Caminhos da Floresta, no geral, é um bom filme. Eu, que curto musicais, gostei bastante. Christine Baranski reforça minha sensação de que ela está em todos os musicais já produzidos (até vendo Cabaret fico com a sensação de que vou encontrar ela em algum canto do Kit Kat Klub). Meryl Streep está divosa como sempre. Ela interpreta as melhores músicas. Sem falar que a Bruxa é, de longe, a melhor personagem do filme. Como não amar alguém que olha pra cara de nada dos protagonistas e canta:
"You're so nice,
You're not good,
You're not bad,
You're just nice".
O maior problema do filme está naquela sequência da esposa do gigante em busca de vingança. Dá a sensação de um pedaço desnecessário e sem propósito. Ainda mais em partes como a morte da mãe do João. Em uma cena, ela bate a cabeça, mas tá viva falando com a Emily Blunt. Na seguinte, o padeiro (em um momento bem propício) fala: "Ih, João, mals aê. Sua mãe morreu". Eu li que essa parte é o segundo ato da peça e ficou sem sentido porque mutilaram até (pra ter um noção, três músicas foram cortadas).
Só vale pela cena de Last Midnight (música cujo trecho supracitei) com Meryl Streep sambando na cara dos personagens enquanto joga a real.
Agora, o que mais me incomodou foi o final da personagem de Emily Blunt. Ela morre de um jeito tão aleatório e mal anunciado que nem dá pra sentir nada. A morte dela me fez perceber sua verdadeira função na trama. Blunt está ali para servir de escada na jornada do marido.
O padeiro recebe o nome de sua função. Emily Blunt não é a padeira (apesar de ajudar o personagem de James Corden a produzir e vender o pão). Ela é a esposa do padeiro. Sua função é ser a esposa. Na primeira parte do filme, ela sempre aparece para ajudá-lo a conseguir os quatro objetos. Enquanto o personagem de Corden evolui (como aparece na música It takes two), Blunt continua apenas como a esposa amorosa que o ajuda. Aqui ainda vai porque reverter o feitiço também é do interesse dela. É depois que a coisa amarga.
Na segunda parte, o feitiço já está desfeito. O problema agora é a gigante. Procurando João, a esposa do padeiro encontra o príncipe e eles se beijam. É o único momento que ela questiona seu papel (durante a música Moments in the woods), ainda assim motivada por um homem. E morre.
A morte da esposa é o grande conflito do padeiro, pois ele deve decidir se vai agir como o pai ou não. Ele decide não abandonar o filho e sua evolução, bem como sua jornada, finaliza.
A personagem de Emily Blunt só estava ali para auxiliar a jornada do padeiro. A ponto de morrer para que ele possa concretizá-la. Isso me faz pensar: até quando personagens femininas serão criadas para servir de muleta para protagonistas masculinos?
Ainda que eu tenho gostado do filme como um todo, essa conclusão o deixou com um gosto amargo no fim.
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