhecer e imaginar histórias. A começar pelas contações do pai. Achou-se na prosa e poética da memória popular, das lutas sociais e das artes. No jornalismo atuou em diversas áreas. fixando-se na narrativa escrita para jornais, agências e comunicação estratégica. Atualmente, mestranda em Comunicação e Artes pela Universidade Nova de Lisboa. Residente em Lisboa, Portugual".
Minha opinião:
(Pode ser que minha abstinência de Orange Is The New Black tenha contribuído pra eu gostar tanto desse livro? Pode. Mas quem é totalmente imparcial?)
Auri, a anfitriã foi um livro produzido via crowdfunding (financiamento coletivo). Eu descobri a campanha de financiamento após ler um texto no Lugar de Mulher e fiquei curiosa para ver a qualidade da edição de um livro publicado de forma independente através de financiamento coletivo. Um pouco preconceituoso da minha parte, admito. Mas posso dizer que esse livro em termos de edição não deixa nada a desejar aos das editoras.
Auri, a anfitriã foi um livro produzido via crowdfunding (financiamento coletivo). Eu descobri a campanha de financiamento após ler um texto no Lugar de Mulher e fiquei curiosa para ver a qualidade da edição de um livro publicado de forma independente através de financiamento coletivo. Um pouco preconceituoso da minha parte, admito. Mas posso dizer que esse livro em termos de edição não deixa nada a desejar aos das editoras.
Trata-se de um livro-reportagem (TCC das autoras) sobre o
Instituto Penal Feminino Desembargadora Auri Moura Costa, a Auri do título. Somos apresentados, pela própria penitenciária, a três histórias (sem contar a da anfitriã) de
mulheres que, por diferentes razões, acabaram dentro dos muros da prisão. A
narrativa é extremamente lírica e mistura narrativa com diversas reflexões acerca
do sistema carcerário (em especial, o feminino) e sua eficiência. Fotos do
instituto penal, algumas bem poéticas, ilustram as histórias.
Conhecemos as estrangeiras Maribel e Jéssica, a amante de
livros Cinara e a ex-viciada em crack Patrícia. Cada uma com diferentes
características, delitos e histórias. Todas presas em um sistema criado e
regido por homens.
O interessante da narrativa é como ela nos aproxima das
presidiárias e nos faz ver do ponto de vista delas. Até que ponto aquelas mulheres ali detidas não foram também vítimas? O quanto carregar
a alcunha de ex-presidiárias vai impedi-las de construir um futuro diferente?
Podemos pensar no Jean Valjean, do filme Os Miseráveis de 2012 (não li o
livro do Victor Hugo, mals), vagando sem conseguir emprego ou um lugar pra ficar, tudo porque roubou
um pão para o sobrinho não morrer de fome e agora é um preso em condicional.
Acho um bom exemplo de como o sistema carcerário é ineficiente e, muitas vezes,
injusto.
Outro exemplo, esse de uma mulher presa no sistema criado e regido por homens, seria Tracy Whitney de Se houver amanhã.
-melhor Livro-reportagem no Expocom Nordeste;
-melhor Edição
de Livro no Expocom Nordeste;
-melhor Livro-reportagem no Expocom Nacional;
-melhor Edição de Livro no Expocom Nacional;
-melhor Trabalho de Conclusão de
Curso no prêmio de Gandhi de Comunicação.
Não tem indicação de outras resenhas, mas tem um booktrailer bem legal:
sexta-feira, 24 de abril de 2015
Combo 4 livros disponíveis gratuitamente na internet (e 1 não disponível)
Sempre que eu termino um livro do meu projeto de leitura, faço um post falando sobre ele. Hoje decidi fazer um combo de livros que eu não tenho conteúdo suficiente para um post inteiro.
4 deles estão disponíveis gratuitamente na internet.
Seu primeiro livro, O trágico e outras comédias, foi publicado pela editora portuguesa Angelus Novus, em 2003 e, no Brasil, pela 7Letras, em 2004. Pela Cosac Naify, publicou Gran cabaret demenzial(2007), Os anões (2010) e Opisanie swiata (2013), vencedor do Prêmio São Paulo de Literatura 2014. Alguns de seus contos foram traduzidos para o catalão, o espanhol, o francês e o italiano".
Sobre a autora: Heloisa Seixas nasceu no Rio, onde mora. É autora de mais de dez
livros de ficção, entre romances e volumes de contos, tendo sido por três vezes
finalista do Prêmio Jabuti. Heloisa também escreveu um livro de não-ficção
sobre o mal de Alzheimer de sua mãe, O lugar escuro (Objetiva,
2007), que depois adaptou para o teatro. É casada com o escritor Ruy Castro e
tem, de um casamento anterior, uma filha, Julia Romeu, tradutora e autora
teatral.
Sete vidas reúne sete contos sobre gatos. Não sou uma dessas pessoas apaixonadas pelos felinos a ponto de criar/acompanhar um twitter ou um tumblr usando os mesmos. Talvez por isso não tenha entendido tanto a pegada dos contos. Entretanto, é bem escrito. Uma leitura rápida e agradável.
Esse não tem para baixar gratuitamente (pelo menos, não de forma legal).
4 deles estão disponíveis gratuitamente na internet.
1) Diga meu nome e eu viverei, de Lady Sybylla
Sobre a autora: Lady Sybylla é geógrafa, professora, mestra em paleontologia e fã incondicional de ficção científica. Responsável pelo site Momentum Saga e uma das criadoras do selo Universo Descontruído.
Diga meu nome e eu viverei conta a história de Júlia, uma universitária tentando sobreviver ao apocalipse zumbi em São Paulo. Eu já disse que não conheço muito ficção científica. Isso faz com que não me sinta apta a comentar esse livro com propriedade. Também sou medrosa e, talvez, tenha deixado todas as luzes acesas e não tenha conseguido dormir depois de terminar a leitura. Apenas talvez. Em termos de escrita, é um livro simples e sem grandes pretensões. Também é uma leitura rápida, apenas 172 páginas.
O pdf pode ser baixado gratuitamente aqui.
Também tem uma versão mobi aqui.
E uma epub aqui.
Ah, tem a versão impressa no Clube de Autores, mas aí não é gratuito.
2) Almanaque D'elas, por vários autores
Esse não se encaixa bem na categoria livro como eu venho usando no meu projeto. Por isso, não vou fazer um post inteiro sobre.
Iniciativa da Rede Nacional Feminista de Saúde, Direito Sexuais e Reprodutivos, da Casa da Mulher Catarina e do Fundo Social ELAS. O Almanaque D'elas une textos com passatempos para esclarecer o que é feminismo. A edição é fofinha.
Pode ser baixado gratuitamente aqui.
3) Mulheres negras contam sua história, por várias autoras
Mulheres negras contam sua história é uma coletânea dos textos vencedores do prêmio homônimo. São textos escritos por mulheres negras diversas contando a própria história e refletindo sobre a questão racial na nossa sociedade. Uma leitura rápida, necessária e muito interessante.
Pode ser baixado gratuitamente aqui.
4) Os anões, de Veronica Stigger
Sobre a autora: "Gaúcha radicada em São Paulo desde 2001, Veronica Stigger é
doutora em história da arte, crítica de arte e professora universitária.
Defendeu tese sobre a relação entre arte, mito e modernidade, enfatizando as
obras de Kurt Schwitters, Marcel Duchamp, Piet Mondrian e Kasimir Malevitch. Em
seu pós-doutorado estudou, entre outros, os artistas brasileiros Maria
Martins e Flávio de Carvalho.
Seu primeiro livro, O trágico e outras comédias, foi publicado pela editora portuguesa Angelus Novus, em 2003 e, no Brasil, pela 7Letras, em 2004. Pela Cosac Naify, publicou Gran cabaret demenzial(2007), Os anões (2010) e Opisanie swiata (2013), vencedor do Prêmio São Paulo de Literatura 2014. Alguns de seus contos foram traduzidos para o catalão, o espanhol, o francês e o italiano".
Os anões mistura tipos de textos diferentes (conto, roteiro, anúncio etc.). Eu, particularmente, não gosto do estilo da Veronica Stigger. Mas alguém que curte um texto mais nonsense e escatológico, pode gostar.
O livro pode ser baixado gratuitamente aqui.
5) Sete vidas, de Heloisa Seixas
Sete vidas reúne sete contos sobre gatos. Não sou uma dessas pessoas apaixonadas pelos felinos a ponto de criar/acompanhar um twitter ou um tumblr usando os mesmos. Talvez por isso não tenha entendido tanto a pegada dos contos. Entretanto, é bem escrito. Uma leitura rápida e agradável.
Esse não tem para baixar gratuitamente (pelo menos, não de forma legal).
sexta-feira, 17 de abril de 2015
Livro 8: Meu corpo não é seu, de Think Olga
"Em abril de 2014, foi divulgada uma pesquisa do IPEA que
trouxe dados chocantes sobre a percepção da população do país diante da
violência sexual contra a mulher. O que mais chamou a atenção foi a informação
de que 65% dos brasileiros acreditava que mulheres usando roupas reveladoras
mereciam ser atacadas. Por dias, o assunto gerou intenso debate e campanhas que
mobilizaram milhares de pessoas. O número alarmante seria corrigido depois pelo
instituto de pesquisa, caindo para 26% - mas essa porcentagem não deixa de ser
expressiva e prova quão forte ainda é a mentalidade que responsabiliza a vítima
pelo crime que sofreu.
Com um texto claro e informativo, que une dados das
pesquisas e reflexões mais atuais a depoimentos pungentes de mulheres que
viveram situações de violência, este livro é fundamental para investigar por
que a violência contra a mulher ainda é um dos tipos de crime mais recorrentes no
mundo todo e por que tão pouco ainda é feito para preveni-la e denunciá-la".
"Olga é um think tank dedicado a elevar o nível da discussão
sobre feminilidade nos dias de hoje. Os novos tempos trouxeram novas
características, novos sonhos e novos objetivos para as mulheres… E Olga se
propõe a descobrir quem é essa nova mulher, o que ela quer hoje, e criar
conexões criativas mais reais e verdadeiras. A partir de um diálogo honesto,
encontraremos formas femininas de pensar a vida – e que elas não sejam todas
cor de rosa".
Minha opinião:
Eu tenho muita admiração pelas integrantes do Think Olga. Elas criaram a campanha Chega de Fiu-Fiu, estão produzindo um documentário sobre assédio nas ruas e lançaram esse e-book. Beijos pra vocês, suas lindas.
Meu corpo não é seu é um ensaio breve. Algo em torno de 32 páginas, dependendo do tamanho de fonte que você seleciona no leitor digital. Isso torna a obra concisa, mas não menos esclarecedora sobre a questão da violência contra a mulher. A obra trata os principais tipos dessa violência: feminicídio, violência doméstica, agressões físicas, ameaças psicológicas e assédio sexual. Além disso, busca passar pelos principais pontos da questão: o despreparo do governo ao lidar com esse tipo de violência; a errônea ideia de que essas agressões acontecem "quase como um assalto" por "um monstro desconhecido e encapuzado que some na noite escura", ao contrário, na maioria dos casos, são cometidas por alguém próximo ("o chefe que todos admiram, o namorado devoto e até aquele 'paizão' afetuoso"); a dificuldade de levar uma denúncia adiante, provocada pelo fato do agressor ser alguém próximo; a grande quantidade de vítimas que não chegam a denunciar; a sexualização muito precoce das mulheres; a socialização por meio do gênero; e outros tantos aspectos.
O e-book traz diversos dados para elucidar o tema:
"cerca de 70% das mulheres sofrem algum tipo de violência no decorrer de sua vida apenas por pertencer ao sexo feminino".
"uma em cada cinco mulheres, em todo o mundo, sofreu uma tentativa de estupro ou foi de fato estuprada ao longo da vida. Em alguns países, a proporção é de uma entre três".
O e-book traz diversos dados para elucidar o tema:
"cerca de 70% das mulheres sofrem algum tipo de violência no decorrer de sua vida apenas por pertencer ao sexo feminino".
"uma em cada cinco mulheres, em todo o mundo, sofreu uma tentativa de estupro ou foi de fato estuprada ao longo da vida. Em alguns países, a proporção é de uma entre três".
Ao longo da leitura, estão presentes também depoimentos de mulheres que passaram por uma situação de violência. Depoimentos tocantes e que me deixaram perplexa. Às vezes, não dá pra acreditar como esse nosso mundo é errado.
Eu recomendo a leitura para quem quiser entender melhor a questão da violência contra a mulher. E também para quem precisar de dados sobre o assunto.
Eu recomendo a leitura para quem quiser entender melhor a questão da violência contra a mulher. E também para quem precisar de dados sobre o assunto.
Hoje não tem indicação de outras resenhas. No lugar, vou deixar um vídeo do debate que rolou com as autoras no lançamento do e-book:
sexta-feira, 3 de abril de 2015
Livro 7: Objetos cortantes, de Gillian Flynn
"Em seu romance de estreia, Gillian Flynn, a autora de Garota
exemplar, dá um novo significado à expressão "família disfuncional".
Aclamado pela crítica e por autores como Stephen King, o thriller psicológico
Objetos cortantes recebeu da Crime Writer's Association os prestigiosos prêmios
Ian Fleming Steel Dagger e John Creasey (New Blood) Dagger.
Recém-saída de um hospital psiquiátrico, a repórter Camille
Preaker tem um desafio pela frente: retornar à sua cidade natal para investigar
o brutal assassinato de uma menina e o desaparecimento de outra. Desde que
deixou a pequena Wind Gap, no Missouri, oito anos antes, Camille quase não
falou com a mãe neurótica, o padrasto e a meia-irmã que praticamente não
conhece. Hospedada na casa da família, a jornalista precisa lidar com as
memórias difíceis de sua infância e adolescência. E à medida que as
investigações para elaborar sua matéria avançam, Camille passa a desvendar
segredos perturbadores, tão macabros quanto os problemas que ela própria
enfrenta".
"Gillian Flynn é jornalista e, antes de se dedicar
integralmente à carreira de escritora, trabalhou por dez anos como crítica de
cinema e TV para a Entertainment Weekly. Nascida na cidade de Kansas, no
Missouri, e formada em jornalismo e inglês pela Universidade do Kansas, Gillian
escreveu durante dois anos para uma revista de negócios na Califórnia e
concluiu um mestrado em jornalismo na Northwestern University, em Chicago.
Além de Garota exemplar, é autora dos premiados Sharp
Objects e Dark Places. Seus livros foram publicados em vinte e oito países e
tiveram os direitos de adaptação cinematográfica vendidos. Atualmente, Gillian
mora em Chicago com o marido e o filho".
Minha opinião:
Objetos Cortantes tem uma premissa batida. Primeiro, o clichê da mulher da cidade grande que retorna à sua cidade natal interiorana e precisa confrontar o seu passado. Depois, a ideia de um assassinato em série, que já foi utilizada diversas vezes em livros, filmes, séries, novelas etc.
Ideias batidas podem ser usadas para criar histórias boas e surpreendentes. Não foi o que aconteceu nesse livro. Pelo menos, não até a página 150.
Queria compartilhar a aflição que senti na parte em que a protagonista descreve seus cortes:
"Eu me corto, sabe? E pico, e fatio, e gravo e furo. Sou um caso muito especial. Eu tenho determinação. Minha pele grita, vê? Está coberta de palavras (...)
Lembro de sentir aquela palavra, pesada e ligeiramente viscosa, sobre meu osso púbico. A faca de carne da minha mãe. Cortando como uma criança ao longo de linhas vermelhas imaginárias. Limpando. Afundando mais. Limpando. Jogando cloro sobre a faca e me esgueirando pela cozinha para devolvê-la. Má. Alívio. Passei o resto do dia cuidando do meu ferimento. Afundei nas curvas do M com um cotonete mergulhado em álcool. Acariciei a bochecha até a ardência passar. Loção. Atadura. Repetir".
Aqui entra outro ponto que dificultou minha imersão na trama: a protagonista. Camille não é o tipo de personagem que gera simpatia no leitor e o faz torcer por ela. Não tem a ver com ser legal ou algo do tipo. Brás Cubas é um merda e, mesmo assim, gera esse sentimento. Alex (de Laranja mecânica) é um sociopata e, de maneira controversa, gera esse sentimento. Ler uma narrativa em primeira sem simpatizar com a protagonista que está narrando, torna a leitura monótona.
Há também umas partes bem problemáticas como essa, na qual Camille está falando com o cara responsável pelo caso:
"-Uma vez no oitavo ano, uma garota ficou bêbada em uma festa do ensino médio e quatro ou cinco caras do time de futebol fizeram sexo com ela, meio que passaram de um para o outro. Isso conta?
-Camille. Claro que conta. (...) A polícia foi notificada?
-Claro que não.
-Fico surpreso por ela não ter sido obrigada a se desculpar por eles a terem estuprado. Oitavo ano. Isso me deixa enojado.
Ele tentou pegar minha mão novamente, mas eu a pousei no colo.
-Então é a idade que faz disso estupro - falei.
-Seria estupro em qualquer idade.
-Se eu ficasse bêbada além da conta esta noite, perdesse a cabeça e fizesse sexo com quatro caras, isso seria estupro?
-Legalmente não sei, dependeria de muitas coisas, como seu advogado. Mas eticamente, sim.
-Você é machista.
-O quê?
-Você é machista. Estou farta de homens liberais de esquerda praticando discriminação sexual sob o disfarce de proteger as mulheres da discriminação sexual".
Camille, amiga, senta aqui. Vamos conversar. Só porque você na sua experiência não considerou estupro, não significa que não seja. Muitas meninas foram abusadas por caras quando bêbadas e isso gera traumas profundos. Dizer (continuação do trecho): "algumas vezes mulheres bêbadas não são estupradas; elas simplesmente fazem escolhas idiotas", é relativizar o abuso e a violência sofridos por tantas mulheres. E sobre: "dizer que merecemos tratamento especial quando estamos bêbadas porque somos mulheres, dizer que precisamos ser cuidadas, isso é ofensivo", infelizmente é importante cuidar da amiguinha bêbada, sim, enquanto existir homem que aproveita o estado da moça para estuprar.
Então para não ficar nenhuma dúvida: quatro caras transando com uma menina bêbada é estupro porque ela não tem como consentir.
Voltando ao livro, finalmente chega a página 150 e a história engrena. Aí são 100 páginas de tensão. Nessa parte, eu torci pela protagonista e tive momentos de "sai daí, miga!".
Tudo certo, tudo lindo. Até chegar a última página e aparecer o desfecho da personagem. Aí eu fiquei ???
Também acho que o final ficou muito corrido. Parecia que a autora queria terminar logo a história. Talvez ficasse menos ??? se fosse mais desenvolvido.
Também acho que o final ficou muito corrido. Parecia que a autora queria terminar logo a história. Talvez ficasse menos ??? se fosse mais desenvolvido.
Saldo final: achei o livro monótono até mais da metade e não indicaria a leitura. A não ser para uma pessoa que quisesse apenas 100 páginas (de 252) interessantes.
Resenhas legais:
Vou deixar aqui os links de duas resenhas de pessoas que, ao contrário de mim, gostaram do livro:
Resenha da Confeitaria
Resenha do Indique um Livro
Resenhas legais:
Vou deixar aqui os links de duas resenhas de pessoas que, ao contrário de mim, gostaram do livro:
Resenha da Confeitaria
Resenha do Indique um Livro
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