sábado, 31 de janeiro de 2015

O dia em que decidi doar meus livros

        Essa semana, eu decidi doar livros. A maioria são obras que li na adolescência e dificilmente lerei de novo. Ao invés de deixá-las paradas na estante ocupando espaço de futuros livros, achei melhor dar a oportunidade de outras pessoas lerem essas histórias.
        Não foi fácil. Se tem algo que eu amo fortemente nesse mundo, são meus livros. Nível catalogar e organizar na estante por ordem alfabética de sobrenome de autor.
        Só que eu senti que era hora de me desapegar desses títulos. Não só para abrir espaço. Eu olhei para aquela estante e parte dela não me representava mais. Aquela parte foi de outra Lídia. Ou melhor, de outras Lídias. Da menininha de 10 anos que não conseguiu dormir por causa do Monstro da escuridão e decidiu escrever um livro após ler O livro invisível. Da garota de 13 anos que lia as histórias da Malu (da série Fala sério!) e ficava imaginando se ter 15 anos ou mais era como nos livros. Não é.
        Tinha também a que lia Garotas da rua Beacon com as três melhores amigas, pensando como tinha amigas tão incríveis como as da Charlotte (ali aprendi que amizade é o poder).
        Não posso esquecer a Lídia de 14 anos fã eterna de Nicholas Sparks. Essa chorava toda vez que alguém revelava doença terminal e demorou pra superar a cena dos biscoitos de A última música.
        Todas elas estão dentro de mim, mas não me representam mais. Hoje, a pessoa que eu sou discorda da visão de boa parte desses livros. Por isso, sinto que é hora de esvaziar esse pedaço da estante e preencher com livros que representam os interesses da Lídia de hoje.
        Agora, uma série que hesitei em doar até o último minuto foi Poderosa. Eu achava um porre ouvir coisas do tipo "ai, mas você é canhota?" ou "que estranho o jeito que você escreve". Então apareceu Joana Dalva. Uma menina canhota que tudo que escreve vira realidade. Urrei lendo cada um dos cinco livros. E fiquei desolada quando o autor morreu sem terminar a série. Esse livro me ensinou que, até nas mais pequenas coisas, representatividade importa.

        No final, só desisti de doar a série Amanhã. Não é a melhor série que já li e os livros possuem diversas falhas, admito. Mas decidi ficar com eles por motivos de Ellie. Ela não é uma mocinha romântica ou uma heroína quase inumana.
        Pelo contrário, ela é extremamente humana. Não faz ideia de como lidar com a situação (porque voltar de um feriado e dar de cara com uma guerra é super normal), acaba fazendo um monte de merda e tem muitos defeitos.
        Ao mesmo tempo, Ellie encontra em si uma coragem que desconhecia. Para sobreviver, ela arquiteta planos, luta com soldados, mata alguns quando necessário e explode coisas.
        Então, sim, a série é flopada. Mas Ellie não. Ela é tipo a Katniss da minha adolescência.
        O primeiro livro inspirou um filme ruim (que pode ser visto aqui).

        Enfim, tenho 35 títulos a menos na prateleira e uma dorzinha no coração. Hora de comprar novos livros.

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