Sinopse (do site da Cosac Naify):
"Em seu segundo livro, a gaúcha Angélica Freitas reúne 35 poemas marcados por uma visão crítica extremamente original, animada por um humor que deixa o leitor em suspenso entre a seriedade e o riso. Os versos precisos revelam o domínio da poeta sobre a linguagem.
Um útero é do tamanho de um punho tem a mulher como centro temático: procurando definir que figura feminina é essa que nossa cultura trate de desenhar e que se desconstrói incessantemente, a autora questiona de um lado o mundo, de outro a própria identidade.
Angélica Freitas estabelece uma relação sutil entre os poemas, de modo que sua voz se torna mais contundente ao longo da leitura. Depois de Rilke shake (2007), a poeta mostra amadurecimento e se destaca como uma das vozes mais vigorosas da poesia brasileira contemporânea".
"Nasceu em 8 de abril de 1973, em Pelotas, Rio Grande do Sul. Estudou jornalismo em Porto Alegre, na UFRGS. Trabalhou como repórter no O Estado de S. Paulo e na revista Informática Hoje, em São Paulo. Atualmente dedica-se à tradução de poesia e ao segundo livro , com pequenos poemas de viagem pela Bolívia. Publicou em diversas revistas como Inimigo Rumor, Diário de Poesía (Argentina) e aguasfurtadas (Portugal). Integra a coletânea Cuatro poetas recientes de Brasil (Buenos Aires, 2006). Rilke shake é seu primeiro livro e está na lista dos 51 títulos que foram aprovados pela comissão do Prêmio Portugal Telecom 2008".
(A ideia original era escrever sobre Rilke shake, primeiro livro da autora, que li esse ano. Entretanto, eu gostei tanto de um útero é do tamanho de um punho, segundo livro da mesma, que decidi escrever sobre ele)
(vídeo daqui)
Eu li um útero é do tamanho de um punho no final de 2014. Li em uma tacada só. Cada poema me deixava com vontade de ler o que Angélica Freitas reservava na próxima página. Usando a ironia e o humor, a poeta versa sobre a mulher. Ou melhor, sobre as mulheres. A mulher ideal que é "diferente das mulheres". A de vermelho. A de respeito. A suja e a limpa. E tantas outras que enchem as páginas do livro.
Os poemas conseguiram de maneira simples dar voz a diversos pensamentos que eu não conseguia expressar. Por exemplo, a distinção entre mulher limpa e mulher suja, que é exatamente a separação que a sociedade faz. "Mulher de respeito" mostra em dois versos a vigilância sobre a vida íntima feminina enquanto "mulher de vermelho" (em mais versos) o faz com o modo de vestir e agir.
Meu poema favorito - que eu acho que resume a discussão presente no livro - é "A mulher é uma construção". É o que eu deixo aqui:
"a mulher é uma construção
deve ser
a mulher basicamente é pra ser
um conjunto habitacional
tudo igual
tudo rebocado
só muda a cor
particularmente sou uma mulher
de tijolos à vista
nas reuniões sociais tendo a ser
a mais mal vestida
digo que sou jornalista
(a mulher é uma construção
com buracos demais
vaza
a revista nova é o ministério
dos assuntos cloacais
perdão
não se fala em merda na revista nova)
você é mulher
e se de repente acorda binária e azul
e passa o dia ligando e desligando a luz?
(você gosta de ser brasileira?
de se chamar virginia woolf?)
a mulher é uma construção
maquiagem é camuflagem
toda mulher tem um amigo gay
como é bom ter amigos
todos os amigos têm um amigo gay
que tem uma mulher
que o chama de fred astaire
neste ponto, já é tarde
as psicólogas do café freud
se olham e sorriem
nada vai mudar -
nada nunca vai mudar -
a mulher é uma construção"
(vídeo daqui)
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