sexta-feira, 17 de julho de 2015

Livro 16: A mão esquerda da escuridão, de Ursula K. Le Guin


Sinopse:
"Genly Ai foi enviado a Gethen com a missão de convencer seus governantes a se unirem a uma grande comunidade universal. Ao chegar no planeta Inverno, como é conhecido por aqueles que já vivenciaram seu clima gelado, o experiente emissário sente-se completamente despreparado para a situação que lhe aguardava. Os habitantes de Gethen fazem parte de uma cultura rica e quase medieval, estranhamente bela e mortalmente intrigante. Nessa sociedade complexa, homens e mulheres são um só e nenhum ao mesmo tempo. Os indivíduos não possuem sexo definido e, como resultado, não há qualquer forma de discriminação de gênero, sendo essas as bases da vida do planeta. Mas Genly é humano demais. A menos que consiga superar os preconceitos nele enraizados a respeito dos significados de feminino e masculino, ele corre o risco de destruir tanto sua missão quanto a si mesmo".


Sobre a autora:
"A escritora norte-americana Ursula K. Le Guin é um dos maiores nomes da ficção científica mundial. Seus trabalhos já foram adaptados para a televisão, para o cinema e até mesmo para o universo da animação. Vencedora de mais de 50 prêmios literários, também é poetisa, ensaísta e autora de livros infantis. Além de 'A mão esquerda da escuridão', é conhecida por obras como 'Os despossuídos', o ciclo fantástico 'Terramar' e o infanto-juvenil 'The farthest shore', além de ter sido indicada ao Pulitzer pelo livro de contos 'Searoad'".


Minha opinião:
Li A mão esquerda da escuridão para o clube de leitura #leiamulheres de maio.

(Super recomendo o clube)

Enrolei desde maio pra escrever sobre esse livro por se tratar de ficção científica. Como já disse, eu não conheço muito o gênero e não me sinto segura de discorrer sobre ele. Aqui vou colocar minhas opiniões e algumas visões que ouvi durante o clube.

O livro se passa em um planeta chamado Gethen. O planeta é extremamente frio, tendo sido chamado de Inverno pelos humanos no passado. A frieza permeia toda a narrativa. Seja no jeito dos personagens, nos costumes do planeta ou na narrativa (lenta, quase congelada).

Os habitantes de Gethen não possuem sexo definido. Eles são andróginos na maior parte do tempo. Uma vez por mês, cada habitante entra no chamado kemmer. Durante esse período, o habitante pode assumir tanto a forma feminina quanto a masculina. A mesma pessoa pode assumir as duas formas durante a vida. Também é somente durante esse período que ele sente desejo sexual. O protagonista, Genly Ai (um humano), é chamado de O Pervertido por eles por estar em "kemmer eterno" (eu ri quando li isso).

Eu tive um problema para imaginar os personagens porque a única pessoa andrógina que vem na minha cabeça é o Bill Kaulitz. Chegou uma hora que eu tava imaginando todo mundo como ele.

Bill Kaulitz, vocalista da banda Tokio Hotel
 
Esse não-binarismo dos personagens pode gerar diversas discussões.

A própria questão do gênero é uma delas. Estamos acostumados a separar as pessoas em duas caixas: masculino e feminino. Tanto que a primeira pergunta que alguém faz sobre um bebê que ainda não nasceu é "menino ou menina?". A resposta dessa pergunta vai definir uma série de coisas na vida desse bebê, desde a cor do quarto até o quanto ele (ou ela) vai ser visto como ser humano. Imagina uma sociedade em que não há essa divisão e na qual as pessoas são os dois ao mesmo tempo.

Daí entra a questão do estranhamento e do preconceito. Genly Ai é muito preconceituoso. Ele diminui aqueles habitantes que apresentam características ""femininas"". Apenas um pequeno trecho pra sentir: "Agiam como animais, nesse aspecto; ou como mulheres". Ele é o típico homem da nossa sociedade.

Outra questão é o desejo sexual. Aparece uma teoria de que essa pulsão do desejo sexual, permanente em nós, é o que gera, por exemplo, as guerras. Falando assim, não faz tanto sentido. Tem que ler pra entender. O motivo de não existir grandes conflitos em Gethen seria a inexistência dessa pulsão, uma vez que o desejo sexual só se manifesta uma vez por mês e dura pouco.

A trama de Genly Ai aparece intercalada com histórias da mitologia do planeta (também com alguns relatórios e diários). Essas histórias podem parecer sem muito sentido, mas estão ali pra ajudar a entender a forma de pensamento e a visão daquele povo.

Le Guin cria um verdadeiro mundo. Um mundo que abriga conceitos como shifgrethor e que só fazem sentido no contexto dele. Admiro essa mulher.

A narrativa é lenta e detalhista tanto para nos fazer entrar no clima daquele planeta quanto para detalhar esse mundo diferente. É preciso paciência pra ler esse livro até o fim.

(A partir daqui, spoilers)
Uma pessoa do clube comentou que o livro é uma história de amor entre Genly e Estraven. Acho que é uma interpretação válida.

Genly não gosta de Estraven (vive falando que ele tem características ""femininas"", aff). Até que os dois estão sozinhos em uma barraca no meio do nada. Estraven está no kemmer. Então, Genly percebe que não gosta de Estraven por que ele poderia ser uma mulher. Ou seja, o protagonista se sente atraído por ele.

Estraven manda Genly ficar longe porque está no kemmer.

Por um microssegundo, a gente acha que vai rolar uma pegação intergaláctica bem louca. Não rola.

Mas acho a interpretação válida porque eles têm uma relação muito profunda.

Não vou entrar em maiores detalhes pra não entregar o final do livro. E porque isso depende de uma outra história mitológica que está lá.

O nome do livro vem de um poema presente na supracitada história mitológica.

Luz é a mão esquerda da escuridão
e escuridão, a mão direita da luz.
Dois são um, vida e morte, unidas
como amantes no kemmer,
como mãos entrelaçadas,
como o fim e a jornada.

Coloquei aqui porque eu fiquei esperando, durante toda narrativa, uma mão surgir do além.
(Fim dos spoilers)

Achei um livro muito bom.

Recomendo pra quem curte ficção científica (ou não) e tem paciência pra uma narrativa detalhista e lenta.

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