sexta-feira, 22 de maio de 2015

8 personagens femininas que eu curto

A representação ficcional das mulheres ainda tem que melhorar muito. Mas felizmente sempre aparecem algumas personagens femininas maravilhosas para quebrar estereótipo ou mostrar que mulheres são seres humanos e não simples objetos decorativos. Decidi listar algumas personagens que eu curto e considero maravilhosas de alguma forma. Vamos lá.

Virgínia foi interpretada por Tammy di Calafiori na adaptação (ruim) de 2006 de Ciranda de pedra

1) Virgínia
Ciranda de pedra, escrito por Lygia Fagundes Telles (amo/sou), é meu livro favorito do momento. Virgínia é a protagonista desse livro que a acompanha desde a infância até a idade adulta. Em diversas passagens, Virgínia me representa muito. As incertezas de crescer, a dificuldade de encontrar um espaço na ciranda, a paixonite platônica, a sensação de mudar e continuar sendo a mesma.

O que eu gosto em Virgínia é a maneira como ela é humana. Há momentos que o leitor sente pena e simpatia por ela. Em outros, pensa "que ser humano horrível". Não somos todos assim? Algumas vezes bons, outras não.

É uma personagem sem maniqueísmo, nem boa nem ruim, apenas tentando sobreviver a esse caos chamado vida. Se em um momento sobreviver significa manipular, ela vai manipular. E nós descobrimos ao longo do livro que até o mais santo dos personagens faz a mesma coisa, porque somos todos humanos.

(A partir daqui, spoilers!)
Depois de fazer umas merdas, Virgínia percebe que não precisa de um lugar naquela ciranda e se encontra. Percebe também que não precisa do amor de Conrado, sua paixonite de toda vida, para ser completa. A conclusão dela é a de que só precisa de si mesma. Como não amar um livro que a protagonista conclui isso?

Não significa que no final ela resolve todos seus problemas. Afinal, viver é lidar com nossas próprias questões. Ela parte para ter novas perguntas para se responder uma vez que encontrara as respostas sobre a ciranda.

Vou deixar aqui minha passagem favorita (sem spoilers):

"Chegara a pensar que Otávia estava certa, devia ser fácil desfazer-se também das sucessivas Virgínias nas quais se desdobrara desde a infância, desfazer-se da menininha, principalmente da menininha de unhas roídas, andando na ponta dos pés. Agarrar-se só ao presente, nua de lembranças como se acabasse de nascer. Via agora que jamais poderia se libertar das suas antigas faces, impossível negá-las porque tinha qualquer coisa de comum que permanecia no fundo de cada uma delas, qualquer coisas que era como uma misteriosa unidade ligando umas às outras, sucessivamente, até chegar à face atual".







2) Makoto Kino (Sailor Júpiter)
Sailor Moon como um todo é ouro puro. Tem (muita) sororidade e meninas salvando o mundo. Mas vou focar em uma personagem

Makoto Kino, chamada na versão brasileira de Lita, é minha sailor favorita. Ela é mais alta do que a maioria das meninas da sua idade, curte cozinhar e tem mil paixonites platônicas (incluindo Haruka) ao longo da história. Agora pensa na mini Lídia que era mais alta até que os garotos da sala, achava cozinhar mó legal e, super romântica, tinha mil paixonites platônicas na escola vendo essa personagem. Foi puro amor.


Além disso, Makoto é muito boa em esportes e sabe lutar caratê. O legal dessa personagem é isso: ela curte coisas domésticas como cozinhar e cuidar de uma casa, mas também ama esportes e lutar. Uma menina pode gostar das duas coisas, nada é excludente. Sem falar que ela com certeza é a sailor que mais entendeu o significado de sororidade.







3) Matilda
Quem nunca viu Matilda na Sessão da Tarde que atire a primeira pedra. Se você é do grupo que pode atirar a pedra, sai agora desse blog e vai assistir. Ainda dá tempo de salvar sua infância.

Matilda é essa garotinha fofa que adora ler e descobre ter um super poder: mover as coisas com o pensamento.



Ela tem uma família doida e estuda em uma escola com uma diretora mais doida ainda. Entretanto, tem a professora legal que a ajuda e que deixou uma mensagem para várias crianças com famílias problemáticas:

"Você nasceu em uma família que nem sempre curte você. Mas um dia, as coisas serão diferentes"

Matilda encontra conforto nos livros e foi uma personagem que me inspirou a ler cada vez mais.

"Esses livros deram a Matilda uma esperançosa e reconfortante mensagem: você não está sozinha"

Também gastei um tempo considerável de infância na frente de uma colher tentando fazer com que ela se mexesse pelo poder da mente.


Um filme para crianças sobre lidar com família problemática e a importância da leitura. Como não amar?

(Sério, quem não assistiu pode ir agora)






4) Katie
Quem nunca fez uma merda que gostaria de poder consertar? Katie, a protagonista da HQ Seconds, tem essa oportunidade após encontrar cogumelos mágicos em sua casa. Ela apenas precisa escrever o que gostaria de mudar, comer um cogumelo e ir dormir. No dia seguinte, está tudo mudado.

Entretanto, na tentativa de consertar seus erros, ela acaba piorando a situação. E cada vez que a situação piora, ela tenta consertar de novo com os cogumelos e piora mais ainda, formando uma enorme bola de neve. Mas o uso dos cogumelos tem consequências sérias que não vou contar quais são.

Katie de certa forma representa todas nós naquele momento no qual fazemos uma burrada tão grande que acabamos no chão do quarto olhando pro teto e pensando "Aff fui trouxa".





5) Cosima
Eu estou irremediavelmente viciada em Orphan Black e até pretendo escrever sobre a série depois.

Minha clone favorita é Cosima. Ela é uma cientista super inteligente. Em uma sociedade como a nossa em que as mulheres são desencorajadas a seguir carreiras científicas e enfrentam muito preconceito quando decidem seguir por essa área, é um bálsamo ver uma personagem cientista manjadora. 

Ela também quebra vários estereótipos e tem algumas das melhores falas.

Tipo quando querem implantar células-tronco de outra personagem em Cosima para ela ficar curada, mas isso ia gerar altas tretas. Cosima bate o pé e fala "É o meu corpo!", o resumo de meu corpo, minhas regras. 

"Esse é o meu laboratório, meu corpo. Eu sou a ciência. Sai daqui!"

Ou quando outra personagem pergunta se ela é gay e ela responde com "Minha sexualidade não é a coisa mais interessante sobre mim", 

"Minha sexualidade não é a coisa mais interessante sobre mim"

Uma dica de vida: assista Orphan Black.






6) Ifemelu
Ifemelu é a protagonista do livro Americanah, da diva Chimamanda Ngozi Adichie. É difícil traçar uma história para esse livro. Acompanhamos Ifemelu em vários momentos de sua vida: a adolescência na Nigéria, os anos nos Estados Unidos e a volta para seu país de origem.

O legal de Ifemelu é o quanto ela é humana. Uma personagem que faz várias merdas como qualquer uma de nós faria. Mesmo quando ela já é uma blogueira famosa, tem uns momentos "não faço ideia do que estou fazendooo". E que coisa mais humana do que ser considerada alguém que manja de um assunto e não se sentir tão manjadora? Ainda assim, ela vai lá, faz várias palestras e samba na cara da hipocrisia racial americana em seu blog.

Outra dica de vida: leia Americanah (escrevi melhor sobre o livro aqui).






7) Mulan
Praticamente todas as princesas Disney marcaram minha infância. Ariel, Bela e Pocahontas sempre terão um lugar especial no coração ainda que haja problemas em suas histórias. Hoje, porém, vou destacar Mulan.

Por que Mulan é diva?

Ela quebra o estereótipo de boa moça que vai arrumar um marido e ser feliz cuidando dele e dos filhos, mostra que pode ser tão boa quanto qualquer soldado homem, tem altas ideias estratégicas (como vestir os amigos de mulher para entrar no palácio ou usar o leque pra desarmar o huno que não lembro o nome) e salva a China.

O filme zoa o ideal de masculinidade também.


Além disso, tem o Mushu.

"Desonra pra tu! Desonra pra tua vaca!"

Mulan é um ótimo exemplo para as meninas de você pode ser incrível e pode não seguir o que os outros esperam de você.





Sally foi interpretada por Liza Minelli na versão cinematográfica de Cabaret

8) Sally Bowles
Uma mulher dona do próprio corpo, que possui personalidade e opiniões fortes e faz o que bem entende é muitas vezes tachada de louca histérica. Pode ser a reação que muitos têm ao ver Sally: "Aff que louca". A questão é que ela ta pouco se lixando que pensem isso e vai continuar sendo do jeito que é.


Sabe aquele ideal de mulher de verdade doce, recatada, imaculada? Sally sapateia em cima e diz "não preciso disso, meu amor". Todas somos de verdade, só pra ficar claro.

Então pra fechar esse post, vou deixar Sally cantando Cabaret. Aproveitem.


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