sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Livro 4: Americanah, de Chimamanda Ngozi Adichie


Sinopse (do site da Companhia das Letras):
"Lagos, anos 1990. Enquanto Ifemelu e Obinze vivem o idílio do primeiro amor, a Nigéria enfrenta tempos sombrios sob um governo militar. Em busca de alternativas às universidades nacionais, paralisadas por sucessivas greves, a jovem Ifemelu muda-se para os Estados Unidos. Ao mesmo tempo que se destaca no meio acadêmico, ela depara pela primeira vez com a questão racial e com as agruras da vida de imigrante, mulher e negra. 

Quinze anos mais tarde, Ifemelu é uma blogueira aclamada nos Estados Unidos, mas o tempo e o sucesso não atenuaram o apego à sua terra natal, tampouco anularam sua ligação com Obinze. Quando ela volta para a Nigéria, terá de encontrar seu lugar num país muito diferente do que deixou e na vida de seu companheiro de adolescência. 

Principal autora nigeriana de sua geração e uma das mais destacadas da cena literária internacional, Chimamanda Ngozi Adichie parte de uma história de amor para debater questões prementes e universais como imigração, preconceito racial e desigualdade de gênero. Bem-humorado, sagaz e implacável, 'Americanah' é, além de seu romance mais arrebatador, um épico contemporâneo".

Sobre a autora:
"Chimamanda Ngozi Adichie nasceu em Enugu, na Nigéria, em 1977. É autora dos romances 'Meio sol amarelo' (2008) - vencedor do Orange Prize, adaptado para o cinema em 2013 - e 'Hibisco roxo' (2011), ambos publicados no Brasil pela Companhia das Letras. Assina ainda uma coleção de contos, 'The Thing Around Your Neck' (2009). Sua obra foi traduzida para mais de trinta línguas e apareceu em inúmeros periódicos, como as revistas New Yorker e Granta. Depois de ter recebido uma bolsa da MacArthur Foundation, Chimamanda vive entre a Nigéria e os Estados Unidos. Sua célebre conferência no TED [que deu origem ao e-book, disponível de forma gratuita, Sejamos todos feministas] já teve mais de 1 milhão de visualizações". Um trecho de seu discurso nessa conferência foi incluída na música Flawless de Beyoncé.

Minha opinião:
Tenho procurado ler cada vez mais textos sobre racismo escritos por negros. Por um motivo bem óbvio (ainda que algumas pessoas pareçam não entender): eles sofrem na pele. Acredito que ler o que eles têm a dizer seja o primeiro passo para criar empatia e desconstruir ideias, que geram atitudes, racistas arraigadas em mim. Calar minha boca privilegiada e ouvir essas pessoas que sofrem discriminação diariamente está me permitindo ver o mundo além de minha cegueira branca (conhecida por alguns como "Ai, mas racismo não existe mais. Tudo vitimismo e baixa autoestima").

Se algum leitor quiser fazer o mesmo e fugir da cegueira, sugiro, para começar, as Blogueiras Negras e os textos da Djamila Ribeiro no Escritório Feminista.

Americanah entrou no meu projeto de leitura dentro dessa proposta. O livro conta a história de Ifemelu e Obinze. Os dois se apaixonam na época do colégio e namoram durante alguns anos. Até que problemas em seu país, a Nigéria, os levam a seguir por caminhos diferentes.

(os próximos parágrafos podem conter spoilers leves)
Devido às infindáveis greves das universidades nigerianas, Ifemelu vai para os Estados Unidos e passa por maus bocados lá. Desde a dificuldade de arrumar emprego até ter que lidar com patrões racistas. Mais tarde, ela inicia um blog sobre questões raciais. Ali é a oportunidade para Chimamanda utilizar toda sua ironia para tratar de uma América que não quer ser negra e oculta de forma velada (ou nem tanto) parte de sua população. Esse fato também se estende a outras etnias, como os chamados hispânicos, que não se enquadram no modelo WASP. Ao mesmo tempo, esse país busca uma imagem de pátria preocupada em promover a integração. Como pontuado na passagem:
"O propósito de workshops sobre diversidade ou palestras multiculturais não era inspirar nenhuma mudança real, mas fazer com que as pessoas se sentissem bem consigo mesmas. Elas não queriam o conteúdo de suas ideias; queriam apenas o simbolismo de sua presença. Não tinham lido seu blog, apenas ouvido falar que ela era uma 'blogueira famosa' que escrevia sobre questões raciais. Assim, ao longo das semanas seguintes, conforme Ifemelu foi dando mais palestras em empresas e escolas, começou a dizer o que eles queriam ouvir, sendo que jamais escreveria nada daquilo em seu blog, pois sabia que as pessoas que o liam não eram as mesmas que iam a workshops sobre diversidade. Durante suas palestras, Ifemelu dizia: 'Os Estados Unidos já progrediram muito e devemos nos orgulhar disso'. Em seu blog, escrevia: O racismo nunca deveria ter acontecido, então você não ganha um doce por ele ter diminuído".

O interessante desse livro é a maneira como essas críticas se estendem a outros países que condenam parte de seu povo à invisibilidade. Inclusive, o nosso.

Além dessas questões que a trama suscita (sempre com humor e ironia), a narrativa de Chimamanda é extremamente dinâmica e conta com frases como "se alguém examinasse suas mãos, talvez encontrasse o sangue de seus inimigos debaixo de suas unhas". Um livro que usa a expressão "sangue de seus inimigos" tem potencial.

Se nada disso te convenceu ainda a ler, vou deixar mais algumas informações (que tirei também do site da Companhia) aqui:
"Vencedor do National Book Critics Circle Award.
Eleito um dos 10 melhores livros do ano pela NYT Book Review.
Há mais de 6 meses nas listas de best-sellers.
Direitos para cinema comprados por Lupita Nyong’o, vencedora do Oscar de melhor atriz coadjuvante por Doze anos de escravidão".


(só queria dizer que domingo é meu aniversário e não estou recusando livros do meu Projeto de Leitura 2015)

sábado, 21 de fevereiro de 2015

E a minha torcida no Oscar 2015 vai para...

Amanhã é o Oscar. Tentei assistir todos os filmes, mas não deu. Dos que estão concorrendo só a melhor canção, ouvi apenas as canções. Tangerines ainda não estreou (nem tem data para isso) e encontrar filmes estrangeiros (no caso do Oscar, leia-se não-americanos) é mais difícil. O conto da princesa Kaguya só estreia em maio e não encontrei. Também não consegui os documentários.

O motivo de eu querer tanto assistir todos antes da cerimônia é porque gosto de torcer. Por isso, vou comentar para quem estou torcendo (você pode conferir a lista de indicados aqui).

Melhor filme - Birdman
Eu sei que Boyhood provavelmente vai ganhar. Não acho ruim. Gostei do filme e Linklater passou 12 anos gravando.
Vou torcer por Birdman, pois esse filme me deixou sem fôlego com seus planos-sequência sem pausas e sua crítica ao mundo das celebridades. Fora o elenco incrível.

Melhor diretor - Iñarritu
Os planos-sequência sem pausas dão toda a dinâmica do filme. Iñarritu merece.
Ainda assim, acho que vai para Linklater. Não julgo. 12 anos gravando e tal.
Ah, notaram que mais um ano sem uma mulher indicada? Cadê Ava Duvernay nessa categoria? Isso me lembra quando alguém perguntou "E se a categoria de melhor atriz/ator não fosse divida por gênero? Quantas mulheres indicadas vocês acham que teríamos?".

Melhor atriz - Julianne Moore
Marion Cotillard estava esplêndida em Dois dias, uma noite. Ela é a força motriz do filme. Eu ia torcer por ela, mas lembrei que Marion já tem uma estatueta por Piaf.
Enquanto isso, Julianne Moore possui uma carreira longa e sólida, mas nunca ganhou o prêmio. Então, Julianne, minha torcida vai para você.

Melhor ator - Eddie Redmayne
Pode me chamar de clichê, mas a transformação do ator ao longo do filme é impressionante. Quase não percebi que era o Marius de Os miseráveis.
Uma pergunta: cadê David Oyelowo nessa categoria?

Melhor atriz coadjuvante
Não consegui decidir.
Meryl Streep está divosa, mas já tem três estatuetas. Vamos dar chance a outras atrizes.
Amo Keira Knightley e sua personagem em O Jogo da Imitação é uma criptógrafa muito inteligente que dá uns tapas na cara do machismo. Ainda assim, o filme sofre do "princípio da Smurfette" e chega um momento que Keira está ali apenas como contraponto romântico do protagonista.
Emma Stone está muito bem em Birdman. Destaque para a cena que ela joga um monte de verdades na cara do pai.
Patricia Arquette está muito tocante em Boyhood e acredito que vai levar o prêmio.

Melhor ator coadjuvante - J.K. Simmons
Não tenho o que dizer, apenas sentir. Fletcher é aquele personagem que dá vontade de dar uns tapas para ver se deixa de ser escroto. Ao mesmo tempo, ele é tão incrível que dá vontade de pedir um autógrafo enquanto peço perdão pela minha existência.

Melhor filme estrangeiro - Relatos Selvagens
Só assisti Relatos Selvagens e Ida. Dos dois, minha torcida fica com Relatos.

Melhor canção - Glory
Dois motivos: 1) a música é boa; 2) compensar um pouco a injustiça que Selma sofreu.

Agora que tal darmos uma olhada geral no atores indicados:


O que falta? Isso mesmo, diversidade. Todos os indicados são brancos. No ano de um filme que trata justamente da discriminação racial, como Selma, os membros da Academia deviam sentir vergonha de não indicar nenhum ator negro. Aliás, Selma é o filme mais injustiçado desse Oscar. Está concorrendo a melhor filme, mas ninguém do elenco (protagonista ou coadjuvante) foi indicado. De novo: cadê David Oyolowo nessa categoria? A diretora Ava DuVernay também não foi indicada, o que lembra que a premiação ignora tanto negros quanto mulheres.

Esse ano, não há um filme protagonizado por uma mulher concorrendo a melhor filme (aí o Jornal da Globo decidiu fazer uma matéria - até que boa - sobre isso e deu a pauta para um homem). Não há tampouco diretoras ou roteiristas (Gillian Flyn, cadê?) concorrendo.

Essa imagem resumiu para mim a quantidade de homens indicados em relação à de mulheres.
Ainda tem Sniper Americano, problemático ao retratar o povo do Oriente Médio como "selvagens" e os americanos como heróis.

Oscar, amigo, melhore ano que vem.


sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Livro 3: um útero é do tamanho de um punho, de Angélica Freitas


Sinopse (do site da Cosac Naify):
"Em seu segundo livro, a gaúcha Angélica Freitas reúne 35 poemas marcados por uma visão crítica extremamente original, animada por um humor que deixa o leitor em suspenso entre a seriedade e o riso. Os versos precisos revelam o domínio da poeta sobre a linguagem.

Um útero é do tamanho de um punho tem a mulher como centro temático: procurando definir que figura feminina é essa que nossa cultura trate de desenhar e que se desconstrói incessantemente, a autora questiona de um lado o mundo, de outro a própria identidade.

Angélica Freitas estabelece uma relação sutil entre os poemas, de modo que sua voz se torna mais contundente ao longo da leitura. Depois de Rilke shake (2007), a poeta mostra amadurecimento e se destaca como uma das vozes mais vigorosas da poesia brasileira contemporânea".

"Nasceu em 8 de abril de 1973, em Pelotas, Rio Grande do Sul. Estudou jornalismo em Porto Alegre, na UFRGS. Trabalhou como repórter no O Estado de S. Paulo e na revista Informática Hoje, em São Paulo. Atualmente dedica-se à tradução de poesia e ao segundo livro , com pequenos poemas de viagem pela Bolívia. Publicou em diversas revistas como Inimigo Rumor, Diário de Poesía (Argentina) e aguasfurtadas (Portugal). Integra a coletânea Cuatro poetas recientes de Brasil (Buenos Aires, 2006). Rilke shake é seu primeiro livro e está na lista dos 51 títulos que foram aprovados pela comissão do Prêmio Portugal Telecom 2008".

Minha opinião:
(A ideia original era escrever sobre Rilke shake, primeiro livro da autora, que li esse ano. Entretanto, eu gostei tanto de um útero é do tamanho de um punho, segundo livro da mesma, que decidi escrever sobre ele)

(vídeo daqui)

Eu li um útero é do tamanho de um punho no final de 2014. Li em uma tacada só. Cada poema me deixava com vontade de ler o que Angélica Freitas reservava na próxima página. Usando a ironia e o humor, a poeta versa sobre a mulher. Ou melhor, sobre as mulheres. A mulher ideal que é "diferente das mulheres". A de vermelho. A de respeito. A suja e a limpa. E tantas outras que enchem as páginas do livro.
Os poemas conseguiram de maneira simples dar voz a diversos pensamentos que eu não conseguia expressar. Por exemplo, a distinção entre mulher limpa e mulher suja, que é exatamente a separação que a sociedade faz. "Mulher de respeito" mostra em dois versos a vigilância sobre a vida íntima feminina enquanto "mulher de vermelho" (em mais versos) o faz com o modo de vestir e agir.
Meu poema favorito - que eu acho que resume a discussão presente no livro - é "A mulher é uma construção". É o que eu deixo aqui:

"a mulher é uma construção
deve ser

a mulher basicamente é pra ser
um conjunto habitacional
tudo igual
tudo rebocado
só muda a cor

particularmente sou uma mulher
de tijolos à vista
nas reuniões sociais tendo a ser
a mais mal vestida

digo que sou jornalista

(a mulher é uma construção
com buracos demais

vaza

a revista nova é o ministério
dos assuntos cloacais
perdão
não se fala em merda na revista nova)

você é mulher
e se de repente acorda binária e azul
e passa o dia ligando e desligando a luz?
(você gosta de ser brasileira?
de se chamar virginia woolf?)

a mulher é uma construção
maquiagem é camuflagem

toda mulher tem um amigo gay
como é bom ter amigos

todos os amigos têm um amigo gay
que tem uma mulher
que o chama de fred astaire

neste ponto, já é tarde
as psicólogas do café freud
se olham e sorriem

nada vai mudar -

nada nunca vai mudar -

a mulher é uma construção"

(vídeo daqui)


sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Livro 2: A redoma de vidro, de Sylvia Plath



Sinopse (do site da Globo Livros)
"Dos subúrbios de Boston para uma prestigiosa universidade para moças. Do campus para um estágio em Nova York. O mundo parecia estar se abrindo para Esther Greenwood, entre o trabalho na redação de uma revista feminina e uma intensa vida social. No entanto, um verão aparentemente promissor é o gatilho da crise que levaria a jovem do glamour da Madison Avenue a uma clínica psiquiátrica".

Sobre a autora:
"Sylvia Plath (1932-1963) nasceu em Boston, Massachusetts, EUA. Formou-se na Smith College, em 1955, e continuou seus estudos na Universidade de Cambridge, na Inglaterra. Sua obra abrange contos, poemas e seu único romance, A redoma de vidro. A força de sua poesia foi amplamente reconhecida pela crítica mesmo após o suicídio da escritora, em 1963. Em 1982, a poeta foi agraciada com o Prêmio Pulitzer póstumo pela antologia The Collected Poems".

Minha opinião:
A redoma de vidro foi, pra mim, um soco surdo no estômago cuja dor só se sente após terminar o livro. Durante a leitura, tudo fica inerte. Insípido. Como se visse de dentro da redoma de Esther.

"Um sonho ruim.  
Para a pessoa dentro da redoma de vidro, vazia e imóvel como um bebê morto, o mundo inteiro é um sonho ruim". (página 266)

Esse é o maior mérito da obra: colocar o leitor dentro da redoma. Sylvia Plath fez com que eu terminasse o livro me sentindo tão vazia quanto a protagonista.

Ao final da leitura, a redoma some e as emoções voltam. Aí é possível sentir todo o inferno mental pelo qual Esther passou. De certa forma, sentir junto com ela:

"Eu lembrava de tudo.  
Lembrava dos cadáveres e de Doreen e da história da figueira e do diamante de Marco e do marinheiro no Common Park e da enfermeira vesga e dos termômetros quebrados e do negro com dois tipos de feijão e dos nove quilos que ganhei graças à insulina e da rocha que se erguia entre o céu e o mar como uma caveira cinzenta. 
Talvez o esquecimento, como uma nevasca suave, pudesse entorpecer e esconder aquilo tudo. 
Mas aquilo tudo era parte de mim. Era a minha paisagem". (página 266)

Quanto ao gênero, esse é um romance de formação. Isso está bem explicado nesse texto da revista Capitolina.

Eu ainda estou formando minha opinião sobre essa obra (estou relendo o livro para isso). Então no lugar de estender esse texto com impressões que ainda não consolidei, vou deixar o link para a excelente resenha do Indique um Livro (The Bell Jar, como aparece na resenha, é o título original).

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Sobre Caminhos da Floresta



(Aviso: spoilers do filme Caminhos da Floresta. Se você pretende assistir e não quer saber o final, não leia!)

Caminhos da Floresta, no geral, é um bom filme. Eu, que curto musicais, gostei bastante. Christine Baranski reforça minha sensação de que ela está em todos os musicais já produzidos (até vendo Cabaret fico com a sensação de que vou encontrar ela em algum canto do Kit Kat Klub). Meryl Streep está divosa como sempre. Ela interpreta as melhores músicas. Sem falar que a Bruxa é, de longe, a melhor personagem do filme. Como não amar alguém que olha pra cara de nada dos protagonistas e canta:

"You're so nice,
You're not good,
You're not bad,
You're just nice".


O maior problema do filme está naquela sequência da esposa do gigante em busca de vingança. Dá a sensação de um pedaço desnecessário e sem propósito. Ainda mais em partes como a morte da mãe do João. Em uma cena, ela bate a cabeça, mas tá viva falando com a Emily Blunt. Na seguinte, o padeiro (em um momento bem propício) fala: "Ih, João, mals aê. Sua mãe morreu". Eu li que essa parte é o segundo ato da peça e ficou sem sentido porque mutilaram até (pra ter um noção, três músicas foram cortadas).

Só vale pela cena de Last Midnight (música cujo trecho supracitei) com Meryl Streep sambando na cara dos personagens enquanto joga a real.

Agora, o que mais me incomodou foi o final da personagem de Emily Blunt. Ela morre de um jeito tão aleatório e mal anunciado que nem dá pra sentir nada. A morte dela me fez perceber sua verdadeira função na trama. Blunt está ali para servir de escada na jornada do marido.

O padeiro recebe o nome de sua função. Emily Blunt não é a padeira (apesar de ajudar o personagem de James Corden a produzir e vender o pão). Ela é a esposa do padeiro. Sua função é ser a esposa. Na primeira parte do filme, ela sempre aparece para ajudá-lo a conseguir os quatro objetos. Enquanto o personagem de Corden evolui (como aparece na música It takes two), Blunt continua apenas como a esposa amorosa que o ajuda. Aqui ainda vai porque reverter o feitiço também é do interesse dela. É depois que a coisa amarga.

Na segunda parte, o feitiço já está desfeito. O problema agora é a gigante. Procurando João, a esposa do padeiro encontra o príncipe e eles se beijam. É o único momento que ela questiona seu papel (durante a música Moments in the woods), ainda assim motivada por um homem. E morre.

A morte da esposa é o grande conflito do padeiro, pois ele deve decidir se vai agir como o pai ou não. Ele decide não abandonar o filho e sua evolução, bem como sua jornada, finaliza.

A personagem de Emily Blunt só estava ali para auxiliar a jornada do padeiro. A ponto de morrer para que ele possa concretizá-la. Isso me faz pensar: até quando personagens femininas serão criadas para servir de muleta para protagonistas masculinos?

Ainda que eu tenho gostado do filme como um todo, essa conclusão o deixou com um gosto amargo no fim.