sexta-feira, 3 de abril de 2015

Livro 7: Objetos cortantes, de Gillian Flynn



"Em seu romance de estreia, Gillian Flynn, a autora de Garota exemplar, dá um novo significado à expressão "família disfuncional". Aclamado pela crítica e por autores como Stephen King, o thriller psicológico Objetos cortantes recebeu da Crime Writer's Association os prestigiosos prêmios Ian Fleming Steel Dagger e John Creasey (New Blood) Dagger.

Recém-saída de um hospital psiquiátrico, a repórter Camille Preaker tem um desafio pela frente: retornar à sua cidade natal para investigar o brutal assassinato de uma menina e o desaparecimento de outra. Desde que deixou a pequena Wind Gap, no Missouri, oito anos antes, Camille quase não falou com a mãe neurótica, o padrasto e a meia-irmã que praticamente não conhece. Hospedada na casa da família, a jornalista precisa lidar com as memórias difíceis de sua infância e adolescência. E à medida que as investigações para elaborar sua matéria avançam, Camille passa a desvendar segredos perturbadores, tão macabros quanto os problemas que ela própria enfrenta".


"Gillian Flynn é jornalista e, antes de se dedicar integralmente à carreira de escritora, trabalhou por dez anos como crítica de cinema e TV para a Entertainment Weekly. Nascida na cidade de Kansas, no Missouri, e formada em jornalismo e inglês pela Universidade do Kansas, Gillian escreveu durante dois anos para uma revista de negócios na Califórnia e concluiu um mestrado em jornalismo na Northwestern University, em Chicago.

Além de Garota exemplar, é autora dos premiados Sharp Objects e Dark Places. Seus livros foram publicados em vinte e oito países e tiveram os direitos de adaptação cinematográfica vendidos. Atualmente, Gillian mora em Chicago com o marido e o filho".


Minha opinião:
Objetos Cortantes tem uma premissa batida. Primeiro, o clichê da mulher da cidade grande que retorna à sua cidade natal interiorana e precisa confrontar o seu passado. Depois, a ideia de um assassinato em série, que já foi utilizada diversas vezes em livros, filmes, séries, novelas etc.

Ideias batidas podem ser usadas para criar histórias boas e surpreendentes. Não foi o que aconteceu nesse livro. Pelo menos, não até a página 150.

Queria compartilhar a aflição que senti na parte em que a protagonista descreve seus cortes:

"Eu me corto, sabe? E pico, e fatio, e gravo e furo. Sou um caso muito especial. Eu tenho determinação. Minha pele grita, vê? Está coberta de palavras (...)

Lembro de sentir aquela palavra, pesada e ligeiramente viscosa, sobre meu osso púbico. A faca de carne da minha mãe. Cortando como uma criança ao longo de linhas vermelhas imaginárias. Limpando. Afundando mais. Limpando. Jogando cloro sobre a faca e me esgueirando pela cozinha para devolvê-la. Má. Alívio. Passei o resto do dia cuidando do meu ferimento. Afundei nas curvas do M com um cotonete mergulhado em álcool. Acariciei a bochecha até a ardência passar. Loção. Atadura. Repetir".

Aqui entra outro ponto que dificultou minha imersão na trama: a protagonista. Camille não é o tipo de personagem que gera simpatia no leitor e o faz torcer por ela. Não tem a ver com ser legal ou algo do tipo. Brás Cubas é um merda e, mesmo assim, gera esse sentimento. Alex (de Laranja mecânica) é um sociopata e, de maneira controversa, gera esse sentimento. Ler uma narrativa em primeira sem simpatizar com a protagonista que está narrando, torna a leitura monótona.

Há também umas partes bem problemáticas como essa, na qual Camille está falando com o cara responsável pelo caso:

"-Uma vez no oitavo ano, uma garota ficou bêbada em uma festa do ensino médio e quatro ou cinco caras do time de futebol fizeram sexo com ela, meio que passaram de um para o outro. Isso conta?

-Camille. Claro que conta. (...) A polícia foi notificada?

-Claro que não.

-Fico surpreso por ela não ter sido obrigada a se desculpar por eles a terem estuprado. Oitavo ano. Isso me deixa enojado.

Ele tentou pegar minha mão novamente, mas eu a pousei no colo.

-Então é a idade que faz disso estupro - falei.

-Seria estupro em qualquer idade.

-Se eu ficasse bêbada além da conta esta noite, perdesse a cabeça e fizesse sexo com quatro caras, isso seria estupro?

-Legalmente não sei, dependeria de muitas coisas, como seu advogado. Mas eticamente, sim.

-Você é machista.

-O quê?

-Você é machista. Estou farta de homens liberais de esquerda praticando discriminação sexual sob o disfarce de proteger as mulheres da discriminação sexual".


Camille, amiga, senta aqui. Vamos conversar. Só porque você na sua experiência não considerou estupro, não significa que não seja. Muitas meninas foram abusadas por caras quando bêbadas e isso gera traumas profundos. Dizer (continuação do trecho): "algumas vezes mulheres bêbadas não são estupradas; elas simplesmente fazem escolhas idiotas", é relativizar o abuso e a violência sofridos por tantas mulheres. E sobre: "dizer que merecemos tratamento especial quando estamos bêbadas porque somos mulheres, dizer que precisamos ser cuidadas, isso é ofensivo", infelizmente é importante cuidar da amiguinha bêbada, sim, enquanto existir homem que aproveita o estado da moça para estuprar.

Então para não ficar nenhuma dúvida: quatro caras transando com uma menina bêbada é estupro porque ela não tem como consentir.

Voltando ao livro, finalmente chega a página 150 e a história engrena. Aí são 100 páginas de tensão. Nessa parte, eu torci pela protagonista e tive momentos de "sai daí, miga!".

Tudo certo, tudo lindo. Até chegar a última página e aparecer o desfecho da personagem. Aí eu fiquei ???

Também acho que o final ficou muito corrido. Parecia que a autora queria terminar logo a história. Talvez ficasse menos ??? se fosse mais desenvolvido.

Saldo final: achei o livro monótono até mais da metade e não indicaria a leitura. A não ser para uma pessoa que quisesse apenas 100 páginas (de 252) interessantes.


Resenhas legais:
Vou deixar aqui os links de duas resenhas de pessoas que, ao contrário de mim, gostaram do livro:

Resenha da Confeitaria

Resenha do Indique um Livro

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