sexta-feira, 10 de julho de 2015

Maravilhosidades na FLIP 2015


Semana passada, eu estava na FLIP (Festa Literária Internacional de Paraty). Foi a primeira vez que fui e, cara, que dias maravilhosos. No meu mundo ideal, todo dia seria FLIP.

Vou compartilhar aqui essa experiência.

(Preparem-se para um post enorme)

Cheguei lá na quarta. Primeira coisa que me fez dar pulinhos foi ver que a Livraria da Travessa estava vendendo livros ao lado da tenda principal. Como estudante de editoração que sou, já quis logo ver todos os livros e edições. Não rolou.

A quinta começou com uma mesa na Casa da Cultura com o Luiz Ruffato e o João Anzanello Carrascoza com o tema "A origem das histórias". Confesso que fui mais pelo tema do que pelos dois escritores.

Já tinha ouvido falar do Luiz Ruffato por causa de Eles eram muitos cavalos, que tem a temática de São Paulo e tals, mas nada além de "ah, cara legal". Mas, gente, ele é muito legal. Pensa naquela pessoa que só falando já parece literatura. Ele contando as histórias da infância, eu conseguia ver a cena na minha frente. Ele também é muito engraçado.


(Sim, estou ilustrando post com tweets meus. Pra alguma coisa eles têm que servir)

O Carrascoza eu não sabia quem era até ele mostrar seu livro Caderno de um ausente. Aí foi "aaah, ele é o autor desse livro". A propósito, é um livro com um projeto editorial bem interessante.

Carrascoza mostrou dois vídeos de uma coletânea de microcontos que vai lançar com o Itaú Cultural. Cada microconto tem menos de 140 caracteres (uma referência ao twitter). Achei tão legal que vou deixar os dois vídeos aqui.



Depois fui assistir uma mesa sobre a lei do preço fixo do livro. Chego lá e vários caras importantes do mercado editorial. Pra ter noção, os palestrantes eram os presidentes do SNEL (Sindicato Nacional dos Editores de Livro), da CBL (Câmara Brasileira do Livro), da IPA (International Publisher Association) e do BIEF (Escritório Internacional da Edição Francesa).

Eu não sabia quem eram os palestrantes, então tive um momento "noooooossa".

Aí o cara fala com a maior naturalidade: "Tô vendo várias pessoas do mercado editorial aqui. Pedro Herz da Livraria Cultura". E eu pessoa que ainda está na faculdade de editoração super "isso é tão legal!".

Depois era hora de ver minha primeira mesa da programação principal da FLIP. Era "A poesia em 2015". Sendo mais uma vez sincera, eu não conhecia os dois poetas convidados: Matilde Campilho e Mariano Marovatto. Mas fui assistir porque curto poesia.

Gente, como a Matilde Campilho é uma pessoa maravilhosa. Pensa numa pessoa que, quando fala, já parece uma poesia.


Ela foi aplaudida várias vezes no meio da fala.

Vou deixar aqui um vídeo dela declamando Roma amor (um dos poemas de seu livro Jóquei) na mesa.

Antes tem o Mariano lendo poemas de seu livro Casa. Se não quiser ver tudo, pula logo pra Matilde.


O que achei legal também é que Jóquei foi o livro mais vendido da FLIP. Legal por dois motivos:

1) por ser um livro de poesia;
2) por ser um livro escrito por uma mulher.

Teve G1 fazendo notícia escrota.


Mas também teve povo do twitter respondendo.




Uma frase da Matilde que eu gostei muito foi quando ela disse que tá tudo arrebentado seja no mundo, seja na vida das pessoas. A poesia não conserta isso, mas salva o minuto.

À noite teve um sarau com a Elisa Lucinda em uma capela. Tinha 80 senhas pro sentado e 30 pro em pé. As primeiras 80 esgotaram em menos de 10 minutos. Eu fiquei uma hora na fila pra conseguir uma das outras 30.

Foi tanta gente querendo assistir que, no final, decidiram fazer duas sessões.

Eu ainda tive sorte porque consegui um espacinho em um banco. E aconteceu a coisa mais aleatória da vida. Sentei do lado de uma moça da Inglaterra e, conversando, ela pegou o panfleto do evento e mostrou o nome dela. A moça é uma poetisa que veio pra FLIP fazer uma performance poética.

Acho que nunca mais sento do lado e troco ideia com uma poetisa inglesa convidada pra se apresentar na FLIP.

Lucinda se apresentou com um poeta inglês: Lemn Sissay.

Vou deixar um vídeo curto dele declamando caso alguém queira ver.


Elisa Lucinda escreve poesia, canta e é atriz. Quase nada.

Na bienal do ano passado, ela declamou uma poesia sobre uma geladeira. Tipo, a mulher é tão incrível que pode fazer uma poema sobre uma geladeira e todo mundo curtir.


Também vou deixar ela um vídeo dela declamando uma de suas poesias mais conhecidas: Aviso da lua que menstrua.


Isso tudo foi a quinta.


A sexta começou com uma mesa da programação principal: São Paulo! Comoção de minha vida. Era uma mesa pra falar da relação do Mário de Andrade (homenageado dessa edição) com a cidade de São Paulo.

Teve uma pergunta da plateia sobre "o que Mário de Andrade diria sobre os livros de colorir?". Só queria dizer: galera, segurem essa obsessão com os livros de colorir. Deixa o povo lá feliz colorindo.

O que me irritou nessa mesa foi como os caras passaram tempão falando de Oswald de Andrade, Paulo Prado, Carlos Drummond de Andrade e ignoraram Anita Malfatti e Tarsila do Amaral. Quando citaram a Anita foi só pra dizer como Oswald, Mário e Paulo a defenderam das críticas do Monteiro Lobato.

Aí eles foram falar sobre o Ciccillo Matarazzo. Porque ele fez o MAM (Museu de Arte Moderna), o TBC (Teatro Brasileiro de Comédia), a Vera Cruz e criou a Bienal de Arte. Só esqueceram do fato de que ele não fez isso sozinho. Yolanda Penteado tava lá. Quando citaram ela, foi uma coisa "ah, verdade, teve uma ajudazinha dela".

Pensa como eu saí irritada dessa mesa.

Mas logo depois, estava andando pela rua quando vi a Jout Jout. Fui lá fangirlizar e consegui uma foto!


Ela é tão legal!

E o namorado dela é real. Já posso dizer que vi Caio.

(Pra quem não sabe do que eu to falando, pode acessar o canal dela aqui)

Agora preciso fazer um parêntesis para contar uma história.


Parêntesis:

Esse ano a FLIP trouxe o escritor queniano Ngugi Wa Thiong'o. Eu estudei sobre esse homem na faculdade e preciso compartilhar com vocês.

O trecho a seguir é do livro Comunicação e identidade (Luís Mauro Sá Martino):

"Ngugi Wa Thiong'o é um dos mais importantes escritores africanos. Além da literatura, dedica-se a um trabalho de reflexão sobre as condições da língua e da cultura da África a partir de um ponto de vista pós-colonial, e procura compreender em quais condições é possível produzir uma escrita e uma cultura original depois de séculos de domínio estrangeiro. E, em Descolonizing the mind, faz uma análise dos esfeitos do colonialismo sobre a cultura, a mente e o sistema de pensamento das ex-colônias.
O livro, escrito originalmente em inglês, representa o adeus de Wa Thiong'o a esse idioma: a partir daí, só escreveria em sua língua natal, gikuyu, idioma originário do Quênia. Acadêmico reconhecido internacionalmente, com cátedra em escolas europeias e universidades norte-americanas, a decisão de Wa Thiong'o surpreendeu seus colegas e provocou reações contraditórias, da perplexidade à hostilidade declarada. No entanto, como explica no livro, a decisão foi a consequência lógica de sua convicções políticas: qual o sentido de escrever em inglês, língua outorgada pelo colonizador, quando sua língua materna e maneira original de expressão era o gikuyu?"
Por essa decisão de só escrever em gikuyu, Ngugui chegou a ser preso. Além de sua obra passar a ter uma circulação mais restrita. Mas continuou com suas convicções.

Não sei vocês, mas eu achei esse escritor incrível.

Fim do parêntesis.


A mesa "Escrever ao sul", da qual Ngugui participaria, era a que eu mais queria ver na FLIP. Mas os ingressos esgotaram em menos de 24h.

Cheguei antes do horário da mesa e entrei no que eles chamam de fila do último minuto. Caso sobre algum lugar dentro da tenda, você pode conseguir um ingresso.

Quando aconteceu a coisa mais aleatória da vida. Uma moça apareceu, perguntou se eu queria ingresso e me deu os dela DE GRAÇA.


Moça, se um dia ler isso, obrigada por ser tão maravilhosa.

Vou deixar vídeo do Ngugi falando na mesa "Escrever ao sul" sobre seu livro Um grão de trigo.

Antes dele, tem o Richard Flanagan falando sobre O caminho estreito para os confins do Norte.


Isso foi a sexta.


Sábado fui ver uma mesa com David Hare. Continuando a sinceridade, descobri quem ele era apenas na fila pra entrar na tenda.

Para quem não sabe, David Hare é um reconhecido dratamurgo inglês. Ele escreveu o roteiro dos filmes As horas e O leitor.

Fica aqui um trecho da mesa com ele.


Mais tarde, fui pra Casa Rocco para o debate "Ocupação do espaço literário: autores e personagens fora do padrão". Por apenas um motivo: Aline Valek, uma escritora de quem sou fã confessa, estaria lá.

No final, consegui tietar a Aline e tirar uma foto com ela <3


Se hoje eu sou feminista, parte devo aos textos dessa moça.

Aline tem uma newsletter que pode ser assinada de graça aqui. Eu sempre recomendo.

Sobre sua experiência na FLIP e a representação feminina na literatura, Aline escreveu aqui.

No final do dia, consegui ingresso pra outra mesa que eu queria muito ir, mas tinha esgotado em menos de 24h. A mesa "Desperdiçando verso", com a Karina Buhr e o Arnaldo Antunes (que eu achei que fosse o Guilherme Arantes).

Os micão que a pessoa paga

Mas eu estava lá por causa da Karina mesmo, então, dane-se Arnaldo.

Foi uma das mesas mais legais.

Karina canta, escreve, toca e desenha. Tipo, humilha.

Depois da mesa, teve sessão de autógrafo com eles. Fiquei umas duas horas na fila pra Karina assinar meu exemplar de Desperdiçando rima. Não me arrependo.

Ela é super simpática e achou meu nome bonito (pelo menos é o que diz a dedicatória).

Os micão de escrever o nome errado

E fazia um desenho pra cada pessoa junto com a dedicatória.


Trecho da mesa "Desperdiçando verso" aqui embaixo.


Isso foi o sábado.


No domingo, meu dia começou com coisa aleatória. Conversando com um senhor, ele perguntou se eu queria um exemplar do livro dele. E assim eu ganhei um exemplar de A representação do escritor em O Resto é Silêncio de Erico Verissimo.

Assisti uma mesa sobre literatura policial com a Sophie Hannah e o Leonardo Padura. Depois, entrei na fila pra eles assinarem meus livros.

Quando chegou minha vez, falei pro Padura que ele era muito fofinho. Ele me olhou com cara de ??? e só respondeu "Gracias". Sim, não tenho nenhum comentário literário mó legal pra fazer pro cara.

Pra Sophie, falei "Miga, cê é destruidora". Ela "Thank you".

Depois desse momento interagir com autores, fiquei uma hora e meia do lado do camarim esperando o Ngugi Wa Thiong'o aparecer para a última mesa e pedir pra ele assinar meu livro.

Falei que tinha estudado sobre ele, que tinha mó admiração e o negócio todo. Ele respondeu com "Thank you". Quase BFFs a gente.

Ainda tirei uma foto dele com duas meninas que estavam trabalhando no evento.

E o mais importante: consegui a assinatura.

Prova de que eu consegui

Pra encerrar, assisti a tradicional mesa "Livro de cabeceira", que encerra a FLIP todos os anos. Nela, cada autor lê um trecho de um livro que levaria pra uma ilha deserta.

Achei legal que o Richard Flanagan (autor australiano) leu um conto do Guimarães Rosa: A terceira margem do rio.

Também achei simbólico a Ayelet Waldman ler um trecho de Um teto todo seu, da Virginia Woolf, em uma FLIP que foi criticada por trazer poucas autoras mulheres. 





Sem falar que em 13 edições a FLIP só homenageou uma mulher: Clarice Lispector.

Por isso, urrei um pouco quando Ayelet começou a ler.

E isso foi o domingo.


Saldo de livros da FLIP


1) Sonhos em tempo de guerra, de Ngugi Wa Thiong'o
3) Jóquei, de Matilde Campilho
4) Hibisco roxo, de Chimamanda Ngozi Adichie
5) A vítima perfeita, de Sophie Hannah
6) O rabo da serpente, de Leonardo Padura
7) Agora aqui ninguém precisa de si, de Arnaldo Antunes
8) Desperdiçando rima, de Karina Buhr
9) Um grão de trigo, de Ngugi Wa Thiong'o


Resumindo: foi muito legal. Melhor coisa do ano até agora.

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