Blog destinado aos meus textos e poesias.
Cada texto ou poema aqui escrito nasceu em um dia desimportante e compõe um pouco do segmento de reta que sou.
Gosto de ouvir histórias alheias. Sinto que parte de mim se alimenta delas.
Uma vez, quando era mais nova, me disseram que sou boa em ouvir. Aquilo, de certa forma, se tornou pedaço de mim. Ouvindo, percebi que podia conhecer melhor as pessoas. Já disse Eduardo Coutinho*: "Ser ouvido é uma das necessidades mais importantes do ser
humano. Ser ouvido é ser legitimado". Percebi que podia ajudar as pessoas a se legitimarem. Tudo muito egoísta, mas nem tanto.
Dizem que lemos histórias para viver mais coisas do que seria possível em apenas uma vida. Ouvi-las também me permite isso.
Ouvir permite conhecer outro ponto de vista, de alguém diferente de mim. Entender. Ter empatia. Ampliar a visão.
Permite encontrar pontos em comum com o outro. Mesmas dúvidas, angústias, alegrias. Saber que não estou sozinha nessa jornada tão estranha e solitária que chamamos viver.
Ouvir histórias alheias mostra que nossa vida tem um quê de magia. Aquelas situações tornadas corriqueiras pelo emaranhado da rotina podem retomar seu verdadeiro valor quando contadas da maneira certa. Nos dias em que nada faz muito sentido a não ser acabar, lembro desse quê (ainda que pequeno) de magia.
Prestar atenção nas histórias dos outros me faz vê-las como importantes e lembrar que a minha também importa.
*Citação tirada do documentário Eduardo Coutinho, 7 de Outubro.
Como estou de férias enterrada em séries e chocolate, vou responder mais uma TAG, Essa foi retirada da página do Skoob no fb. Eles lançaram em 2012 e estou levemente atrasada, mas o que vale é a intenção.
Eu gosto bastante do Skoob, que é uma rede social de livros, e uso pra organizar minhas leituras. Fora que eles sorteiam livros. Nunca ganhei, mas vai que um dia.
1) Quantos livros lidos você tem na sua aba LIDO no Skoob?
175 livros.
Pra ser sincera, eu acho pouco. Mas vida que segue.
2) Qual livro você está lendo?
Alguns (sou meio desorganizada). Se for pelo Skoob, 10:
-Lugares escuros, de Gillian Flynn
-Ariel, de Sylvia Plath
-Mrs. Dalloway, de Virginia Woolf
-Verão no aquário, de Lygia Fagundes Telles
-As boas mulheres da China, de Xinran
-Orange is the new black, de Piper Kerman
-O amante, de Marguerite Duras
-A revista #10 de Sailor moon
-Paris é uma festa, de Ernest Hemingway
-O continente, de Erico Verissimo
Os dois últimos parei temporariamente porque meu projeto de leitura desse ano é ler somente livros escritos por mulheres.
3) Quantos livros você tem na sua aba vai ler?
116 livros.
Isso porque deixo de marcar vários livros que quero ler. Talvez pra não ficar com aquela angústia de "vida é tão curta pra ler tudo que eu quero".
4) Você está relendo algum livro? Qual é?
Não.
Não costumo reler livros.
5) Quantos livros você já abandonou? Quais são eles?
13 livros.
-O morro dos ventos uivantes, de Emily Brontë
-O corpo fala, de Pierre Weil
-O primo Basílio, de Eça de Queirós
-Antologia poética, de Murilo Mendes
-Wild cards, de George R. R. Martin
-Mídia: teoria e política, de Venício A. de Lima
-Os sofrimentos do jovem Werther, de Goethe
-Viagens na minha terra, de Almeida Garrett
-Elogio da loucura, de Erasmo
-Uma história social da mídia, de Peter Burke
-O palácio de inverno, de John Boyne
-O encontro, de Anne Enright
-Gran cabaret demenzial, de Veronica Stigger
Alguns pretendo retomar um dia.
6) Quantas resenhas você tem cadastradas no Skoob?
Seis.
Sei lá, tenho vergoinha de postar resenha lá.
7) Quantos livros avaliados você tem na sua lista?
15 livros.
8) Na aba favoritos, quantos livros você tem registrados? Cite alguns.
6 livros.
-Ciranda de pedra, de Lygia Fagundes Telles
-As meninas, de Lygia Fagundes Telles
-Americanah, de Chimamanda Ngozi Adichie
-Persépolis, de Marjane Satrapi
9) Quantos livros você tem na aba tenho?
193 livros (tanto papel quanto digital).
Surpresa, pois não esperava ter tantos livros.
10) Quantos livros você tem nos desejados?
Só 17 livros.
Eu uso pouco esse recurso porque prefiro fazer wishlists na Amazon. Inclusive, aceitando livros.
11) Quantos livros emprestados no momento? Quais?
No momento, nenhum livro emprestado.
12) Você quer trocar algum livro? Quais são?
Quero trocar 8 livros.
-Saudade, Claudio Hochman
-Viagens na minha terra, de Almeida Garrett
-O palácio de inverno, de John Boyne
-O encontro, de Anne Enright
-Travessuras da menina má, de Mario Vargas Llosa
-Sete vidas, de Heloisa Seixas
-A farsa de Inês Pereira, de Gil Vicente
-A hora do amor, de Álvaro Cardoso Gomes
Inclusive se alguém se interessar por algum deles, me avise.
13) Na aba meta, quantos livros você tem marcados? Cumpriu essa meta?
Sinopse:
"Genly Ai foi enviado a Gethen com a missão de convencer seus
governantes a se unirem a uma grande comunidade universal. Ao chegar no planeta
Inverno, como é conhecido por aqueles que já vivenciaram seu clima gelado, o
experiente emissário sente-se completamente despreparado para a situação que
lhe aguardava. Os habitantes de Gethen fazem parte de uma cultura rica e quase
medieval, estranhamente bela e mortalmente intrigante. Nessa sociedade
complexa, homens e mulheres são um só e nenhum ao mesmo tempo. Os indivíduos
não possuem sexo definido e, como resultado, não há qualquer forma de
discriminação de gênero, sendo essas as bases da vida do planeta. Mas Genly é humano
demais. A menos que consiga superar os preconceitos nele enraizados a respeito
dos significados de feminino e masculino, ele corre o risco de destruir tanto
sua missão quanto a si mesmo".
Sobre a autora:
"A escritora norte-americana Ursula K. Le Guin é um dos
maiores nomes da ficção científica mundial. Seus trabalhos já foram adaptados
para a televisão, para o cinema e até mesmo para o universo da animação.
Vencedora de mais de 50 prêmios literários, também é poetisa, ensaísta e autora
de livros infantis. Além de 'A mão esquerda da escuridão', é conhecida por
obras como 'Os despossuídos', o ciclo fantástico 'Terramar' e o infanto-juvenil
'The farthest shore', além de ter sido indicada ao Pulitzer pelo livro de
contos 'Searoad'".
Minha opinião:
Li A mão esquerda da escuridão para o clube de leitura #leiamulheres de maio.
(Super recomendo o clube)
Enrolei desde maio pra escrever sobre esse livro por se tratar de ficção científica. Como já disse, eu não conheço muito o gênero e não me sinto segura de discorrer sobre ele. Aqui vou colocar minhas opiniões e algumas visões que ouvi durante o clube.
O livro se passa em um planeta chamado Gethen. O planeta é extremamente frio, tendo sido chamado de Inverno pelos humanos no passado. A frieza permeia toda a narrativa. Seja no jeito dos personagens, nos costumes do planeta ou na narrativa (lenta, quase congelada).
Os habitantes de Gethen não possuem sexo definido. Eles são andróginos na maior parte do tempo. Uma vez por mês, cada habitante entra no chamado kemmer. Durante esse período, o habitante pode assumir tanto a forma feminina quanto a masculina. A mesma pessoa pode assumir as duas formas durante a vida. Também é somente durante esse período que ele sente desejo sexual. O protagonista, Genly Ai (um humano), é chamado de O Pervertido por eles por estar em "kemmer eterno" (eu ri quando li isso).
Eu tive um problema para imaginar os personagens porque a única pessoa andrógina que vem na minha cabeça é o Bill Kaulitz. Chegou uma hora que eu tava imaginando todo mundo como ele.
Bill Kaulitz, vocalista da banda Tokio Hotel
Esse não-binarismo dos personagens pode gerar diversas discussões.
A própria questão do gênero é uma delas. Estamos acostumados a separar as pessoas em duas caixas: masculino e feminino. Tanto que a primeira pergunta que alguém faz sobre um bebê que ainda não nasceu é "menino ou menina?". A resposta dessa pergunta vai definir uma série de coisas na vida desse bebê, desde a cor do quarto até o quanto ele (ou ela) vai ser visto como ser humano. Imagina uma sociedade em que não há essa divisão e na qual as pessoas são os dois ao mesmo tempo.
Daí entra a questão do estranhamento e do preconceito. Genly Ai é muito preconceituoso. Ele diminui aqueles habitantes que apresentam características ""femininas"". Apenas um pequeno trecho pra sentir: "Agiam como animais, nesse aspecto; ou como mulheres". Ele é o típico homem da nossa sociedade.
Outra questão é o desejo sexual. Aparece uma teoria de que essa pulsão do desejo sexual, permanente em nós, é o que gera, por exemplo, as guerras. Falando assim, não faz tanto sentido. Tem que ler pra entender. O motivo de não existir grandes conflitos em Gethen seria a inexistência dessa pulsão, uma vez que o desejo sexual só se manifesta uma vez por mês e dura pouco.
A trama de Genly Ai aparece intercalada com histórias da mitologia do planeta (também com alguns relatórios e diários). Essas histórias podem parecer sem muito sentido, mas estão ali pra ajudar a entender a forma de pensamento e a visão daquele povo.
Le Guin cria um verdadeiro mundo. Um mundo que abriga conceitos como shifgrethor e que só fazem sentido no contexto dele. Admiro essa mulher.
A narrativa é lenta e detalhista tanto para nos fazer entrar no clima daquele planeta quanto para detalhar esse mundo diferente. É preciso paciência pra ler esse livro até o fim.
(A partir daqui, spoilers)
Uma pessoa do clube comentou que o livro é uma história de amor entre Genly e Estraven. Acho que é uma interpretação válida.
Genly não gosta de Estraven (vive falando que ele tem características ""femininas"", aff). Até que os dois estão sozinhos em uma barraca no meio do nada. Estraven está no kemmer. Então, Genly percebe que não gosta de Estraven por que ele poderia ser uma mulher. Ou seja, o protagonista se sente atraído por ele.
Estraven manda Genly ficar longe porque está no kemmer.
Por um microssegundo, a gente acha que vai rolar uma pegação intergaláctica bem louca. Não rola.
Mas acho a interpretação válida porque eles têm uma relação muito profunda.
Não vou entrar em maiores detalhes pra não entregar o final do livro. E porque isso depende de uma outra história mitológica que está lá.
O nome do livro vem de um poema presente na supracitada história mitológica.
Luz é a mão esquerda da escuridão
e escuridão, a mão direita da luz.
Dois são um, vida e morte, unidas
como amantes no kemmer,
como mãos entrelaçadas,
como o fim e a jornada.
Coloquei aqui porque eu fiquei esperando, durante toda narrativa, uma mão surgir do além.
(Fim dos spoilers)
Achei um livro muito bom.
Recomendo pra quem curte ficção científica (ou não) e tem paciência pra uma narrativa detalhista e lenta.
Semana passada, eu estava na FLIP (Festa Literária Internacional de Paraty). Foi a primeira vez que fui e, cara, que dias maravilhosos. No meu mundo ideal, todo dia seria FLIP.
Vou compartilhar aqui essa experiência.
(Preparem-se para um post enorme)
Cheguei lá na quarta. Primeira coisa que me fez dar pulinhos foi ver que a Livraria da Travessa estava vendendo livros ao lado da tenda principal. Como estudante de editoração que sou, já quis logo ver todos os livros e edições. Não rolou.
A quinta começou com uma mesa na Casa da Cultura com o Luiz Ruffato e o João Anzanello Carrascoza com o tema "A origem das histórias". Confesso que fui mais pelo tema do que pelos dois escritores.
Já tinha ouvido falar do Luiz Ruffato por causa de Eles eram muitos cavalos, que tem a temática de São Paulo e tals, mas nada além de "ah, cara legal". Mas, gente, ele é muito legal. Pensa naquela pessoa que só falando já parece literatura. Ele contando as histórias da infância, eu conseguia ver a cena na minha frente. Ele também é muito engraçado.
(Sim, estou ilustrando post com tweets meus. Pra alguma coisa eles têm que servir)
O Carrascoza eu não sabia quem era até ele mostrar seu livro Caderno de um ausente. Aí foi "aaah, ele é o autor desse livro". A propósito, é um livro com um projeto editorial bem interessante.
Carrascoza mostrou dois vídeos de uma coletânea de microcontos que vai lançar com o Itaú Cultural. Cada microconto tem menos de 140 caracteres (uma referência ao twitter). Achei tão legal que vou deixar os dois vídeos aqui.
Depois fui assistir uma mesa sobre a lei do preço fixo do livro. Chego lá e vários caras importantes do mercado editorial. Pra ter noção, os palestrantes eram os presidentes do SNEL (Sindicato Nacional dos Editores de Livro), da CBL (Câmara Brasileira do Livro), da IPA (International Publisher Association) e do BIEF (Escritório Internacional da Edição Francesa).
Eu não sabia quem eram os palestrantes, então tive um momento "noooooossa".
Aí o cara fala com a maior naturalidade: "Tô vendo várias pessoas do mercado editorial aqui. Pedro Herz da Livraria Cultura". E eu pessoa que ainda está na faculdade de editoração super "isso é tão legal!".
Depois era hora de ver minha primeira mesa da programação principal da FLIP. Era "A poesia em 2015". Sendo mais uma vez sincera, eu não conhecia os dois poetas convidados: Matilde Campilho e Mariano Marovatto. Mas fui assistir porque curto poesia.
Gente, como a Matilde Campilho é uma pessoa maravilhosa. Pensa numa pessoa que, quando fala, já parece uma poesia.
Ela foi aplaudida várias vezes no meio da fala.
Vou deixar aqui um vídeo dela declamando Roma amor (um dos poemas de seu livro Jóquei) na mesa.
Antes tem o Mariano lendo poemas de seu livro Casa. Se não quiser ver tudo, pula logo pra Matilde.
O que achei legal também é que Jóquei foi o livro mais vendido da FLIP. Legal por dois motivos:
1) por ser um livro de poesia;
2) por ser um livro escrito por uma mulher.
Teve G1 fazendo notícia escrota.
Mas também teve povo do twitter respondendo.
Uma frase da Matilde que eu gostei muito foi quando ela disse que tá tudo arrebentado seja no mundo, seja na vida das pessoas. A poesia não conserta isso, mas salva o minuto.
À noite teve um sarau com a Elisa Lucinda em uma capela. Tinha 80 senhas pro sentado e 30 pro em pé. As primeiras 80 esgotaram em menos de 10 minutos. Eu fiquei uma hora na fila pra conseguir uma das outras 30.
Foi tanta gente querendo assistir que, no final, decidiram fazer duas sessões.
Eu ainda tive sorte porque consegui um espacinho em um banco. E aconteceu a coisa mais aleatória da vida. Sentei do lado de uma moça da Inglaterra e, conversando, ela pegou o panfleto do evento e mostrou o nome dela. A moça é uma poetisa que veio pra FLIP fazer uma performance poética.
Acho que nunca mais sento do lado e troco ideia com uma poetisa inglesa convidada pra se apresentar na FLIP.
Lucinda se apresentou com um poeta inglês: Lemn Sissay.
Vou deixar um vídeo curto dele declamando caso alguém queira ver.
Elisa Lucinda escreve poesia, canta e é atriz. Quase nada.
Na bienal do ano passado, ela declamou uma poesia sobre uma geladeira. Tipo, a mulher é tão incrível que pode fazer uma poema sobre uma geladeira e todo mundo curtir.
Também vou deixar ela um vídeo dela declamando uma de suas poesias mais conhecidas: Aviso da lua que menstrua.
Isso tudo foi a quinta.
A sexta começou com uma mesa da programação principal: São Paulo! Comoção de minha vida. Era uma mesa pra falar da relação do Mário de Andrade (homenageado dessa edição) com a cidade de São Paulo.
Teve uma pergunta da plateia sobre "o que Mário de Andrade diria sobre os livros de colorir?". Só queria dizer: galera, segurem essa obsessão com os livros de colorir. Deixa o povo lá feliz colorindo.
O que me irritou nessa mesa foi como os caras passaram tempão falando de Oswald de Andrade, Paulo Prado, Carlos Drummond de Andrade e ignoraram Anita Malfatti e Tarsila do Amaral. Quando citaram a Anita foi só pra dizer como Oswald, Mário e Paulo a defenderam das críticas do Monteiro Lobato.
Aí eles foram falar sobre o Ciccillo Matarazzo. Porque ele fez o MAM (Museu de Arte Moderna), o TBC (Teatro Brasileiro de Comédia), a Vera Cruz e criou a Bienal de Arte. Só esqueceram do fato de que ele não fez isso sozinho. Yolanda Penteado tava lá. Quando citaram ela, foi uma coisa "ah, verdade, teve uma ajudazinha dela".
Pensa como eu saí irritada dessa mesa.
Mas logo depois, estava andando pela rua quando vi a Jout Jout. Fui lá fangirlizar e consegui uma foto!
Ela é tão legal!
E o namorado dela é real. Já posso dizer que vi Caio.
(Pra quem não sabe do que eu to falando, pode acessar o canal dela aqui)
Agora preciso fazer um parêntesis para contar uma história.
Parêntesis:
Esse ano a FLIP trouxe o escritor queniano Ngugi Wa Thiong'o. Eu estudei sobre esse homem na faculdade e preciso compartilhar com vocês.
"Ngugi Wa Thiong'o é um dos mais importantes escritores africanos. Além da literatura, dedica-se a um trabalho de reflexão sobre as condições da língua e da cultura da África a partir de um ponto de vista pós-colonial, e procura compreender em quais condições é possível produzir uma escrita e uma cultura original depois de séculos de domínio estrangeiro. E, em Descolonizing the mind, faz uma análise dos esfeitos do colonialismo sobre a cultura, a mente e o sistema de pensamento das ex-colônias.
O livro, escrito originalmente em inglês, representa o adeus de Wa Thiong'o a esse idioma: a partir daí, só escreveria em sua língua natal, gikuyu, idioma originário do Quênia. Acadêmico reconhecido internacionalmente, com cátedra em escolas europeias e universidades norte-americanas, a decisão de Wa Thiong'o surpreendeu seus colegas e provocou reações contraditórias, da perplexidade à hostilidade declarada. No entanto, como explica no livro, a decisão foi a consequência lógica de sua convicções políticas: qual o sentido de escrever em inglês, língua outorgada pelo colonizador, quando sua língua materna e maneira original de expressão era o gikuyu?"
Por essa decisão de só escrever em gikuyu, Ngugui chegou a ser preso. Além de sua obra passar a ter uma circulação mais restrita. Mas continuou com suas convicções.
Não sei vocês, mas eu achei esse escritor incrível.
Fim do parêntesis.
A mesa "Escrever ao sul", da qual Ngugui participaria, era a que eu mais queria ver na FLIP. Mas os ingressos esgotaram em menos de 24h.
Cheguei antes do horário da mesa e entrei no que eles chamam de fila do último minuto. Caso sobre algum lugar dentro da tenda, você pode conseguir um ingresso.
Quando aconteceu a coisa mais aleatória da vida. Uma moça apareceu, perguntou se eu queria ingresso e me deu os dela DE GRAÇA.
Moça, se um dia ler isso, obrigada por ser tão maravilhosa.
Vou deixar vídeo do Ngugi falando na mesa "Escrever ao sul" sobre seu livro Um grão de trigo.
Sábado fui ver uma mesa com David Hare. Continuando a sinceridade, descobri quem ele era apenas na fila pra entrar na tenda.
Para quem não sabe, David Hare é um reconhecido dratamurgo inglês. Ele escreveu o roteiro dos filmes As horas e O leitor.
Fica aqui um trecho da mesa com ele.
Mais tarde, fui pra Casa Rocco para o debate "Ocupação do espaço literário: autores e personagens fora do padrão". Por apenas um motivo: Aline Valek, uma escritora de quem sou fã confessa, estaria lá.
No final, consegui tietar a Aline e tirar uma foto com ela <3
Se hoje eu sou feminista, parte devo aos textos dessa moça.
Aline tem uma newsletter que pode ser assinada de graça aqui. Eu sempre recomendo.
Sobre sua experiência na FLIP e a representação feminina na literatura, Aline escreveu aqui.
No final do dia, consegui ingresso pra outra mesa que eu queria muito ir, mas tinha esgotado em menos de 24h. A mesa "Desperdiçando verso", com a Karina Buhr e o Arnaldo Antunes (que eu achei que fosse o Guilherme Arantes).
Os micão que a pessoa paga
Mas eu estava lá por causa da Karina mesmo, então, dane-se Arnaldo.
Foi uma das mesas mais legais.
Karina canta, escreve, toca e desenha. Tipo, humilha.
Depois da mesa, teve sessão de autógrafo com eles. Fiquei umas duas horas na fila pra Karina assinar meu exemplar de Desperdiçando rima. Não me arrependo.
Ela é super simpática e achou meu nome bonito (pelo menos é o que diz a dedicatória).
Os micão de escrever o nome errado
E fazia um desenho pra cada pessoa junto com a dedicatória.
Trecho da mesa "Desperdiçando verso" aqui embaixo.
Assisti uma mesa sobre literatura policial com a Sophie Hannah e o Leonardo Padura. Depois, entrei na fila pra eles assinarem meus livros.
Quando chegou minha vez, falei pro Padura que ele era muito fofinho. Ele me olhou com cara de ??? e só respondeu "Gracias". Sim, não tenho nenhum comentário literário mó legal pra fazer pro cara.
Pra Sophie, falei "Miga, cê é destruidora". Ela "Thank you".
Depois desse momento interagir com autores, fiquei uma hora e meia do lado do camarim esperando o Ngugi Wa Thiong'o aparecer para a última mesa e pedir pra ele assinar meu livro.
Falei que tinha estudado sobre ele, que tinha mó admiração e o negócio todo. Ele respondeu com "Thank you". Quase BFFs a gente.
Ainda tirei uma foto dele com duas meninas que estavam trabalhando no evento.
E o mais importante: consegui a assinatura.
Prova de que eu consegui
Pra encerrar, assisti a tradicional mesa "Livro de cabeceira", que encerra a FLIP todos os anos. Nela, cada autor lê um trecho de um livro que levaria pra uma ilha deserta.
Achei legal que o Richard Flanagan (autor australiano) leu um conto do Guimarães Rosa: A terceira margem do rio.
Também achei simbólico a Ayelet Waldman ler um trecho de Um teto todo seu, da Virginia Woolf, em uma FLIP que foi criticada por trazer poucas autoras mulheres.
Sem falar que em 13 edições a FLIP só homenageou uma mulher: Clarice Lispector.
Por isso, urrei um pouco quando Ayelet começou a ler.
Essa sexta estou na FLIP pirando com tantos autores maravilhosos em um lugar só e tietando muito. Por isso, fiz o post da semana com bastante antecedência e precisava de algo meio prático pra falar sobre. Decidi responder uma TAG que vi no Momentum Saga.
TAG é um tipo de post no qual você descobre minha opinião sobre várias coisas que não mudam nada na sua vida.
Vamos lá.
10) Se você tivesse o poder, qual personagem de qual livro mudaria, ressuscitaria ou faria desaparecer?
Faria desaparecer o Ricardo de Travessuras da menina má porque não teria perdido tempo da minha vida lendo a história patética dele pra um prova da faculdade.
Ressuscitaria a Ana Clara de As meninas e mudaria ela pra uma pessoa melhor que reconhece como a Lorena é uma amiga maravilhosa.
9) Se você tivesse que dividir sua alma em 7 livros, quais seriam?
7) Você já sofreu algum tipo de bullying literário por causa de alguma obra que você gosta?
Jogos Vorazes. Já ouvi "ai mas é livro de criança, não é literatura".
Sobre Sidney Sheldon já ouvi "ai mas é best seller, não tem profundidade".
6) De qual festa ou comemoração que aconteceu nos livros que leu gostaria de ter participado?
O banquete de A festa de Babette. Só de ler a descrição da comida eu já fiquei "me convida!".
E ver aquela galera bêbada cantando e fazendo discurso improvisado seria engraçado.
5) Você considera algum livro da sua coleção um troféu? (Foi difícil conseguir ou foi uma conquista, um presente de alguém muito querido... etc.)
Vários, na verdade. Eu tenho muito apego às edições.
No momento, o que eu tenho mais carinho na minha estante é Ariel, da Sylvia Plath. Eu queria a edição revista e atualizada da Verus. Essa edição traz os poemas organizados da maneira que Plath deixou (as outras edições foram alteradas por seu ex-marido), traz manuscritos originais de alguns poemas, inclusive com correções que a autora fez, e é bilíngue.
Deu trabalho pra conseguir porque em todas as livrarias que eu ia o livro já estava esgotado. No final, consegui pela Amazon e tudo acabou feliz.
4) Qual livro você leu e gostaria de ler novamente?
Ciranda de pedra porque é meu livro favorito. Tá na lista de livros pra reler, mas sempre me enrolo com leituras novas.
3) Qual o seu maior medo no universo literário?
Talvez que livros importantes deixem de ser (re)publicados por não venderem tanto.
2) Você gostaria que seus diários (ou suas memórias - para quem nunca escreveu um diário) fossem transcritos em um livro e publicados?
Não. Quando eu releio meu diários, a sensação é "Como eu sou ridícula, vou queimar tudo isso". Não quero mais gente compartilhando essa sensação comigo.
1) Você já leu algum livro que mudou sua maneira de ver o mundo?
Acho que todas as distopias que li me fizeram enxergar o mundo de maneira diferente. Como 1984, Admirável mundo novo, A revolução dos bichos e Fahrenheit 451.
É isso.
Se você leu até aqui, obrigada por não ter desistido. Agora você sabe coisas inúteis a meu respeito.